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Mpox: remédio usado para tratar doença não mostra eficácia em testes clínicos

O tecovirimat, autorizado para uso emergencial em alguns países, não teve efeito contra a nova variante mais agressiva da doença.

Por Bela Lobato
25 ago 2024, 10h00

O tecovirimat é um antiviral que era utilizado no tratamento de varíola, doença que foi erradicada em 1980. Em 2022, quando teve início a primeira Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional causada pela mpox (antigamente chamada de varíola dos macacos), o medicamento passou a ser  licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para tratar a doença, que é causada por um vírus semelhante ao da varíola original.

No mesmo ano, a Anvisa autorizou, em caráter excepcional e temporário, a dispensa do registro do medicamento importado pelo Ministério da Saúde. Apesar de ser aprovado pelas agências reguladoras, não houve pesquisa e registro específico para o uso em tratamentos. 

Agora, uma pesquisa clínica conduzida pelo National Institutes of Health (NIH), agência governamental de pesquisa dos Estados Unidos, aponta que o medicamento não melhora o quadro da doença. O estudo considerou casos na República Democrática do Congo, epicentro da nova crise, onde uma variante mais agressiva circula.

Os pesquisadores acompanharam 597 pacientes com mpox: metade recebeu tecovirimat, e a outra metade recebeu placebo. Os dois grupos ficaram hospitalizados e receberam cuidados médicos. Não houve uma diferença significativa na duração e a intensidade das lesões entre os dois grupos, provando que o tecovirimat não é efetivo contra a mpox.

Entretanto, os cientistas constataram que a taxa de mortalidade dos participantes da pesquisa, de 1,7%, foi mais baixa do que a da população em geral, de 3,6%. Nos dois grupos, as lesões também duraram menos do que o esperado. Isso mostrou que o fato de receber acompanhamento médico faz uma grande diferença na evolução do quadro de cada paciente, já que a doença é especialmente agressiva em pessoas com o sistema imunológico comprometido, desnutridas e em crianças. Ou seja, mesmo sem tratamento específico, receber cuidados médicos diminui a letalidade da doença.

“Essas descobertas são decepcionantes, mas nos fornecem informações essenciais e reforçam a necessidade de identificar outros candidatos terapêuticos para a mpox, enquanto continuamos a pesquisa sobre o uso do tecovirimat em outras populações com essa doença”, disse, em nota, Jeanne Marrazzo, infectologista norte-americana envolvida na pesquisa.

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Os resultados da pesquisa ainda não foram revisados por outros pesquisadores e publicados. Por enquanto, há só um comunicado do NIH à imprensa.

A nova emergência global causada pela mpox

No dia 13 de agosto, o Centro de Controle de Doenças da África declarou a mpox emergência pública em todo o continente africano. No dia seguinte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) seguiu a mesma linha e, pela segunda vez, declarou a mpox uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional. A classificação aponta o nível mais alto de alerta de saúde pública. 

A nova crise é causada pela disseminação de uma variante mais agressiva do vírus, chamada Clado-1, que já causou mais de 14 mil casos e 500 mortes na República Democrática do Congo só em 2024. O vírus Clado-1 é mais transmissível e mais mortal do que circulou em 2022, que provocou 87 mil casos e 140 mortes no mundo todo.

Qual o tratamento para mpox?

Segundo o Ministério da Saúde, atualmente não há tratamento específico para mpox. “Assim, devem ser adotadas medidas de suporte clínico que envolvem manejo da dor e do prurido, cuidados de higiene na área afetada e manutenção do balanço hidroeletrolítico”, diz o órgão.

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Embora a maioria dos casos apresente apenas sintomas leves e moderados, a cartilha do ministério também instrui o uso de oxigênio suplementar para casos graves, assim como o uso de antibióticos caso existam infecções bacterianas secundárias às lesões de pele.

Existe vacina para mpox?

Sim, existem algumas já aprovadas e outras em desenvolvimento. 

No Brasil, o Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trabalha há cerca de dois anos no desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a mpox.

Com a declaração de emergência, o Ministério da Saúde anunciou que negocia a compra de 25 mil doses da Jynneos com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Desde 2023, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso provisório do imunizante, o Brasil já recebeu cerca de 47 mil doses e aplicou 29 mil.

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O público-alvo definido à época da primeira emergência incluiu pessoas de 18 a 49 anos vivendo com HIV/Aids independentemente do status imunológico identificado pela contagem de linfócitos TCD4; profissionais de laboratórios do tipo NB-2 com idade entre 18 e 49 anos e que trabalham com o Orthopoxvirus; assim como pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pacientes com suspeita de infecção por mpox.

O CDC África calcula que sejam necessárias 10 milhões de doses para conter a epidemia no continente. Em 2022, os países europeus controlaram seus surtos utilizando imunizantes feitos pelos laboratórios Bavarian Nordic (BN) e KM Biologics. Embora a OMS tenha dito em abril que o governo dos EUA havia se comprometido a doar 50 mil doses da vacina da BN para a República Democrática do Congo, e outras 10 mil para a Nigéria, nenhuma delas chegou até agora.

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