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Entregamos a Copa?

O que aconteceu com Ronaldo em 98? Uma mala de dinheiro garantiu Garrincha na final de 62? Havelange vendeu a seleção para se eleger? Os mistérios do mundo do futebol

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h13 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

Alexandre Petillo e Olacir Dias

Se há uma conspiração capaz de arregimentar um número incrível de crentes é a de que o Brasil entregou a Copa do Mundo de 1998 – para ganhar a de 2002? Talvez? O fato é que o mundo futebolístico foi tomado de surpresa quando, pouco antes da final entre Brasil e França, no dia 12 de julho, foi divulgada a notícia de que o craque Ronaldo não iria jogar. Logo depois circulou a informação de que, cinco horas antes da partida, o “Fenômeno” teria sofrido uma convulsão. Por isso, o reserva Edmundo jogaria no seu lugar. No último instante, Ronaldo foi escalado e a seleção do Brasil, talvez assustada com toda a confusão, entrou irreconhecível em campo. A França enfiou 3 a 0, com extrema facilidade, e conquistou a Copa.

Ronaldo teria sido escalado na subida do vestiário para o gramado. O capitão Dunga bateu o pé e exigiu que a seleção não fosse modificada novamente em cima da hora e que Edmundo jogasse. Zagallo explicou a Ronaldo que já havia mudado a tática da equipe e também que, àquela altura, a imprensa já tinha recebido a folha de escalação. O ex-goleiro Gilmar Rinaldi, observador da seleção em 1998, contou o fato ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que imediatamente ordenou que, se Ronaldo estivesse bem, deveria jogar. E assim foi feito. Ronaldo jogou, ou melhor, fez volume em campo durante os 90 minutos.

No Brasil, logo correu o boato de que a CBF e a Nike (patrocinadora da seleção) tinham vendido o jogo. Uma suspeita compreensível. A seleção perdera com facilidade nunca vista. Apesar de a França contar com bons jogadores, como Zinedine Zidane, o elenco brasileiro era superior. No embalo, surgiu todo tipo de teoria conspiratória. Boatos diziam que o contrato entre a Nike e a CBF estipulava que Ronaldo tinha de disputar todos os jogos do certame. A Nike teria forçado sua escalação, abalando o resto do time e causado a derrota.

Outro boato da época dizia que o Brasil tinha entregado o título para, em troca, sediar uma das próximas Copas. Outra tese, absurda, dizia que Ronaldo havia sido envenenado pelo cozinheiro francês da concentração. A história oficial atesta que a convulsão foi provocada por uma injeção de xilocaína (um analgésico) no joelho de Ronaldo e que a decisão de escalá-lo foi exclusiva do técnico Zagallo.

Mas todas essas suspeitas só surgiram porque o futebol virou um negócio milionário, atraindo investidores poderosos – e toda sorte de interesses. Para o jornalista inglês David A. Yallop, autor do livro Como Eles Roubaram o Jogo, o culpado pela transformação do futebol em negócio tem nome e sobrenome: João Havelange, o brasileiro que comandou o futebol mundial por 24 anos. No livro, Yallop expõe vários argumentos que colocam em xeque a lisura dos resultados de alguns jogos decisivos da Copa do Mundo. Mostra também como as conspirações e os interesses comerciais tomaram conta do esporte mais popular do planeta. Conspirações que, segundo Yallop, aumentaram sobretudo com a eleição de Havelange à presidência da Fifa, 1974, quando venceu o inglês Stanley Rous numa eleição marcada por denúncias de compra de votos. A seguir, algumas histórias suspeitas citadas no livro de Yallop.

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O CA MANÉ

“Garrincha ser expulso de campo por agredir um adversário parecia tão absurdo quanto São Francisco de Assis disputar um concurso de tiros aos pombos ou Branca de Neve ser apedrejada por discriminar anões. Mas foi o que aconteceu pelas semifinais da Copa de 62, durante Brasil e Chile.” Assim o escritor Ruy Castro, no livro Estrela Solitária, Um Brasileiro Chamado Garrincha, descreve a personalidade dócil de Mané Garrincha. Mas, naquele jogo, Mané não agüentou as botinadas do zagueiro chileno Eladio Rojas e revidou, dando um pequeno tostão nas nádegas do adversário. O bandeirinha uruguaio Esteban Marino achou aquele ato de Garrincha uma agressão despropositada e o denunciou ao juiz peruano Arturo Yamazaki, que expulsou o brasileiro. Embora não estivesse prevista a suspensão automática, os membros da comissão disciplinar da Fifa iriam se reunir no dia seguinte para julgar o caso, com base no relatório do árbitro. Pelo estardalhaço feito pela imprensa chilena, Garrincha fatalmente ficaria fora da final.

Imediatamente, os brasileiros e, principalmente, João Havelange, então presidente da Confederação Brasileira dos Desportos (CBD), começaram a tramar para que Garrincha jogasse a final da Copa, pois o Brasil já estava desfalcado de Pelé, que se contundira no início da competição. Segundo os conspirólogos, antes da reunião que decidiria a questão disciplinar, chegou ao Chile, vindo do Rio de janeiro, uma valise cheia de dinheiro. O presidente do Peru, Manuel Prado y Ugarteche, atendendo a pedidos de políticos brasileiros, pediu ao árbitro peruano que não acusasse Garrincha na súmula. O bandeirinha Esteban Marino, por sua vez, tomou um chá de sumiço. Resultado: Yamazaki escreveu na súmula que não vira a agressão de Garrincha, e o craque foi liberado para jogar a final contra os tchecos. E o Brasil voltou do Chile com a taça de bicampeão do mundo.

COPA DE 78

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A Copa do Mundo de 1978, na Argentina, aconteceu logo depois de o país sofrer um golpe militar. Os hermanos precisavam ganhar a Copa de qualquer maneira, para melhorar sua imagem no exterior, abalada por causa da ditadura. Além disso, o futebol era a válvula de escape para que o povo esquecesse os assassinatos e desaparecimentos dos que se opunham ao governo do general Jorge Videla. A comissão organizadora da Copa era encabeçada pelo general Carlos Omar Actis, uma figura respeitada em seu país. O mesmo não se podia dizer do vice-presidente da comissão, o capitão Carlos Lacoste, um homem ambicioso que queria construir novos estádios e adotar o sistema de transmissão de TV em cores.

O general Actis sabia que o país não podia arcar com as idéias megalômanas de Lacoste. Mas, a caminho de uma entrevista coletiva, em que explicaria seus planos para a Copa de 78, Actis foi assassinado. Lacoste então foi nomeado presidente da comissão organizadora e fez o que queria. Construiu três novos estádios e, para a alegria dos patrocinadores, a transmissão dos jogos para o resto do mundo foi feita em cores.

No campo, a Argentina mostrou que não estava com essa bola toda. Nas semifinais, os anfitriões caíram num grupo difícil, com Brasil, Polônia e Peru. Brasileiros e argentinos estavam empatados em número de pontos. Só uma das seleções chegaria à final. Na última rodada dessa fase, o Brasil jogaria contra a Polônia, enquanto a Argentina enfrentaria o Peru. Espertamente, Lacoste marcou o jogo dos brasileiros para tarde e o dos argentinos para a noite. Assim, os hermanos entrariam em campo já sabendo do resultado que precisariam para disputar a final.

O Brasil cumpriu seu papel e bateu a Polônia por 3 x 1. A Argentina teria que vencer o Peru por no mínimo quatro gols de diferença. Não seria uma tarefa fácil, já que, na fase de classificação, o time peruano havia terminado seu grupo em primeiro lugar. Segundo os conspirólogos, a ordem para que o resultado fosse manipulado partiu do general Videla e foi prontamente atendida por Lacoste. O fato é que os peruanos entraram em campo com quatro reservas inexperientes, um zagueiro escalado no ataque e o goleiro argentino naturalizado peruano (!).

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O resultado não poderia ser outro: a Argentina meteu 6 x 0 no Peru e eliminou o Brasil no saldo de gols. Na final, derrotou a Holanda por 3 X 1 e conquistou seu primeiro título mundial. Lacoste, por sua vez, tornou-se vice-presidente da Fifa e amigo de Havelange.

MARADONA

Depois de encantar o mundo em 1986, liderando os argentinos no bicampeonato mundial no México, e também decepcionar muitos fãs em 1991, ao ser pego no exame antidoping por uso de cocaína, Maradona foi anistiado pela Fifa e começou a preparar-se para a Copa dos Estados Unidos, em 1994. Submeteu-se a uma rigorosa dieta e renasceu do inferno. Logo no primeiro jogo, ele mostrou a que veio: comandou os argentinos na goleada de 4 x 0 sobre os gregos. Contra os nigerianos, novo show de Maradona: 2 x 1 para a Argentina, e o mundo começou a temer os hermanos. Mas, no exame antidoping, foi detectada em sua urina uma substância chamada efedrina, medicamento usado para redução de peso e que atua também como estimulante. Maradona jurou inocência, mas pegou uma suspensão de 15 meses. Sua carreira tinha chegado ao fim.

E mais uma tese conspiratória veio à tona. Uma das versões diz que a Fifa queria que o astro argentino jogasse na Copa dos Estados Unidos para atrair público. Por essa razão, a entidade havia prometido a Maradona imunidade nos testes de presença de drogas. O jogador então se esforçou para perder peso e chegou em forma à Copa. Porém, poucos acreditavam que ele conseguisse voltar a jogar tão bem como antes. A Fifa entrou em pânico. Afinal, Maradona só tinha que participar da Copa, não precisava vencê-la. E deu no que deu: o craque foi flagrado no exame antidoping e, sem o seu melhor jogador, a seleção argentina perdeu suas duas partidas seguintes, para a Bulgária e a Romênia. O resto é história. Sem um adversário à altura, o apenas razoável time do Brasil abriu caminho até a final contra a Itália. E aí foi só correr para o abraço.

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É tetra! É tetra!

Eu acredito!

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“Não concordo basicamente com duas coisas do livro Como Eles Roubaram o Jogo, do David Yallop. Uma, técnica: ele chupou uma matéria da Playboy brasileira sobre o Havelange, sem citar a fonte e o autor, Roberto José Pereira. E tem uma visão sobre a corrupção no futebol que exime os ingleses, o que é uma bobagem. O que ele conta é verdade, muitas artimanhas realmente aconteceram, mas é parcial em relação aos seus conterrâneos. Infelizmente, o processo eleitoral continua na mesma. Compram-se votos sem a menor cerimônia. E o poder está nas mãos desses homens que, como gostam de dizer em seu estatuto, estão lá ‘para o bem do jogo’, mesmo que, para isso, tenham que roubá-lo primeiro.”

Juca Kfouri é jornalista

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