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Filtro Solar: Salvando a pele

Uma pequena película incolor é a musa do verão no mundo dos cosméticos: o filtro solar, a arma mais eficaz para uma boa temporada na praia

Por Gisela Heymann
Atualizado em 26 dez 2016, 22h12 - Publicado em 31 dez 1988, 22h00

Munidas do tradicional equipamento (esteira, guarda-sol, toalha e bronzeador), multidões de banhistas cumprem, neste começo de ano, o prazeroso dever de todo santo verão” bronzear a pele. O objetivo da maioria é se queimar no menor tempo possível e assim exibir, praticamente de um dia para o outro, o tom moreno que se tornou um dos mais valorizados sinais exteriores de saúde e beleza da atualidade, Não raro, porém, o máximo que esses incautos conseguem é um vermelho-camarão nada atraente, cercado de bolhas e manchas às vezes incuráveis. Essa verdadeira adoração ao sol foi proposta já na década de 20 pela famosa estilista francesa Coco Chanel. Na época, porém, as damas recusaram a novidade, preferindo manter-se sob a proteção de sombrinhas, chapéus e até luvas.

A moda ainda era conservar a pele o mais alva possível — se não por informações sobre os perigos do sol, ao menos pela força do hábito. A tradição, nesse sentido, funcionava como um eficiente filtro solar. Foi apenas a partir de 1936, quando os trabalhadores franceses conquistaram a semana de 40 horas e as férias remuneradas, que os europeus começaram a ir em massa para a praia, de preferência a ensolarada costa do mar Mediterrâneo. Depois da Segunda Guerra, o novo hábito propagou-se pelos quatro cantos do mundo. Levou tempo até os cientistas perceberem que isso tinha a ver com outro fenômeno: o gradativo inchaço das estatísticas sobre incidência de câncer da pele em todos os países.

Hoje não há mais dúvida: “É preciso perder a mania de achar que pele bronzeada é sinal de saúde”. adverte o dermatologista Mario Grimblat, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. “A exposição exagerada ao sol é extremamente perigosa.” Ao contrário do que se poderia pensar, toda a traquitanda que as pessoas levam à praia não é suficiente para proteger o organismo dos danos causados pelo excesso de radiação. Esconder-se sob uma barraca, por exemplo, não quer dizer estar livre de queimaduras, porque os raios responsáveis por elas, além de invisíveis, podem ser emitidos de três maneiras: irradiação direta; reflexão por partículas em suspensão no ar; ou ainda reflexão pelo solo ( a areia, por ser clara, emana 17 por cento da radiação recebida).

Da mesma forma, besuntar o corpo com um óleo qualquer não significa obter um visto de permanência sob a radiação. É essencial que o produto contenha um ou mais filtros solares — substância que, se usada corretamente, age como uma barreira, esta, sim, eficaz, contra o Sol. Essa estrela, distante 149 milhões de quilômetros da Terra, é a sede de reações termonucleares que transformam 564 milhões de toneladas de hidrogênio em 560 toneladas de hélio por segundo. Os 4 milhões de toneladas que sobram produzem uma irradiação eletromagnética que se espalha através do espaço em todas as direções.

Ela é formada por uma série contínua de raios de diferentes comprimentos de ondas, que vão dos raios cósmicos às ondas radioelétricas. Apenas uma pequena parte desse espectro é visível; corresponde aos raios que medem de 400 a 800 nanômetros ( um nanômetro é a bilionésima parte do metro). Acima da fração visível situam-se os raios infravermelhos, responsáveis pelo calor, e abaixo dela, os ultravioletas, que, apesar de constituírem apenas 10 por cento de toda a radiação que chega ao planeta, são os mais perigosos à saúde humana. Esta faixa é ainda dividida em três zonas: UVA (ultravioleta longos, de 320 a 400 nanômetros), UVB (ultravioleta médios, de 280 a 320 nanômetros) e UVC (ultravioleta curtos, de 180 a 280 nanômetros).

Estes últimos são retidos a cerca de 11 quilômetros acima da superfície terrestre, numa faixa de 30 mil metros de espessura, pela ameaçada camada de ozônio. Caso os UVC chegassem ao solo, acabariam com qualquer tipo de vida, pois, exercendo uma arrasadora ação germicida, destruiriam a cadeia ecológica da qual todos fazem parte. Sentado em sua cadeira reclinável, entre uma olhadela no jornal e um gole de limonada, o corajoso banhista não percebe os efeitos dos ultravioleta, responsáveis pelo escurecimento da pele e também por sua irritação. Mesmo à sombra, os UVB, que são mais energéticos, atingem as camadas mais superficiais da derme, causando uma dilatação dos capilares sanguíneos e, por isso, a chamada vermelhidão.

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Já os UVA, menos energéticos, chegam até as camadas mais profundas e estimulam a produção da melanina, substância que causa o bronzeamento. No entanto, muito próximas à melanina, encontram-se também as fibras de elastina e colágeno, que sustentam a pele — uma vez atingidas, essas proteínas perdem a rigidez e provocam o envelhecimento precoce. O trajeto percorrido pela irradiação direta — aquela que não é refletida nem pelo ar, nem pelo solo — altera a intensidade dos raios ultravioleta. Desta forma, quanto menor a distância entre o Sol e a Terra, mais rica a irradiação em UVB. Por isso, ficar se tostando entre as 10 horas da manhã e as 3 horas da tarde não é propriamente uma atitude inteligente.

“Mesmo logo cedo ou no final da tarde”, adverte o dr. Grimblat, “o certo é usar filtro solar.” Essa eficiente arma química não nasceu ontem: foi desenvolvida nos Estados Unidos na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial. Preocupados com a mortandade causada por queimaduras nas tropas do Pacífico, os militares americanos encomendaram aos pesquisadores uma substância capaz de proteger os soldados do sol escaldante da região. Os filtros solares químicos, como foram chamados, são todos sintéticos. Não há nenhum mistério envolvido em sua fabricação e adição em uma série de cosméticos.

Defendem a estrutura e as funções celulares da pele ao absorver e espalhar os raios que nela incidem. Isso porque suas moléculas possuem um ciclo benzeno, ou anel aromático, isto é, seis átomos de carbono unidos em forma de anel. Essa estrutura molecular caracteriza-se por conter uma grande quantidade de elétrons instáveis, como se estivessem buscando uma reação química para se rearranjarem. “Quando parte da radiação solar incide sobre o filtro, rearruma os elétrons”, explica Lisabeth Braun, que leciona no curso de pós-graduação de Dermatologia da Santa Casa, no Rio de Janeiro. “Outra parte dos raios é refletida pelo próprio filtro. Assim, só cerca de 10 por cento deles chegam a atingir a pele.”

Modificadas, as moléculas perdem parte de seu poder de ação. Logo, quanto maior a quantidade de filtro aplicada sobre a pele, maior o seu fator de proteção, porque mais radiação será consumida na tarefa de rearranjar os elétrons do filtro. “As pessoas passam muito pouco protetor, como se fosse um escudo blindado”, critica Lisabeth. Na verdade, o filtro deve ser espalhado generosamente e também várias vezes no período de exposição ao sol, principalmente depois de mergulhos e atividades que aumentam a transpiração. Além disso, deve-se escolher o índice de proteção mais adequado para cada tonalidade de pele. O fator de proteção solar (FPS) é indicado por números.

No Brasil, onde o uso de filtros nas fórmulas dos bronzeadores passou a ser obrigatória em 1983, o máximo FPS encontrado em produtos industrializados é 15. Isso quer dizer que uma pessoa que passa adequadamente o filtro pode ficar exposta ao sol 15 vezes mais tempo do que poderia ficar sem nenhuma proteção. O tempo que alguém pode permanecer desprotegido varia. O limite, segundo os dermatologistas, é dado pelo aparecimento de sintomas de irritação. Nos Estados Unidos, os produtos podem chegar ao FPS 33. Naturalmente, quanto mais clara a cor da pele, maior será o fator de proteção necessário.

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Eliane Brenner, também professora de Dermatologia na Santa Casa carioca, lembra ainda que existem vários tipos de filtros solares: “Alguns barram a ação dos UVA, outros dos UVB, e ainda outros protegem contra as duas radiações; o ideal é usar um bronzeador que contenha os dois filtros e, por isso, ofereça proteção completa”. Felizmente, proteção completa não significa bloquear de todo a passagem dos raios solares, pois eles também são fundamentais à saúde do organismo ao estimular, por exemplo, a produção de vitamina D. O uso dos filtros solares não está restrito aos bronzeadores. Produtos que prometem defender os cabelos das agressões típicas do verão, como o ressecamento provocado pelo sol, atuam exatamente da mesma forma: assim como os novos bastões para os lábios e os cremes específicos para a região próxima dos olhos, que por ser mais fina é também mais sensível.

“O que muda é só o veículo”, explica Eliane. “O filtro pode estar dentro de um creme, loção, gel ou pomada, dependendo da região do corpo onde deve ser aplicado — a proteção será semelhante em todos os casos.” Apesar da popularidade mundial dos filtros solares, os cientistas continuam a pesquisar substâncias que ofereçam o menor risco de alergia possível.

Atualmente, o produto mais usado chama-se ácido paraminobenzóico (Paba), que é o derivado do benzeno que melhor utiliza as características do anel aromático no filtro solar. Seu uso, porém, pode eventualmente irritar a pele de quem for alérgico à penicilina, ao ácido acetilsalicílico ou a outros medicamentos de estrutura molecular semelhante. Mesmo com riscos, não há quem negue a importância dessas armaduras químicas. Tanto que, em cidades de verão prolongado, como o Rio de Janeiro, os médicos recomendam seu uso diário, mesmo fora da praia. Para os que insistem em ver o verão passar estirados na areia, o filtro é, sem dúvida, um item absolutamente essencial. Se ele não estiver na bagagem do banhista, este provavelmente acabará se parecendo com o moreno cor de jambo que gostaria de parecer – e esse ainda será o menor dos riscos a que estará exposto.

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