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Pesquisadores brasileiros criam repelente contra o Aedes aegypti

Fórmula inibe os receptores que o mosquito usa para "farejar" o sangue humano – e, em testes de laboratório, mostrou que pode proteger por até dez horas.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 2 dez 2020, 10h33 - Publicado em 30 nov 2020, 20h13

Mosquitos que transmitem doenças, como o Aedes aegypti, possuem uma série de vantagens evolutivas para a vida em cidades. Nas caixas d’água e vasos de planta que humanos têm em suas casas, por exemplo, eles encontram um ambiente perfeito para depositar seus ovos. Quando querem fazer uma boquinha, basta procurar uma vítima desavisada e, com a ajuda de seu proboscis (o canudinho que usam para furar nossa pele), retirar o sangue que precisam. O sangue humano carrega o ferro e outros nutrientes necessários para que as fêmeas fabriquem seus ovos, aumentando a população de mosquitos.

Mas como, afinal, mosquitos conseguem farejar humanos? Trata-se de um mecanismo químico: usando suas antenas e estruturas presentes na boca, os insetos são atraídos por cheiros que os humanos exalam naturalmente. Entre esses odores, estão, por exemplo, substâncias como o ácido lático – que vai embora pelo suor – ou o gás carbônico, eliminado pela respiração. Com essa trilha, as fêmeas sabem o caminho exato que têm que percorrer para chegar à presa.

Agora, cientistas da UFPR (Universidade Federal do Paraná) arrumaram uma forma de fazer o feitiço virar contra o feiticeiro. Usando uma molécula derivada do ácido láctico, pesquisadores criaram um repelente capaz de afastar mosquitos Aedes aegypti. Essa tal molécula-base, quando aplicada na pele, evapora. Ao ser “farejada” pelo mosquito, bloqueia temporariamente os receptores do inseto, e impede que ele use sinais químicos para se alimentar de sangue humano.

Abaixo, você pode assistir a um vídeo que mostra o repelente em ação. Após aplicar a substância na mão, uma voluntária passa ilesa pelos ataques dos Aedes, que voam de um lado para o outro dentro da caixa.

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De acordo com Francisco de Assis Marques, pesquisador do Laboratório de Ecologia Química e Síntese de Produtos Naturais (Lecosin) da UFPR, a vantagem da nova fórmula está no fato de a substância usada na fabricação ter origem natural. Outros modelos de repelente atuais usam moléculas que podem ser tóxicas para quem usa – e, por isso, não são recomendados para certos grupos de pessoas.

“O fato de a molécula ser um derivado de ácido lático, que é um atraente natural do mosquito, traz vantagens. Pelo fato de ser derivado de um produto do corpo, é possível que a toxicidade seja baixa, com expectativa de uso até em mulheres grávidas e crianças”, disse, em entrevista à SUPER.

Testes de laboratório mostraram que o repelente pode proteger o usuário por até dez horas – tempo maior que o de alternativas que já existem no mercado. Apesar de vir sendo testada na forma de loção, é possível que o novo repelente seja preparado de diferentes formas, como creme ou spray. Biodegradável, a fórmula polui menos o ambiente. “A chance de a substância virar produto é grande”.

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Antes de ficar disponível nas prateleiras da farmácia, porém, o projeto ainda tem que cumprir algumas etapas, como os testes com humanos, que comprovarão sua segurança. “Exames de toxicidade são caros e precisam ser encaminhados fora da universidade. Por isso, estamos buscando parceiros para complementar exames (de toxicidade dérmica e ocular)  para o repelente ser aprovado pela Anvisa e ir ao mercado”, explica Marques. “A universidade foi até onde poderia ir: desenvolver e mostrar que é eficiente e viável”.

De acordo com a assessoria de comunicação da UFPR, houve, na última semana, acenos de empresas interessadas em firmar parcerias com o grupo para desenvolver o novo repelente. Outras parcerias com universidades internacionais também pretendem testar se a nova fórmula poderia ser eficiente também para conter outros mosquitos – como os do gênero Anopheles, que transmitem a malária.

Desenvolver repelentes mais potentes contra os Aedes, aliás, pode ser uma questão mais urgente do que se imagina. Estudos feitos nos últimos anos (como este, por exemplo), indicam que a espécie vem adquirindo certa resistência contra repelentes DEET, uma fórmula comum no mercado. Mas, com a ajuda de cientistas dedicados a desenvolver alternativas a ele, um futuro com mosquitos ainda mais adaptados à vida entre humanos parece menos plausível.

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