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Guia de contenção de riscos para as festas de fim de ano

O melhor é adiar as festas. Mas, se você já decidiu que vai comemorar em grupo, segue aqui um manual para diminuir os riscos.

Por Pedro Burgos
Atualizado em 18 dez 2020, 08h46 - Publicado em 17 dez 2020, 12h38

A vacina não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”. E está próxima. Mais um motivo para segurar a bronca e manter as precauções que você conhece. Mas há uma pedra no meio do caminho: as festas e viagens de fim de ano.

Num mundo ideal, elas não aconteceriam. Ficariam para depois da vacina. Mas vivemos no mundo real. E sabemos que boa parte das pessoas não vai abrir mão das reuniões de família no Natal, e de amigos na semana seguinte. Nada recomendável, mas compreensível.

Nesse contexto, faz sentido falar num assunto que geralmente fica restrito ao universo das drogas: a redução de danos. Na saúde pública em geral, isso significa trocar drogas pesadas por drogas mais leves quando a abstinência é algo fora do horizonte. No contexto da pandemia, seria mais ou menos o seguinte: se algum festejo de fim de ano será inevitável, que aconteça da forma menos arriscada possível. 

Então seguem aqui algumas dicas práticas, tiradas de experiências de países que estão vencendo a pandemia sem parar tudo, como Japão e Taiwan.

Para as festas de fim de ano: se sua família é grande e costuma fazer uma megaconfraternização, aproveite o grupo de WhatsApp para convencer todo mundo a realizar reuniões menores, se possível apenas com os núcleos imediatos de pais e filhos. Se forem pais e filhos que moram sob o mesmo teto, melhor. A ceia fica mais próxima do natural – com abraços e todo mundo comendo à mesa –, sem grandes preparações.

Quanto mais núcleos familiares distintos em um mesmo ambiente, maiores os cuidados. Não é uma boa ideia reunir mais de dez pessoas – algo até ilegal em alguns Estados, como São Paulo. Se for para juntar gente, prefira fazer a ceia do lado de fora da casa ou em uma laje – e por não mais que duas horas.

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Mesmo com as pessoas relativamente próximas, uma boa ventilação reduzirá significativamente a possibilidade de contaminação. Se a festa tiver de acontecer em um ambiente interno, mantenha janelas abertas, máscaras enquanto não se come e, na hora da ceia, peça para as pessoas se espalharem pelo ambiente, em vez de compartilhar a mesa.

Cá entre nós, ficar meio distante, com máscara e por menos tempo, não parece algo muito atraente para a festa de fim de ano. Para driblar isso e tentar usar as limitações em seu favor, uma alternativa é bancar o Papai Noel. Experimente, em vez de dar uma festança, visitar algumas pequenas festas e ficar do lado de fora, de máscara, por poucos minutos. Distribua os seus presentes, troque sorrisos.

O segredo para correr menos riscos é, no fim das contas, se expor o mínimo possível a pessoas que você não sabe por onde andaram. Pode soar estranho, mas até segunda ordem você deve tratar o primo que encontra na passagem de ano como qualquer colega de trabalho ou caixa de supermercado: com máscara, cumprimentar com soquinho, etc.

Da mesma forma, vale ficar próximo só de pessoas que estão tomando as mesmas precauções que você. Em alguns países, como Reino Unido e Austrália, esse hábito foi até encorajado, e virou código de normas sanitárias: mesmo no auge da pandemia, era possível sair de casa e visitar amigos ou parentes (sem máscara inclusive) desde que essas escapadas fossem circunscritas a uma ou duas bolhas. Em uma pesquisa do New York Times com 7 mil epidemiologistas, 62% deles disseram ter recentemente passeado ao ar livre com amigos, enquanto só 12% fizeram refeições na parte interna de restaurantes. Logo, a combinação bolha de relacionamento + atividade onde o ar circula bem é a menos arriscada.

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Seguindo essa lógica, se você quer ter uma experiência de viagem ou festas mais próxima do normal – sem máscaras, comida e bebida à vontade e abraços –, é preciso ter um “pacto de exposição mínima” pré-encontro.

Isso vale especialmente para as viagens de férias. Se for dividir o mesmo ambiente com algumas poucas pessoas por uma semana numa casa alugada, por exemplo, combine com todo mundo que, nos dez dias que antecederem ao encontro (ou viagem), todos vão fazer um teste RT-PCR; caso dê negativo, entrar em quarentena para valer até o dia da viagem. E só viajar de fato se não apresentar quaisquer sintomas de Covid – febre, tosse seca, dores no corpo, falta de olfato ou paladar.

Mas de nada adianta um isolamento preventivo se a viagem em si for com aglomeração. Viaje de carro, se possível. Se pegar avião, prefira voos curtos, em que não são servidas refeições. Mantenha-se de máscara ao longo do trajeto.

Falando nela, aliás, substitua aquelas que você tem aí com elástico frouxo, caindo do nariz. Considere também as máscaras cirúrgicas descartáveis, vendidas na farmácia. São mais caras, só que mais confortáveis, e protegem mais.

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Em uma pesquisa com 7 mil epidemiologistas, só 12% comeram na parte interna de restaurantes.

Voltando à viagem: chegando ao destino, é importante manter a lógica de basicamente não se relacionar com pessoas de fora da sua bolha de fim de ano. A popular farofa é encorajada, já que é bem menos arriscado levar um isopor e comer sanduíches e bebidas na praia ao redor dos companheiros de viagem do que dentro de um restaurante cheio com ar-condicionado.O tempo todo é importante ficar de olho em sinais de que você pode estar com a doença. Se observá-los, adiante a volta.

Seguindo essas precauções, dá para minimizar os riscos e não contribuir para o agravamento da pandemia. A emergência da segunda onda mostrou que não podemos fingir que a transmissão acabou, voltar à vida normal e achar que vai dar tudo certo. Isso vale especialmente para jovens, que, por sofrerem na média menos com a doença, tomaram menos precauções e contribuem desproporcionalmente com o aumento no contágio. Ao mesmo tempo, nessa nova leva de casos, estamos mais cientes dos cuidados necessários. Vários países parecem ter passado pelo pior momento da segunda onda adotando estratégias um pouco mais relaxadas que da primeira vez.

Não seria bom, por fim, se você terminasse este texto achando que está tudo bem. Que bastam alguns cuidados e tudo certo. Não. Mesmo com tudo o que dissemos aqui, há risco de convalescência e de morte – principalmente para idosos e portadores de comorbidades, como diabetes e hipertensão. Este artigo é uma conversa entre adultos, sem qualquer ambição de apontar o certo. Estamos falando sobre mitigação de riscos, não sobre eliminação total de riscos.

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E, como somos adultos, também vale lembrar de outro ponto. O dia da vacinação está realmente perto – em alguns casos, pode ser uma questão de semanas. Diante disso, fazer a heresia de remarcar as festas de fim de ano para depois da vacina não soa mais como algo absurdo. Pode ser doído, triste, uma quebra de tradição. Mas talvez essa seja a posição mais adulta.

Pedro Burgos é jornalista e professor do Insper.

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