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Tratamento que cura câncer em 96% dos ratos será testado em humanos

Até o final do ano, 35 vítimas de linfoma serão submetidas ao tratamento experimental – que estimula o sistema imunológico do paciente a combater o tumor com pouquíssimos efeitos colaterais

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 abr 2018, 12h49 - Publicado em 4 abr 2018, 12h38

No começo de fevereiro, uma equipe de pesquisadores da Universidade Stanford anunciou uma nova terapia contra o câncer que eliminou tumores (e metástases) em vários órgãos de ratinhos de laboratório com 96% de eficiência. Linfoma, melanoma, câncer de mama e câncer colorretal reagiram igualmente bem ao método – relembre na matéria da SUPER. As notícias da época terminaram com a nota esperançosa de sempre: “agora, é só esperar os testes com seres humanos começarem”.

Bem, esse dia chegou. Segundo o San Francisco Chronicle, Ronald Levy, o oncologista responsável pelo artigo científico, já está convocando voluntários com linfoma nos estágios iniciais para participar do primeiro round de experimentos. Até o final do ano, na previsão mais otimista, os 35 pacientes que passarem pela seleção serão submetidos a duas baterias de testes.

Normalmente, as agências reguladoras e comitês de ética demoram bem mais de dois meses para aprovar a aplicação, em seres humanos, de um método que só foi testado em outros animais. Nesse caso, porém, Levy usou um truque para acelerar o processo: baseou o tratamento em uma mistura inusitada de dois remédios que já estão no mercado. “As drogas que vamos injetar já são fabricadas por empresas diferentes e já são consideradas seguras”, afirmou o médico. “É a combinação que estamos testando.”

O método de Levy é classificado como uma imunoterapia: um conjunto de tratamentos contra o câncer que estimulam as células de defesa do paciente a atacar o tumor – diferente de abordagens mais conhecidas como a quimioterapia e a radioterapia, que vão direto no alvo.

De maneira bem simplificada, nosso sistema imunológico é capaz de detectar as proteínas estranhas produzidas pelas células cancerígenas – ou seja, percebe que há algo de errado com o organismo –, mas não consegue reagir porque o tumor tem uma cartola de truques bioquímicos para desarmar os leucócitos. Eles ficam inativos. Uma das maneiras de contornar o problema é extrair os leucócitos (também conhecidos como glóbulos brancos) do paciente, usar engenharia genética para editá-los em laboratório e então injetá-los de volta no corpo. Acordados. Outra envolve ativar o sistema imunológico inteiro, e não só as células da região em que está o câncer – o que pode vir com efeitos colaterais graves de brinde. 

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O truque de Levi é mais eficiente que essas duas abordagens pré-existentes: ele ativa só as células de defesa que já estão próximas do tumor, e faz isso usando remédios – um truque bem mais simples, rápido e barato que editar DNA. “Todos esses avanços da imunoterapia estão mudando a prática médica”, afirmou o oncologista em fevereiro, na época do anúncio. “Mas a nossa abordagem não exige a ativação completa do sistema imunológico nem a customização das células imunes do paciente. Nós aplicamos quantidades muito pequenas de dois agentes uma única vez, e eles estimulam só os leucócitos que já estão dentro do tumor [atraídos por suas proteínas].”

Depois que os glóbulos brancos são ativados pela combinação de drogas criada por Levy – entenda melhor o mecanismo bioquímico aqui –, eles não só destroem o tumor principal como usam a assinatura proteica das células mutantes para caçá-las por todo o organismo, destruindo as metástases (“filiais” do câncer que aparecem em outros pontos do corpo e são difíceis de combater com cirurgias tradicionais).

As outras imunoterapias mencionadas já são usadas na prática. O hospital universitário da Universidade da Califórnia, por exemplo, aplica a versão que usa edição genética (chamada tecnicamente de CAR-T) como terceira opção em pacientes de linfoma que não reagiram bem a outros métodos. Só os medicamentos saem meio milhão de dólares, mas as taxas de sobrevivência vão de 10% para 60%. O método de Levy tem potencial para melhorar ainda mais essa marca.

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