do Szklarz
Erro – Acreditar que a drenagem do sangue por meio de um corte ou com o emprego de sanguessugas podia curar doenças.
Quem – Médicos do mundo todo, inspirados em Hipócrates.
Quando – Durante 2 500 anos, da Antiguidade ao século 19.
Consequências – Um número incalculável de mortes decorrentes da própria perda de sangue ou da falência de múltiplos órgãos.
Hoje sabemos que cada gota dos 5 litros de sangue que temos circulando nas veias é absolutamente preciosa. Durante quase toda a história da Medicina, contudo, provocar sangramentos foi considerado ótimo para a saúde. Febre, dor de cabeça, pneumonia, infecção… A humanidade já acreditou que todas essas e mais algumas enfermidades podiam ser curadas tascando um belo corte no paciente e deixando ele sangrar.
Quatro humores
Sangrias são praticadas há pelo menos 4 mil anos. Mas foi no século 5 a.C. que elas ganharam verniz científico com Hipócrates, o pai da Medicina. “Ele acreditava que a existência era representada por 4 elementos – terra, ar, fogo e água -, que se relacionavam com 4 humores [líquidos] nos humanos: sangue, linfa, bile negra e bile amarela”, escreve o médico canadense Gerry Greenstone em artigo publicado no Jornal Médico da Columbia Britânical. “Ficar doente significava perder o equilíbrio entre os 4 humores. E o tratamento consistia, basicamente, em remover o excesso deles por meio de sangria, diurese, assim por diante.”
No século 17, uma das técnicas de drenagem do sangue mais comuns era a da lanceta, espécie de bisturi com dois gumes. Havia também a flebotomia, que empregava agulhas e bolsas coletoras num procedimento parecido com o da atual doação de sangue. Uma terceira técnica era a aplicação de até 50 sanguessugas da espécie Hirudo medicinalis – em cada “refeição”, elas conseguem sugar até 10 vezes seu próprio peso.
Caminho para o cemitério
Quando o francês Pierre Charles Alexandre Louis introduziu a estatística na Medicina, no século 19, os cientistas finalmente perceberam que boa parte dos que passavam por um sangramento ia parar no cemitério. Mas, aí, já era “um pouquinho” tarde. Depois de 2 500 anos tendo Hipócrates como inspiração, o número de vítimas fatais dos sangramentos era incalculável. Uma delas foi o rei Charles II (1630-1685), da Inglaterra, que retirou 700 mililitros de sangue para tratar uma convulsão e acabou tendo um ataque fulminante. George Washington (1732-1799), primeiro presidente dos EUA, também se deu mal: entrou em choque e morreu depois de uma sangria acompanhada de laxantes e indutores de vômito.