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Solidão pode não estar associada ao desenvolvimento de doenças, sugere estudo

Pesquisa analisou quase meio milhão de amostras genéticas. Entenda como ela foi feita, suas limitações – e o debate que propõe.

Por Eduardo Lima
24 set 2024, 19h00

“É impossível ser feliz sozinho”, cantava o maestro Tom Jobim na canção Wave. Mas talvez seja possível ser saudável.

Um novo estudo genético que analisou mais de 475 mil participantes mostra que, contrário ao que se pensava antes, a solidão pode não ser uma causa direta para várias doenças.

O estudo foi feito com os dados do UK Biobank, um grande banco de dados genético do Reino Unido usado para várias pesquisas diferentes. Os participantes tinham entre 37 e 73 anos. Os resultados dos cientistas da Universidade Médica de Cantão, na China, foram publicados na revista Nature Human Behaviour na última semana.

A solidão é um sentimento subjetivo de desconexão e isolamento social. Ela já foi ligada a problemas de saúde como depressão, diabetes e problemas cardiovasculares. Porém, o que o novo estudo aponta é que, para a maioria das doenças, a associação da enfermidade com a solidão provavelmente não é de causa e efeito.

56 doenças diferentes foram analisadas em relação à solidão. Para 30 dessas, pouco mais da metade do total, a solidão é comumente associada a um risco maior de desenvolvê-las. Entre elas estão depressão, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e esquizofrenia

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Dentro desse grupo, 26 delas tinham dados genéticos que permitiam análises mais profundas. Segundo o estudo, porém, a associação não era de causa e efeito em 20 delas, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Apesar disso, os cientistas dizem que, por mais que a solidão possa não ser um fator diretamente ligado ao desenvolvimento de doenças, administrar fatores de risco relacionados ao sentimento de estar só – como comportamentos que não são saudáveis e comorbidades – pode ajudar a saúde no longo prazo.

Possíveis vieses do estudo

Os voluntários do UK Biobank tendem a ser brancos, mais velhos e com mais níveis de educação formal do que a média da população do Reino Unido, muitas vezes seguindo um estilo de vida mais saudável do que o resto do país. É um viés de participação que pode influenciar os dados, que ainda não podem ser tomados como verdade incontestável.

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Outro detalhe que poderia ser importante para o estudo, mas não consegue ser analisado pelo UK Biobank, é o contexto da solidão: por que começou, quando tempo durou etc. Esse contexto é muito importante para entender a formação de qualquer doença.

Para os autores do estudo, a solidão parece ser mais um sinal que pode ajudar a prever doenças em pacientes do que uma causa direta dos problemas. Sentir-se sozinho pode dificultar a vida cotidiana, o que pode aumentar o risco de alguém ter uma doença física. Os cientistas ressaltam que mais estudos são necessários para entender melhor como se dá essa associação.

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