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Sandro Malburg Bosco

O iogue paulistano fala sobre os benefícios do jejum, um antigo ritual místico que seria eficaz para combater muitos males.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 dez 2001, 22h00

Jomar Morais

O paulistano Sandro Malburg Bosco, 47 anos, é uma referência brasileira em yoga, a arte milenar de harmonizar mente e corpo num processo de autoconhecimento e cura. Sandro lecionou yoga na Califórnia, Estados Unidos, criou o Programa de Prevenção e Redução do Estresse, adotado há seis anos por diversas empresas de São Paulo, e atualmente coordena o projeto Yoga & Saúde, destinado a portadores do vírus da Aids e dependentes químicos. Nos últimos anos, tem se destacado em outra vertente das práticas místicas e terapêuticas originárias do Oriente: o jejum.

A abstinência de alimentos é um recurso usado na medicina ayurvédica, da Índia, há cerca de 5 000 anos. Para desintoxicar o organismo, o ayurveda propõe jejuns personalizados, de acordo com uma classificação físico-psicológica dos pacientes. O tipo e o tempo da abstinência variam bastante, mas qualquer pessoa pode fazer o jejum de 12 horas, uma vez por semana, sem restrição de líquidos.

Em sua academia Yoga Dham, Sandro ensina aos alunos a jejuar como meio de alcançar mais rapidamente os benefícios prometidos pelo yoga. Nesta entrevista, ele explica por que o jejum, um ritual adotado pela maioria das grandes religiões do planeta, está ganhando cada vez mais espaço como importante ferramenta de saúde.

Super – Por que o jejum está em moda atualmente?

Nas últimas décadas, o homem vem reavaliando o legado das culturas antigas em vários campos, incluindo a medicina. Ao mesmo tempo, as pessoas querem descobrir formas de religiosidade não-dogmáticas, não-institucionais, que curem os males do corpo e da mente, superando os limites da ciência médica. O jejum é uma tradição religiosa e terapêutica que, bem orientada, pode melhorar a qualidade de vida dos seus praticantes, ao promover a desintoxicação do organismo, com reflexos positivos no humor.

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Como se dá essa desintoxicação?

Uma parte da energia do corpo é empregada na digestão dos alimentos e outra quantidade é consumida na eliminação de toxinas desses mesmos alimentos. Com o jejum, o processo de depuração se acelera – mas cabem aqui alguns cuidados com as pessoas debilitadas. Para elas, o início da abstinência de alimentos pode ser demasiadamente forte. Já uma pessoa saudável vai obter enormes benefícios com a prática regular do jejum. O organismo habitua-se a um descanso regular, com enorme economia de prana – a energia básica. Essa energia que seria gasta na digestão, acaba sendo usada pelo sistema imunológico, reforçando as defesas do organismo.

Não é um risco privar o corpo de alimentos, sua principal fonte de energia?

Podemos ficar semanas sem comer, dias sem beber, mas apenas minutos sem respirar. Segundo a tradição do yoga, extraímos nossa energia dos alimentos, da água e principalmente do ar. Quando não ingerimos sólidos, o corpo compensa extraindo mais energia da água e do ar. Com a prática dos exercícios respiratórios do yoga, esse benefício se amplia.

Qual a fórmula ideal de jejum?

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O jejum pode ser feito semanalmente. Na tradição iogue, há toda uma de-puração prévia fundamental, como a limpeza do estômago e do intestino. Isso é necessário, pois um dos males que mais afligem o homem moderno é a constipação intestinal. É tão comum que as pessoas nem se dão conta de que têm a doença. A verdade é que deveríamos evacuar pelo menos uma vez diariamente. Isso não acontece devido ao sedentarismo, aos alimentos industrializados, aos de origem animal e à dieta não balanceada.

Então, a abstinência temporária de alimentos não resolve tudo?

O intestino nessa condição é depositário de uma carga de material tóxico que, nos primeiros dias de jejum, é absorvido pelo organismo e lançado à corrente sangüínea como nutriente, envenenando ainda mais o sistema. Por esse motivo os sábios iogues desenvolveram os kryias, técnicas de lavagem estomacal e intestinal que limpam e preparam as mucosas para a prática do jejum.

Quais os cuidados recomendados para os iniciantes?

Em um jejum prolongado, ou seja, superior a três dias, iniciantes ou não podem utilizar, se necessário, mínimas pitadas de sal marinho para regular a pressão ou mínimas quantidades de mel em caso de prostração. A saída do jejum também é algo extremamente delicado. Recomenda-se refeições compostas de vegetais leves em pequenas quantidades, pois ocorre que o estômago se retrai durante a abstinência alimentar.

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Muita gente come frutas durante o jejum. Isso é bom?

O jejum de frutas é o que se conhece como jejum parcial. Boa parte das frutas é de fácil digestão, o que facilita o processo depurativo do organismo. No verão, podemos optar pelos tipos tropicais e, no inverno, acrescentar as frutas secas. Deve-se ter cuidado com a procedência das frutas. Aquelas que receberam grandes quantidades de agrotóxicos prejudicam o processo de desintoxicação do organismo.

Crianças e idosos podem jejuar sem risco?

O jejum não é recomendado para crianças, pois estão em um momento metabólico de crescimento. Já as pessoas idosas, desde que o façam de modo regular e moderado, podem ser beneficiadas. Aos 77 anos de idade, Gandhi fazia jejuns de 21 dias. O nutricionista americano Paul Bragg, que viveu quase um século, também fez jejuns prolongados após os 90 anos.

Na sua opinião, qual deve ser o limite do homem à mesa?

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Na filosofia do yoga, dizemos que você deve encher metade do estômago com sólido, um quarto com líquido e outro quarto reservar para o oxigênio. O homem adoece mais por excesso de comida do que por escassez.

O jejum produz algum benefício psicológico?

Como toda abstinência, o jejum também exige um esforço de autodisciplina. E a disciplina é um caminho para outros ganhos, para a felicidade. Eu, por exemplo, consegui melhorar a concentração e a memória jejuando.

Por que isso acontece?

O jejum ajuda a silenciar a mente. Assim, funciona como um mecanismo de controle sobre os sentidos. O filósofo Pitágoras exigia de seus discípulos que fizessem jejum de 40 dias para purificar o corpo e estimular a mente. Os animais carnívoros vão à caça praticamente em jejum, pois é quando os seus reflexos são mais precisos. A exemplo do homem, eles ficam preguiçosos e inativos após um almoço farto. Como toda abstinência, o jejum pede esforço sobre si mesmo e fortalece a disciplina e a espiritualização. A prática espiritual leva em conta o corpo, sem o qual não se pode pensar em vida ou crescimento espiritual.

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O vegetarianismo é a saída para quem deseja alimentação saudável?

O intestino humano é de um animal herbívoro. Sua estrutura é longa o suficiente para permitir a quebra das células vegetais, um processo lento de decomposição. Animais carnívoros são dotados de intestinos curtos, que eliminam do corpo, com maior rapidez, algumas substâncias altamente tóxicas. E a carne está cheia dessas substâncias. A alimentação vegetariana é a mais inteligente em termos nutricionais, higiênicos, econômicos e éticos.

O jejum é uma invenção humana ou existem na natureza outras espécies que optam por não comer?

Animais domésticos, como gatos e cachorros, jejuam sempre que adoecem ou sofrem algum acidente. Trata-se de uma reação instintiva que serve para que o organismo deles tenha tempo e condições para se restabelecer.

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