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Infestação global: percevejos viajam na roupa suja de turistas

Os insetos chupadores de sangue, que vivem em camas de hotel, são um problema mundial. E agora os cientistas sabem onde eles gostam de viajar: meias usadas

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 set 2017, 16h07 - Publicado em 28 set 2017, 16h02

Em abril, uma incômoda coceira nas costas tirou a fleuma dos ingleses. “Número de percevejos de cama resistentes a produtos químicos triplica e atinge ‘níveis epidêmicos'”, afirmou o tabloide The Sun, na época.

Não foi só Londres que se entupiu dos insetinhos chupadores de sangue: praticamente todas as grandes cidades do mundo – isso inclui São Paulo e Rio de Janeiro – vêm assistindo a uma alta no número de Cimex lectularius desde 1995. Há inclusive um site norte-americano dedicado a listar os hotéis cujas camas estão infestadas pelo artrópode.

Especialistas em saúde pública concordam que o problema é em parte consequência da globalização. A circulação de turistas e estudantes entre países não para de aumentar desde o fim da Guerra Fria, e os bichinhos de 0,5 cm, que vivem de beber nosso sangue, adoram pegar uma carona com eles.

Essa história, até agora, só tinha um ponto sem nó: é muito improvável que você passe 10 horas em um avião sem perceber que há um monte de percevejos te almoçando. Qual é, então, o truque do lectularius para viajar pelo mundo?

Segundo um artigo científico do ecologista Willian Hentley, é roupa suja. Sim, aquela meia quase tóxica que você enfia no fundo da mala, de preferência sem dobrar, nos últimos dias de viagem – ou aquela camiseta com duas enormes rodelas de suor que você larga no banheiro do hotel depois de um longo passeio. Testes práticos demonstraram que roupa suja tem duas vezes mais chances de atrair os insetos que roupa limpa.

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O experimento foi direto ao ponto: o pesquisador da Universidade de Sheffield, com sua equipe, deu camisetas e meias limpas a voluntários humanos, e pediu que ficassem com elas por seis horas. Passado o período, colocou essas roupas em sacos de tecido (ecobags) e os expôs aos percevejos – ao lado, é claro, de sacos idênticos, mas cheios de roupas limpas. Eles foram direto nas peças usadas. Esse é o primeiro teste prático já feito sobre os métodos de disseminação do bichinho.

O motivo da preferência estranha é simples. Os insetos, que habitam hotéis por aí, gostam mesmo é de gente. Mas, como os quartos, na média, passam o dia todo vazios, eles acabam sendo atraídos segunda coisa que mais tem cheiro de gente: roupa de gente. Mas calma, o problema tem solução.

“Os percevejos têm dificuldade de escalar superfícies lisas, então, quando eu viajo, eu sempre procuro colocar minha bagagem em apoios de metal”, afirmou Hentley à imprensa. “Se isso falhar, eu manteria todas as minhas roupas em um grande saquinho ziplock.”

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Apesar das picadas incômodas, os percevejos não transmitem doenças. Infelizmente a maior parte dos venenos não é capaz de combatê-los – o lectularius já desenvolveu resistência a muitos inseticidas de uso doméstico. Em muitos casos, nem dedetizações profissionais dão certo.

Ou seja: se você vai viajar, vale a pena ficar de olho na cama do hotel quando chegar a hora de dormir. Talvez as mordidas não te incomodem tanto por só uma ou duas noites. Mas você certamente não vai querer uma família desses insetinhos vivendo no seu travesseiro quando voltar para casa.

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