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Respeite seu nariz

Ao contrário dos bichos, você pode sobreviver sem o olfato. Mas não o menospreze. Ele define o paladar, alerta para os perigos e até ajuda você a relembrar o passado.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h37 - Publicado em 30 set 1998, 22h00

Lívia Lisboa

A maioria dos animais depende do olfato para sobreviver. É pelo faro que muitos caçadores localizam as presas e que elas, por sua vez, notam o perigo e fogem. O cheiro também é essencial no acasalamento da maioria das espécies. O macho da mariposa percebe, pelo ar, a presença de uma fêmea e voa, ligeirinho, ao encontro dela.

Para o homem, o olfato pode não ser tão decisivo, mas, ainda assim, exerce tarefas importantes. Pelo cheiro de queimado, ele dá o sinal de alerta quando algo está pegando fogo. Ajuda você a se manter longe dos venenos e dos alimentos estragados. Perfuma a vida e define o paladar (veja texto na página 11). O olfato tem ainda o poder de despertar lembranças antigas. “Um aroma pode fazer você se lembrar de algo que aconteceu muitos anos atrás”, afirma o otorrinolaringologista Yotaka Fukuda, professor da Universidade Federal de São Paulo. Isso se explica pela ligação entre o aparelho olfativo e o sistema límbico, a parte do cérebro responsável pelas emoções. Sabe-se também que alguns cheiros alteram o funcionamento do organismo. A lavanda e o jasmim, por exemplo, são muito eficientes como calmantes.

 

O incenso tem origem antiga. Os egípcios já o acendiam em rituais, na crença de que o cheiro afasta os demônios e agrada os deuses. O costume se mantém nas missas católicas, em religiões orientais e também no uso doméstico, só para relaxar

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Desculpe o incômodo

O mau-cheiro de um depósito de lixo (foto) é um perfume inebriante para os urubus. Quanto aos seres humanos, o desconforto diante de um lugar como este é um aviso do olfato para mantê-los afastados da sujeira, habitat de bactérias nocivas. Se o lixão exalasse um cheiro bom, nossa saúde correria risco. Para os urubus, o fedor é um sinal que lá encontrarão comida

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Quem sabe é super

O gás de cozinha que você usa em sua casa é inodoro. O conhecido “cheiro de gás” provém de uma substância acrescentada pelos fabricantes ao butijão, por segurança. Sem ela, você não perceberia um eventual vazamento.

 

 

Lembranças aromáticas

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Sinta até que ponto um cheiro pode fazer o tempo voltar.

Nada como um perfume para despertar recordações. Mesmo depois que muitos anos se passaram, um simples cheiro pode tornar presentes situações já esquecidas. A explicação está no caminho que as sensações olfativas percorrem dentro do cérebro. Em vez de ir direto para os centros de análise no córtex cerebral, como as informações visuais e auditivas, os cheiros passam antes pelo sistema límbico, a sede das emoções. O escritor francês Marcel Proust (1871-1922) recorre à memória olfativa em sua obra mais famosa, Em Busca do Tempo Perdido. No primeiro dos sete volumes, o narrador resgata uma lembrança da infância, quando tomava chá com madeleines, um tipo de bolinho, na casa de sua tia. Confira, neste trecho do livro, o impacto emocional que um aroma é capaz de provocar.

 

As madeleines de Proust

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“… Abatido por um dia sem graça, pela perspectiva do dia seguinte que seria triste, pus aos meus lábios uma colherada de chá na qual eu deixara amolecer um pedacinho de madeleine… Estremeci, atento ao que de modo extraordinário se passava em mim. Um prazer delicioso me invadira, isolado, sem a noção da sua causa. (…) Não me sentia mais medíocre, contingente, mortal. De onde vinha esse prazer poderoso? (…) Todas as flores de nosso jardim e as do Parque de Swann, e as ninfas do rio Vivonne, e a gente simples da aldeia com suas casinhas, e toda a cidade de Combray e seus arredores – tudo aquilo que toma corpo e se torna sólido saiu, cidades e jardins, de minha xícara de chá.”

 

Perfume de mãe

Logo nos primeiros dias de vida, o bebê já reconhece a mãe pelo cheiro, antes mesmo de conseguir enxergar a sua imagem. Nos nove meses da gestação, o feto treinou o nariz com o líquido amniótico. Isso acontece em todo o reino animal. É pelo olfato que uma foca, numa praia, reconhece os seus filhotes entre milhares de outros

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