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Superbactérias? Entenda o problema da resistência aos antibióticos

Siga o conselho do seu médico: o uso indevido de antibióticos ajuda na criação de bactérias imunes a eles – um problema que pode causar mais de 10 milhões de mortes em 2050.

Por Rafael Battaglia
14 nov 2018, 19h43

Quem já precisou de antibióticos para tratar de uma infecção deve ter ouvido as mesmas recomendações: tomar sempre no mesmo horário, não interromper o tratamento antes do fim, evitar bebidas alcóolicas etc. Pode parecer meramente protocolar, mas esses pedidos do médico visam a evitar a resistência bacteriana.

Naturalmente, as bactérias passam por um processo de mutação que, com o tempo, faz com que os antibióticos percam o efeito elas. Funciona assim: a pressão seletiva do remédio faz com que apenas os organismos imunes a ela sobrevivam. São eles, então, que passarão os genes adiante, forçando a criação de medicamentos mais potentes.

Excluindo métodos alternativos (como a fagoterapia, que combate bactérias utilizando vírus especiais), não há muito como fugir do ciclo da resistência bacteriana. No entanto, o uso indevido e excessivo de antibióticos – além de sua utilização na agropecuária e a falta de saneamento básico – aceleram esse processo, o que pode trazer graves consequências no futuro.

Os números do problema

Atualmente, a resistência bacteriana causa 700 mil mortes por ano. Mas um relatório do Reino Unido sobre o tema, lançado em 2014, fez uma previsão preocupante: em 2050, esse número pode chegar a 10 milhões de pessoas, superior doenças como o câncer (8,2 milhões).

A pesquisa analisa ainda que o impacto econômico do crescimento desse problema pode representar um queda de até 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial – algo em torno de US$ 100 trilhões.

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No Brasil, o problema também já deu as caras. Há registros em diversos estados brasileiros de surtos de KPC, uma superbactéria que ataca em ambientes hospitalares (um dos mais propícios para o surgimento de organismos resistentes). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ela era a maior causa de infecções no sangue de pacientes de UTI no Brasil. Imune a diversos antibióticos, ela causa doenças como pneumonia e infecções generalizadas.

Como combater as superbactérias?

De maneira geral, o governo precisa implementar políticas de melhorias em saneamento básico, organizar campanhas de conscientização para a população e fiscalizar o uso de antibióticos na agricultura e pecuária. Mas, enquanto isso não acontece, médicos e pacientes podem seguir algumas recomendações.

“Acertar no antibiótico correto para cada tipo de infecção é extremamente importante”, disse Flávia Rossi, médica do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante de um grupo de vigilância sobre o fenômeno da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela explica que é preciso detectar qual é a bactéria causadora do problema o quanto antes para que seja usado o remédio adequado. “Vale dizer que existem bactérias ‘do bem’, que ajudam em certas funções do corpo e podem ser afetadas com um medicamento incorreto”, completa.

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As doses indicadas pelos médicos são estabelecidas de acordo com a doença e devem ser seguidas até o fim para evitar que as bactérias voltem mais fortes. Em outras palavras, nada de interromper o tratamento, mesmo que você já esteja melhor.

Lembra da regra sobre o consumo de álcool? Ela tem uma explicação: bebidas alcóolicas são diuréticas – fazem com que você vá mais vezes ao banheiro. Só que urinar em excesso pode diminuir a concentração do remédio no sangue, atrapalhando o tratamento. Outra prática que pode interferir na dosagem correta é o hábito de cortar as pílulas ao meio. Sim, algumas são grandes e difíceis de engolir. Mas vale o esforço.

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