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Mão na bola pode, seu juiz? Não tem juiz?

Das traves ao cartão amarelo, como o futebol foi armando suas regras para evitar as bagunças de quando um jogo era apitado pelos capitães dos times

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h13 - Publicado em 30 abr 2006, 22h00

Celso Unzelte

Uns preferiam usar apenas os pés, outros pegavam a bola também com as mãos. O gol era delimitado apenas por dois postes fincados no chão, sem nada que os unisse. Juiz, nem pensar – qualquer dúvida tinha que ser resolvida ali mesmo, pelos próprios jogadores dos dois times. Nada, também, de pênalti ou escanteio, pois toda falta ou saída de bola tinha que ser cobrada exatamente do ponto em que aconteceu. Parecia até pelada de rua, mas não era. Foi exatamente desse jeito que os alunos dos colégios ingleses disputaram as primeiras partidas de futebol, a partir de 1823.

“FOI MÃO!”

Uma verdadeira bagunça, aos olhos de hoje. E aos olhos de ontem também, tanto que os ingleses logo se apressaram em colocar ordem na casa. Para começar, uma questão fundamental: podia-se ou não colocar a mão na bola? A turma dos colégios Cheltenham e Shrews-Rugby (que, a partir de 1846, emprestaria seu nome à dissidência do futebol) achava que sim, mas somente para segurar uma bola chutada para o alto. Já as turmas de Charterhouse, Westminster, Eton, Harrow, Oxford e Winchester achavam que não. Ganhou a maioria. Em 1848, foi proibido o uso das mãos e dos braços no jogo.

ONZE EM CAMPO

E quanto às outras regras? Essas só foram unificadas em 26 de outubro de 1863, na famosa reunião na Taberna Freemason, em Londres. Nela, além de beber, representantes de 11 clubes e escolas (daí serem 11 os jogadores de cada time) instituíram 9 regras básicas, que regem o esporte até hoje. Oficialmente, no entanto, o futebol só seria codificado em 1º de dezembro. Primeiro com 11 regras, depois com 13 e, finalmente, com as atuais 17.

“FOI GOL!”

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Com a bola rolando, havia uma série de problemas, tipo a polêmica “foi ou não foi gol?” As medidas da meta já estavam determinadas: as mesmas dos portões da escola de Cambridge, onde o futebol começou a ser praticado (de 7,32 x 2,44 metros). Mas, sem nada para unir as duas traves, ficava muito difícil determinar quando uma bola chutada pelo alto havia entrado. Por isso, já em 1865, surge uma fita para unir os dois postes, substituída em 1875 pelo atual travessão (oficializado somente 3 anos depois). Em 1891, vieram as redes, criação do clube inglês Old Etonians, que já as utilizava desde o ano anterior.

“DÁ UM APITO PRA ELE”

No início dos tempos, os encarregados de “arbitrar” o jogo eram os capitães dos dois times, em uma espécie de acordo de cavalheiros. Que parece não ter dado muito certo, pois já em1868 era criada a figura do umpir (do francês non-per, ou “não igual”). Mas o cara ainda não mandava nada: proibido de entrar em campo, era obrigado a submeter suas decisões à palavra final dos capitães. Somente em 1891 o umpir é substituído pelo árbitro como o conhecemos hoje (“ladrão!”), que, além de passar a poder trabalhar dentro do gramado, conta com o auxílio de dois fiscais de linha – no Brasil, os populares bandeirinhas. A moral para marcar faltas e pênaltis, sem poder ser contestado por ninguém só viria 3 anos depois, em 1894.

“FOI PÊNALTI!”

Considerado tão importante que “deveria ser batido pelo próprio presidente do clube”, segundo o filósofo do futebol Neném Prancha, o pênalti nem sempre existiu. Até que o zagueiro Hendrys, do Notts County, evitou o gol do empate do Stoke City, nas quartas-de-final da Copa da Inglaterra de 1891,tirando com a mão uma bola em cima da linha. A cobrança da falta, a poucos centímetros do gol e diante de um bolo de adversários – como então mandava a regra – deu em nada. Mas ali ficou claro que algo tinha que mudar para o infrator não ser beneficiado. Sugerido pelo irlandês William McCrum, um ex-goleiro, o pênalti foi oficializado em 2 de junho de 1891 – no início batido de qualquer ponto de uma linha a 12 jardas (10,97 metros) do gol.

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“TÁ IMPEDIDO”

A mais inteligente das 17 regras do jogo, o impedimento existe desde que o futebol é futebol. E desde sempre vem sendo adaptado a fim de tornar o esporte mais dinâmico. O jogador deixou de estar impedido quando recebe a bola de um tiro de meta em 1880, na cobrança de um escanteio em 1881, quando está em seu próprio campo em 1907 e ao receber a bola diretamente de um arremesso lateral em 1912. A maior mudança, no entanto, ocorre em 1925, quando passam a ser exigidos dois adversários, incluindo o goleiro (e não mais 3), entre o jogador e a linha de fundo no momento em que o jogador recebe a bola. A partir de 1990, não é mais considerado impedido o jogador na mesma linha do penúltimo adversário no momento em que a bola é lançada.

“TIRA ELE!”

Embora as substituições fossem admitidas desde 1928, foi somente em 1965, nos jogos do Campeonato Inglês, que se permitiu pela primeira vez a troca de jogadores machucados. E só 3 anos depois, a Fifa oficializou as substituições, duas por equipe, permitidas pela primeira vez na Copa do Mundo de 1970. Em 1994, o número sobe para 3, desde que uma delas inclua o goleiro. Em 1996, são oficializadas as 3 substituições, independentemente da posição em que os jogadores atuem.

“DÁ O CARTÃO!”

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Foi também no Mundial do México, em 1970, que os árbitros utilizaram pela primeira vez os cartões amarelo (para advertir) e vermelho (para expulsar), para facilitar a comunicação.

“ELE ATRAU COM O PÉ”

Há 14 anos, acontece a última alteração mais significativa nas regras do futebol, motivada pela baixa média de gols apresentada na Copa do Mundo da Itália, em 1990 (apenas 2,21 gols por partida, a mais baixa da história da competição): o goleiro passa a ser proibido de pegar com as mãos as bolas que lhe são recuadas com os pés. Desde então, o futebol é isso aí.

“NINGUÉM PÕE A MÃO”

Como se vê, tão antigo quanto as regras do futebol é o desejo de mudá-las. Mas a única que pode fazer isso é a International Board (1886), órgão independente da Fifa (1904). A organização se reúne todos os anos. São 20 delegados com direito a 8 votos. Os países do Reino Unido, pais da criança (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales), representados por 16 delegados, têm direito a 4 votos. A Fifa, representada por outros 4 delegados, tem votos unitários. Para modificar qualquer regra, são necesssários 6 dos 8 votos. Porque, em time que está ganhando, mexer pra quê?

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Quizz! Você apita alguma coisa?

1. O jogo, com dois tempos de 45 minutos, vem de 1877. Mas o Brasil teimou em ser diferente até 1941. Quanto as peladas duravam aqui?

a) Dois tempos de 50 minutos.

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b) Três de 30 minutos.

c) Dois de 40 minutos.

2. O campo foi mudando com o tempo. Qual foi a última das alterações introduzidas em suas marcações?

a) O círculo central.

b) A pequena área.

c) A meia-lua na grande área.

3. A última das conquistas do juiz foi…

a) O bandeirinha.

b) O apito.

c) Os cartões amarelo e vermelho.

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