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Por dentro da vida

O que acontece no corpo humano antes, durante e depois da fecundação, em surpreendentes imagens obtidas através de microscópio eletrônico

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h39 - Publicado em 31 mar 1988, 22h00

Na vida real a imagem contida nesta foto mede um trigésimo de milímetro. Ou seja, ela parece na foto 5 mil vezes maior do que é. Trata-se de um embrião de sexo feminino com seis ou sete semanas. Ou melhor, o que se vê é uma parte muito especifica desse embrião – os seus ovários. A extraordinária fotografia foi tirada através de um microscópio eletrônico pelo professor italiano Pietro Motta, chefe do Departamento de Anatomia da Universidade de Roma. Junto com outras sessenta imagens não menos fantásticas, ela aparece no livro Viaggio nel corpo umano, de autoria do professor Motta e colaboração com o jornalista Piero Ângela.

Dessa coleção de microfotografias, SUPERINTERESSANTE publica com exclusividade para o Brasil uma detalhada seqüência sobre a reprodução humana – as diversas etapas nas quais os organismos do homem e da mulher se preparam para o momento da fecundação e ainda as transformações que irão ocorrer daí por diante. Toda foto por microscópio eletrônico sai em preto e branco. As cores dessas fotos não correspondem às da natureza. Foram selecionadas pelos autores segundo critérios estéticos e para criar contrastes afim de facilitar a compreensão das imagens.

O jogo de cores ao fundo desta foto, por exemplo, dá uma idéia de movimento – o que é verdadeiro, pois as células do ovário estão se multiplicando em pleno metabolismo. As duas células em primeiro plano, ao se separarem, completarão a divisão dos dois ovários, que no organismo feminino se situam perto da bacia, um de cada lado. Essas duas células formarão todos os folículos do interior do ovário da mulher, subdividindo-se continuamente. São tantas subdivisões que, pouco antes de nascer a criança tem quase um milhão de folículos. A maioria, porém, degenera e, ao nascer a menina, restarão apenas 400 mil. Ao contrário do homem – que só começa a produzir espermatozóides na puberdade -, a mulher já tem pronto desde o nascimento todo o equipamento necessário à reprodução. Contudo, os folículos ficam em repouso, até a adolescência, quando se aproximam da superfície e aguardam a ordem dos hormônios para crescer. Até que a mulher atinja o climatério – aos 50 anos em média -, quando todos os folículos degeneram, seu organismo se prepara continuamente para a aventura da reprodução.

1. Disponta o folículo

A cada 28 dias aproximadamente, esta cena se repete: na superfície do ovário (em tom esverdeado, na foto), após um inchaço desponta algo como um bago de uva – o folículo , espécie de bolsa que guarda o óvulo, a célula sexual feminina e a maior célula humana, com 1 décimo de milímetro de diâmetro. Não se trata, porém, de um folículo qualquer, pois naquele momento, entre os cerca de 400 mil folículos que a mulher possui, este é o que está em melhores condições para a fecundação. Todo mês é como se o ovário selecionasse um grupo de folículos para amadurecer e somente o que sobressai, desenvolvendo-se mais do que os outros consegue pressionar a superfície e alcançar o lado externo.

2. A nutrição do óvulo

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Essa superfície é o folículo observado de perto. Os microcapilares – vasos com diâmetro menos que milimetrico – trazem substâncias filtradas do sangue para os grãos azuis, células que nutrem e protegem o óvulo. O número dessas células aumenta bastante enquanto o óvulo amadurece. Tem lógica: ele precisa cada vez mais de energia para ficar pronto para a fecundação. Mais tarde, quando deixar o folículo, o óvulo só levará consigo poucas dessas células, que ficarão grudadas ao seu redor, formando uma espécie de coroa.

3. O momento da Ovulação

Em apenas quarenta ou cinqüenta segundos as células do folículo maduro se rompem, como se vê na foto, abrindo espaço para o óvulo se libertar. É o processo de ovulação desencadeado por uma ordem vinda da hipófise, glândula que produz o hormônio ganodotropina, que por sua vez estimula o ovário. Outros hormônios, então, entram na jogada: a progesterona e o estrógeno, produzidos pelo próprio ovário, provocam uma série de alterações na mucosa do útero da mulher, a fim de prepará-la para uma possível gravidez.

4. Hormônio em ação

Esse liquido pastoso (em tom azulado, na foto) que escorre pelo ovário como lava de um vulcão, tem, na verdade, uma coloração amarela – daí se chamado de “corpo lúteo”(amarelo em latim), liberado pelo folículo no momento da ovulação, o corpo lúteo é rico em progesterona, hormônio que prepara o útero para a implantação do feto. Depois de dois ou três dias, as células do folículo que restaram no ovário transformam-se numa glândula – uma fabrica que produz cada vez mais progesterona. Não ocorrendo a fecundação, porém, a glândula pára de funcionar. Sem o hormônio, o útero elimina a mucosa que formou para receber o feto. É a menstruação.

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5. Depois da ovulação

Um minuto após a erupção do folículo, o óvulo já se encontra em posição estratégica para ser capturado pela trompa, um túnel com cerca de 12 centímetros de comprimento, que leve direto ao útero. Na extremidade próxima ao ovário, a trompa tem o formato aproximado de um funil com milhares de franjas de mais ou menos 1 centímetro, que serve para atrair o óvulo à espera. À direita, na fotografia, também se vê o rasgo na superfície deixado pelo folículo que ovulou. Será mais uma das muitas cicatrizes existentes na parede do ovário – cada uma representa uma ovulação.

6. Células do útero

Apenas dois tipos diferentes de células forram o útero e formam o ambiente ideal para o desenvolvimento de uma nova vida, dentro desse músculo oco, que lembra uma pêra de cabeça para baixo. Na foto, parecem três células diferentes, mas, de fato, a célula da direita ( em verde) é igual à do meio (em azul) – apenas esta já cumulou mais muco, que deverá nutrir o embrião. À esquerda, o que se vê é uma célula ciliada ( em lilás) que ajuda no transporte do ovo. Todas essas células da mucosa uterina se multiplicam na gravidez, enquanto o músculo onde se apóiam cresce para acompanhar o desenvolvimento do feto.

7. Nascem os espermatozóides

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Os espermatozóides nascem dos testículos do homem (a foto mostra uma secção do interior de um testículo) e vão passando por uma complexa rede de canais, até chegar ao canal principal que os leva para fora. O processo todo dura de setenta a noventa dias. Durante o percurso, muitas transformações acontecem com eles. No inicio, por exemplo, os espermatozóides tem 46 cromossomos, como todas as demais células do corpo, mas à medida que duplicam , esse número cai para 23, justamente metade do original. Apenas no final do processo de desenvolvimento, quando estão prontos para a fecundação, eles adquirem sua forma característica, como se observa na imagem: corpo curto e largo e um longo flagelo. De ponta a ponta, não medem mais do que 54 milésimos de centímetro. A quantidade de espermatozóides expelidos pelo homem numa ejaculação é incrível: 20 milhões por mililitro de liquido seminal.

8. Viagem pelos canais

Na ejaculação, o homem lança de 200 a 300 milhões de espermatozóides. Desses, apenas um em cada cem, aproximadamente, fará a fecundação. A grande maioria será eliminada pelo muco ácido existente na vagina. Agitando o seu flagelo, o espermatozóide se locomova à velocidade média de 1 milímetro a cada três minutos. A viagem até o óvulo, devido aos inúmeros obstáculos no caminho, como dobras de pele, pode durar de 12 a 24 horas. A rota é dada pelo próprio aparelho reprodutor feminino, que orienta o espermatozóide com movimentos ondulatórios. Além disso, no período fértil da mulher, abrem-se verdadeiros canais na parede do útero (como mostra a foto), que servem de estradas.

9. Alimento para o embrião

As bolas alaranjadas são gotículas de muco, mistura de açúcares e proteínas, produzido por glândulas na parede do útero, com a finalidade de servir de alimento a um futuro embrião. A ordem para essa produção é dada pelos hormônios do ovário, que chegam através da corrente sangU[inea – a irrigação, por sinal, aumetna no útero, que se prepara para receber o embrião. Algo semelhante a isso acontece nas trompas. Mas ali o muco tem também a função de lubrificar o caminho, facilitando a passagem do ovo. Todas essas mudanças começam a ococrrer antes de uma eventual fecundação, pois o organismo feminino está sempre se preparando para uma gravidez.

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10. As barreiras do óvulo

O óvulo aguarda o espermatozóide, que deve vencer uma dupla barreira: de um lado as células amarelas, que restaram do folículo; de outro, a membrana elástica, colorida em vermelho, chamada zona pelúcia, que serve para proteger, além de selecionar e filtrar nutrientes. Para furar essas duas paredes, o espermatozóide tem na cabeça algumas enzimas, capazes de dissolver as membranas. No momento em que um deles atinge o objetivo, desencadeia uma série de reações químicas que enrijecem a membrana vermelha. Assim, as enzimas dos outros espermatozóides não conseguem mais nada.

11. Enfim a fecundação

Antigamente, acreditava-se que o primeiro espermatozóide a chegar ao óvulo entrava. Hoje, existem teorias de que a coisa não é bem assim: alguns espermatozóides começam a furar as membranas do óvulo; outro que chegou atrás, consegue entrar, porque encontrou a metade do trabalho já feito. De qualquer maneira, é sempre o mais resistente que consegue realizar a fecundação, ou seja, a união do núcleo de sua célula com o núcleo do óvulo, formando assim uma nova célula. Desse ponto de vista, pode se dizer que toda a vida, em principio, é a melhor possibilidade de reprodução entre dois organismos.

12. A morte dos espermatozóides

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Os espermatozóides que ficaram fora do óvulo sobrevivem no máximo 48 horas. Nesse período, ficam moribundos – não se movimentam – e o flagelo se dobra (no alto na foto). Enquanto isso, o organismo envia uma espécie de exercito de leucócitos para destruí-los. Os leucócitos (as bolinhas roxas na parte inferior da foto) são as moléculas encarregadas de eliminar substancias estranhas ao corpo ou mesmo células mortas do próprio organismo. É por isso que um fenômeno semelhante a esse também acontece no organismo do homem,onde os leucócitos eliminam os espermatozóides que não foram lançados na ejaculação.

13. A caminho do útero

Esse é o primeiro cenário onde o ser humano se locomove. Trata-se do interior da trompa, onde se deu a fecundação. O alimento para o embrião é passado pelo muco das células (em verde na fotografia). Já as células ciliadas (mais claras) ajudam no transporte, que é feito também com movimentos ondulatórios, como os do intestino. Toda a viagem para o útero dura mais de uma semana. A passagem no interior da trompa tem, porém, apenas cerca de 1 milímetro de diâmetro. Caso exista uma obstrução e o embrião não consiga ultrapassá-la, ele se implanta ali mesmo e começa a crescer até provocar uma hemorragia. É a chamada gravidez tubárica, quando o aborto é inevitável. Ocorre na proporção de 1 para 300 casos.

14. A pequena amora

Ainda dentro da trompa, o ovo começa a se dividir. A primeira divisão ocorre cerca de doze horas após a fecundação; vinte horas depois, a duas células resultantes tornarão a se dividir. Mais tarde, as quatro células se transformarão em oito e assim por diante. Até o bebê nascer com seus 2 bilhões de células, 29 gerações se terão dividido. Nas primeiras divisões, o embrião, como se observa, parece uma amora; daí esse estágio até 64 células ser conhecido como “mórula” – pequena amora. É justamente na fase de mórula que a nova vida chega ao útero. E também é quando os médicos que lidam com inseminação artificial implantam o embrião na mãe.

15. Um órgão se esboça

Parece uma flor se abrindo. Mas é, na verdade, o despertar da sexualidade feminina, ainda na décima semana após a concepção. Trata-se de uma das trompas do embrião, que liga o útero a um dos ovários. Quando nasce a criança, a trompa já é bem mais alongada e possui muitas franjas para capturar o óvulo. Em suma, num ser de apenas 10 semanas já se encontram todas as características do órgão que servirá para fecundação.

16. Homem ou mulher

Ninguém duvida que se trata da imagem de um órgão sexual masculino. Será mesmo? O que parece a glande do pênis, na parte superior da fotografia, pode muito bem ser um clitóris. As duas prega centrais – que se unem no homem deixando uma marca visível – podem ser os pequenos lábios da vagina. E de fato, é isso: na verdade, a foto é do órgão genital feminino de um embrião de nove semanas. Tanta semelhança com um órgão masculino tem sentido: ambos os sexos, embora determinados no primeiríssimo momento da fecundação, tem durante algum tempo uma estrutura genital idêntica. Só depois da décima semana surgem as diferenças.

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