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Ecstasy cura trauma, dizem pesquisadores

O MDMA, princípio ativo do ecstasy, pode ser a cura para o estresse pós-traumático.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 3 nov 2015, 13h15

As pesquisas científicas sobre o uso de MDMA, princípio ativo do ecstasy, para curar estresse pós-traumático ainda estão no começo. Mas o potencial está se revelando gigantesco. As histórias já registradas impressionam.

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Pegue por exemplo o caso da americana Rachel Hope, hoje com 43 anos. Vítima de seguidos abusos sexuais aos 4 anos, atropelada por um caminhão aos 11, Rachel desenvolveu um caso extremo de estresse-pós-traumático. Sua vida era um pesadelo. Por três décadas, ela viveu atormentada por uma sensação constante de que iria morrer a qualquer segundo: um pânico permanente, ininterrupto. Como resultado, seu organismo focava apenas na sobrevivência imediata e todo o resto funcionava mal. Nenhum machucado cicatrizava, seu sono era interrompido a noite toda aos berros, seus relacionamentos eram impossíveis, sua digestão não funcionava, o que impunha humilhações a cada evacuação e a privava de nutrientes. “Acho surpreendente eu não ter morrido”, disse ela, numa entrevista.

Por 20 anos, ela se tratou com dezenas de médicos, e a uma certa altura tomava 15 remédios psiquiátricos diferentes. Nenhum deles faziam o pânico ir embora. Eles apenas mantinham os sintomas mais ou menos sob controle, ao custo de uma infinidade de efeitos colaterais gravíssimos e de uma mente permanentemente nublada.

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Até que, dez anos atrás, Rachel participou do primeiro teste científico sobre o potencial terapêutico do MDMA realizado no mundo desde que a droga foi proibida, nos anos 1980. Num ambiente tranquilo e controlado, ela tomou uma pílula branca e, sob o efeito dela, participou de uma grande seção de psicoterapia, que durou quase 8 horas. Quando o efeito passou, quase todos os seus sintomas haviam sumido. Nos meses seguintes, ela participou de mais duas seções iguais. Ao final da terceira, passou por um exame e o médico comunicou-lhe que ela não tinha mais estresse pós-traumático. Estava curada. “Como assim?”, disse ela, na entrevista reproduzida abaixo (em inglês). “De repente, em apenas oito horas, acabou?” A sensação que Rachel tem é que sua vida começou naquele momento.

O estudo do qual Rachel participou envolveu 20 pacientes que sofriam da doença havia muito tempo e já tinham tentado vários medicamentos e terapias, sem sucesso. O resultado, segundo a prestigiosa revista Nature, foi “espetacular”. Nada menos que 83% dos pacientes apresentaram grande melhora ou se curaram. Todos relataram algum progresso, nenhum sofreu efeitos colaterais indesejáveis. Os pesquisadores continuaram acompanhando os pacientes por anos e confirmaram que os bons resultados duraram, sem inconvenientes. Nenhum outro remédio no mercado chega nem perto dessa performance – e todos os outros precisam ser consumidos pela vida toda, enquanto o MDMA pode desencadear melhoras permanentes.

O sucesso é atribuído ao fato de que o MDMA deixa a pessoa num estado tranquilo, leve, e assim permite que o terapeuta aborde as querstões traumáticas que a estão perturbando. Sem ele, seria insuportável lembrar, poderia levar a pessoa ao pânico e assim reforçar ainda mais o trauma, num ciclo vicioso que para muita gente não tem saída.

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Esse estudo só aconteceu graças a uma organização não-governamental chamada Maps (sigla em inglês de Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos), financiada exclusivamente por doadores. Isso porque as universidade tradicionais dificilmente fazem pesquisa com substâncias ilegais, e financiamento governamental é praticamente impossível.

Depois desse primeiro estudo, a Maps seguiu pesquisando. Está agora testando a substância em grupos pequenos nos Estados Unidos, Canadá, Suíça e Israel – e, embora nada ainda dessa segunda leva tenha sido publicado, os resultados impressionantes estão se repetindo. Ano que vem, o plano é expandir para outros países, inclusive o Brasil, onde se pretende financiar uma pesquisa com quatro pacientes usando crowdfunding. Em 2017, a Maps pretende fazer um grande estudo internacional, com centenas de pacientes em vários países do mundo, inclusive o Brasil. Será a última etapa antes de aprovar a terapia com MDMA para o público, o que pode acontecer em 2021.

“É importante lembrar que a substância só funciona quando acompanhada de um processo terapêutico”, diz o neurocientista Eduardo Schenberg, que dirige a organização brasileira que pretende realizar o estudo. “Não adianta tomar ecstasy numa rave e achar que assim você vai reduzir sua ansiedade.” Até porque muito daquilo que se vende como ecstasy no mercado negro não contém MDMA algum.

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Os resultados promissores da terapia com MDMA para tratar estresse pós-traumático acendem a esperança de que a substância ajude também em casos de fobia e ansiedade,  distúrbios psiquiátricos muito comuns e difíceis de tratar. As pesquisas com MDMA acontecem num contexto em que várias substâncias que foram proibidas por décadas, inclusive maconha, LSD, ayahuasca e psilocibina, o princípio ativo do cogumelo alucionógeno, subitamente estão revelando grandes promessas terapêuticas. Todas elas tiveram suas pesquisas virtualmente proibidas por muitos anos e foram redescobertas apenas recentemente, graças a uma mudança de mentalidade no meio científico.

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