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Mpox: África declara emergência pública em todo o continente por causa da doença

Antes conhecida como varíola dos macacos, a mpox já provocou mais de 500 mortes em 2024. Diretor do CDC da região denuncia falta de ajuda global.

Por Bela Lobato
Atualizado em 14 ago 2024, 17h20 - Publicado em 13 ago 2024, 11h44

Atualização: No dia seguinte da publicação desse texto, em 14 de agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a mpox uma emergência de saúde pública de âmbito internacional. O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse, em nota, que o órgão está “comprometido, nos próximos dias e semanas, a coordenar a resposta global, trabalhando em estreita colaboração com cada um dos países afetados e alavancando nossa presença no local, para prevenir a transmissão, tratar os infectados e salvar vidas”.

O diretor geral do Centro de Controle de Doenças da África (CDC África), Jean Kaseya, declarou nesta terça (13) emergência pública em todo o continente africano em razão da disseminação da mpox, doença anteriormente conhecida como varíola dos macacos.

No Brasil, o Ministério da Saúde deve se reunir hoje para atualizar as recomendações e o plano de contingência para a doença no país. 

A principal preocupação atual é o espalhamento dos casos para outros países. “O que é fundamental saber é que nos últimos dez dias tivemos seis novos países afetados”, disse Kaseya na semana passada. Em 2024, houve um aumento de 160% nos casos e de 19% nas mortes em comparação com o mesmo período em 2023. 

A mudança de status deve ajudar os países africanos a coordenar as respostas internacionais, obrigar os países-membros a notificarem novos casos ao órgão continental, facilitar a mobilização de recursos nacionais e estrangeiros e acelerar o desenvolvimento e a distribuição de vacinas.

Mas, apesar da gravidade, o CDC África diz que ainda falta apoio global. “Os casos continuam a aumentar, e hoje estamos enfrentando a consequência da falta de assistência aos países africanos nesse período”, disse Kaseya em uma coletiva de imprensa nesta terça (13).

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Evolução da mpox

Era 1970 quando cientistas detectaram pela primeira vez a infecção pelo vírus da mpox na zona rural da República Democrática do Congo. Os casos permaneceram isolados por décadas até que, em 2022, os números e a distribuição geográfica da doença explodiram. 

Ninguém sabe exatamente a causa da mudança no padrão de transmissão do vírus. Quando casos se espalharam mais rápido do que nunca na Europa em 2022, a OMS declarou a doença uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional. 

Naquela época, foram 87 mil casos e 140 mortes no mundo todo. A OMS declarou o fim da emergência um ano depois, em 2023. Entretanto, só em 2024, a República Democrática do Congo já teve mais de 14 mil casos e 500 mortes, principalmente entre crianças. Agora, circula uma nova mutação do vírus, que parece ser mais letal e transmissível.

Quais são os sintomas da mpox?

Febre, dores musculares e dor de garganta aparecem primeiro, seguidas de erupções cutâneas e mucosas. A linfadenopatia (inchaço dos gânglios linfáticos) também é uma característica típica desse tipo de varíola, presente na maioria dos casos. Crianças, mulheres grávidas e pessoas com sistemas imunológicos fracos correm o risco de desenvolver complicações e morrer.

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Os sinais da doença geralmente começam em uma semana, mas podem começar de 1 a 21 dias após a exposição. Em geral, os sintomas duram de 2 a 4 semanas, mas podem durar mais em pessoas com sistema imunológico enfraquecido.

Como ocorre a transmissão?

A doença é transmitida principalmente pelo contato próximo, não necessariamente sexual. Isso explica os casos entre crianças, já que muitas são contaminadas no ambiente doméstico. Foram reportados casos de transmissão entre as mães para os fetos, inclusive ocasionando abortos. Outra possibilidade é o contágio de profissionais da saúde e no contato com animais selvagens, embora nenhum caso de transmissão por animais tenha sido reportado em 2024. 

As pessoas mais afetadas por casos graves e maior mortalidade parecem ser as crianças, pessoas mal nutridas e/ou imunossuprimidas, especialmente com HIV.  Entre os dados disponíveis da República Democrática do Congo deste ano, 67% dos casos de mpox e 84% das mortes foram em pessoas menores de 15 anos. 

Isso implica em uma taxa de mortalidade alta, que fica em torno de 3%, dependendo da região e do público. Em um surto recente de mpox na África do Sul, em uma população em que muitas pessoas também tinham HIV, a mortalidade chegou a 10%, segundo o CDC África.

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Qual o tratamento?

O tratamento baseia-se no cuidado com a pele, no controle da dor e na prevenção de complicações. Além disso, medicamentos antivirais específicos, como o tecovirimat, também podem ser usados, principalmente em casos graves ou em indivíduos com maior risco de complicações.

É possível que haja mais casos do que os registrados até agora?

Sim. Existe um problema importante de subdiagnóstico, causado pela dificuldade de aplicar testes adequados em todas as pessoas com quadros suspeitos de mpox. Segundo a OMS, em 2024 apenas 18% dos casos foram testados da forma ideal, através de exame PCR de fluidos retirados das feridas na pele. Para completar, existem indícios de que pessoas sem sintomas possam transmitir a doença. 

Por isso, os dados não são exatamente confiáveis – e os números podem ser muitos maiores.

Existe vacina para mpox?

Sim, e o CDC África calcula que sejam necessárias 10 milhões de doses para conter a epidemia no continente. Em 2022, os países europeus controlaram seus surtos utilizando imunizantes feitos pelos laboratórios Bavarian Nordic (BN) e KM Biologics. Embora a OMS tenha dito em abril que o governo dos EUA havia se comprometido a doar 50 mil doses da vacina da BN para a República Democrática do Congo, e outras 10 mil para a Nigéria, nenhuma delas chegou.

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Agora, novamente, os EUA prometeram uma doação de 50 mil doses de vacina e de US$ 424 milhões para ajudar na campanha contra o que chamaram, em nota, de “catástrofe em andamento”.

Além disso, a União Africana, composta por 55 países, anunciou em nota a destinação emergencial de US$ 10 milhões, que devem ser utilizados na vigilância de casos, na realização de testes e sequenciamento genômico, no gerenciamento de casos, a prevenção e o controle de infecções, a comunicação de riscos e o envolvimento da comunidade, e na distribuição de vacinas e suprimentos em todo o continente.

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