Malária,quando o antídoto é o veneno
O veneno de escorpião pode se tornar uma arma contra a malária
Na corrida para ver quem inventa a loucura mais delirante, escritores e cineastas estão perdendo de longe para os geneticistas – e o que eles criam não é ficção, mas realidade. A mais recente idéia estonteante da ciência é modificar os genes do mosquito transmissor da malária para que ele possa fabricar veneno de escorpião, chamado escorpina. A toxina do escorpião não torna o mosquito venenoso, disse à Super o pesquisador Lourival Possani, da Universidade do México, em Cuernavaca. “Mas ela impede o desenvolvimento do plasmódio, o microorganismo causador da malária.” Possani isolou o gene que produz a escorpina e o injetou no organismo de vários pernilongos do gênero anófeles, onde o plasmódio se hospeda antes de passar para o corpo humano. Depois, comparou os mosquitos alterados com outros, que não tinham recebido o gene do veneno. Confirmou, assim, que quase não havia plasmódio no corpo dos insetos fabricantes de escorpina. Possani diz que os mosquitos mutantes podem competir com os seus parentes naturais nas matas e levá-los à extinção – levando junto o micróbio da malária. Se esse plano funcionar, será ótimo para o Brasil, onde a doença está sob controle mas os pacientes ainda são muitos, especialmente na Amazônia. Desde 1990, surgem no país 500 000 casos de malária por ano. Mais de 90% deles na Região Norte, segundo o médico Luiz Jacinto da Silva, da Universidade Estadual de Campinas.