Me curei com hipnose
Do bruxismo à depressão, da rinite alérgica ao tabagismo, a hipnose pode ajudar a combater diversos problemas. Confira alguns casos relatados em estudos científicos
Embora ainda sofra de alguma desconfiança, a hipnose aos poucos se apresenta como alternativa comprovadamente eficiente para tratar um grande leque de doenças. Hoje, pacientes são induzidos ao transe para resolver inconvenientes que vão do ranger de dentes ao nariz entupido, como mostram estudos publicados nos últimos anos.
Problemas para amamentar
Nos seus primeiros meses como mãe, Maria Luíza, de 21 anos, estava cansada por dormir mal várias noites. A estudante de arquitetura, além disso, era criticada pela própria família pelo choro da criança, o que a deixava irritada. Por tudo isso, não estava conseguindo amamentar. Ela produzia leite, mas o líquido não fluía. Para piorar, a jovem estava incomodada com as mordidas que o bebê dava em seu peito. Diante dos problemas, topou participar de uma sessão de hipnose, experiência detalhada em Hipnose, singularidade e dificuldades de amamentação: um estudo clínico, do psicólogo Maurício da Silva Neubern, da UnB. O tratamento começou com uma série de sugestões para deixar Maria Luíza relaxada. Depois o terapeuta investiu nos problemas. “Talvez você escute o choro de seu filho e possa acompanhá-lo também de uma forma bem tranquila”, disse. Para resolver o problema do leite, o especialista citou uma reportagem de TV sobre a forma correta de ordenhar vacas, falou sobre a felicidade das vacas ao amamentar e ainda evocou imagens como “piscina de leite”. Alguns dias depois, Maria afirmou que estava dormindo melhor e que “a amamentação estava fluindo bem”.
Bruxismo
Um empresário de 42 anos, separado da mulher, procurou ajuda para controlar o bruxismo. Havia três décadas que ele sofria com tiques faciais que ora desapareciam, ora se agravavam. No último ano, entretanto, o paciente começou a ranger involuntariamente os dentes enquanto dormia, causando uma série de problemas na dentição, além de dores na musculatura da boca. O empresário passou por uma única sessão de hipnose, quando os terapeutas ensinaram a ele a técnica conhecida como “tela de cinema”. Ele foi instruído a relaxar totalmente os músculos do corpo, até sentir como se estivesse flutuando. Depois todo pensamento, sentimento ou imagem negativa deveria ser mentalmente projetada em uma tela de cinema imaginária. A ideia do tratamento era fazer com que, ao buscar o relaxamento, o empresário simplesmente virasse a tela com imagens ruins para deixá-las de lado. Depois de dois meses, a tensão muscular durante o sono desapareceu. E uma revisão do caso feita cinco anos depois dessa única sessão mostrou que o empresário seguia livre do bruxismo. O caso está descrito no livro Trance & Treatment: Clinical Uses of Hypnosis, publicado em 2004 pelos médicos Herbert Spiegel e David Spiegel.
Nariz entupido
No livro Hipnose na Prática Clínica, de 2003, o neurologista Marlus Vinicius Costa Ferreira descreve o caso de um homem de 31 anos que tinha dificuldades para respirar por conta de rinite alérgica. O paciente, cujo nome foi preservado, tinha feito um tratamento com corticoides, além de duas cirurgias para correção do septo nasal. Não adiantou. E a situação ficava ainda pior quando ele folheava livros antigos, tinha contato com tinta e verniz, sentia cheiro de perfume ou circulava em ambientes com pó e pólen. Induzido ao estado hipnótico, o paciente recebeu uma sequência de sugestões. Primeiro ouviu “você é capaz de respirar suave, longa, lenta e profundamente”. Então foi incentivado a imaginar partículas causadoras de alergias em contato com o corpo, sendo reconhecidas pelo organismo para deixarem de ser danosas. Depois, outra vez ouviu que era capaz de respirar suavemente, enchendo os pulmões de ar, gozando de uma maravilhosa sensação de bem-estar. Passada uma semana, ao voltar para a nova consulta, o paciente relatou que tinha passado bem “todos os dias e todas as noites”, sem sinal de secreções, com o nariz permanentemente desentupido.
Dores crônicas da fibromialgia
Quando Suzana, de 46 anos, aceitou ser voluntária de uma pesquisa sobre dor e hipnose, estava sofrendo muito com sintomas da fibromialgia. As dores pelo corpo eram fortíssimas. Mãe de três filhos, havia dois anos que ela tinha largado o emprego de costureira por conta da síndrome, que tratava com acupuntura, exercícios na água e quiropraxia. Além disso, sofria de depressão e não usava medicamentos para conter o problema. De acordo com o artigo Hipnose e dor: proposta de metodologia clínica e qualitativa de estudo, do psicólogo Maurício da Silva Neubern, da UnB, a paciente foi induzida ao estado hipnótico em cinco oportunidades. O terapeuta apostou em sugestões de anestesia e analgesia para reduzir a dor de Suzana. Falou da “sensação dos músculos relaxando” e afirmou que o “corpo sabe o que fazer”. Para combater o sentimento de que a vida da paciente estava paralisada por conta da doença, o pesquisador sugeriu a ela que “nosso consciente capta apenas uma pequena parcela de nossa experiência” e que o inconsciente de Suzana “pode rever a história inteira em poucos segundos, como se fosse um filme”. Os resultados foram significativos: Suzana relatou que a dor tinha sido reduzida em 90% e que ela tinha ficado até cinco dias livre do desconforto. Além disso, depois das sessões, Suzana dizia que pensava em retomar a profissão e tinha aprendido a usar por conta própria algumas técnicas hipnóticas para conter crises.