Médicos americanos realizam primeiro transplante de bexiga da história
Paciente de 41 anos se recupera bem; entenda por que cirurgia nunca tinha sido feita antes.

Pela primeira vez na história, um transplante de bexiga foi realizado com sucesso em um humano, inaugurando um possível novo tratamento para pessoas com problemas no sistema urinário. A complexa cirurgia durou oito horas e foi conduzida por médicos da Califórnia, nos EUA, que também transplantaram um rim no paciente.
O procedimento ocorreu no dia 4 de maio no hospital da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), mas o anúncio só foi feito ao público duas semanas após a conclusão da cirurgia. Além de cirurgiões da UCLA, a equipe também contou com médicos da Universidade do Sul da Califórnia.
O paciente foi Oscar Larrainzar, um homem de 41 anos que teve a maior parte da sua bexiga removida por conta de um câncer no órgão. Mais tarde, ele também precisou remover os rins por causa de câncer, e viveu por sete anos em diálise.
Agora, Oscar se tornou a primeira pessoa a receber uma bexiga transplantada; na mesma cirurgia, ele recebeu também um novo rim.
O rim foi transplantado primeiro pelos cirurgiões, e, em seguida, veio a bexiga. O próximo passo foi conectar os órgãos, usando uma técnica inédita desenvolvida pela equipe, descrita pela primeira vez em 2023. Ao todo, foram oito horas na sala de operação.
A cirurgia foi um sucesso, pelo menos por enquanto: o rim do paciente passou a produzir urina em grandes quantidades, e o líquido flui para a bexiga normalmente, de modo que ele não precisa mais de diálise. No entanto, ainda não está claro como os órgãos transplantados vão funcionar no longo prazo, nem por quanto tempo o paciente terá que tomar imunossupressores (medicamentos que evitam a rejeição).
Essa foi a etapa final de um processo de quatro anos – tempo que os pesquisadores levaram para aperfeiçoar a técnica (treinando-a em porcos e cadáveres, por exemplo) e para conseguir a aprovação regulatória da cirurgia como parte de um ensaio clínico. Como parte desse mesmo estudo, os médicos da Califórnia pretendem fazer o mesmo transplante em pelo menos outros quatro pacientes.
Por que não havia transplantes de bexiga antes?
Embora, na teoria, fosse possível transplantar uma bexiga de um humano para outro, essa cirurgia nunca tinha sido feita por ser particularmente complexa e, principalmente, porque havia alternativas mais simples.
Hoje, pessoas cuja bexiga não funciona normalmente ou que foi retirada totalmente podem passar por um procedimento cirúrgico chamado urostomia, que consiste em usar um pedaço do intestino do paciente para conduzir a urina diretamente dos rins para fora do corpo, geralmente em uma bolsa externa.
Embora esse tipo de cirurgia seja bastante eficaz, ela não é perfeita. Um dos problemas é que o tecido do intestino é repleto de bactérias, que, em condições normais, são inofensivas ou até benéficas para nós. Mas transportar esses micróbios para o sistema urinário pode, em alguns casos, resultar em problemas como infecção. Além disso, pacientes também podem ter como efeito colateral problemas digestivos, por “perderem” um pedaço do intestino que foi reaproveitado para transportar urina.
Nesse sentido, o transplante de bexiga tem suas vantagens, mas não havia uma técnica bem estabelecida para isso justamente porque ninguém havia tentado – até agora. A cirurgia feita na Califórnia pode inaugurar uma nova era de transplantes, possivelmente oferecendo um novo tratamento para pessoas com problemas graves envolvendo o sistema urinário.
Mesmo assim, o otimismo deve ser temperado com cautela: todos os transplantes também contam com risco de rejeição do órgão, então é preciso avaliar como o caso de Oscar Larrainzar irá evoluir para entender o sucesso da cirurgia.