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Xenotransplante: mulher americana é segunda pessoa a receber rim de porco

Lisa Pisano também se tornou a primeira pessoa a receber uma bomba cardíaca mecânica junto com o transplante de um órgão; entenda o procedimento.

Por Caio César Pereira
25 abr 2024, 19h00

Em março deste ano, médicos do Massachusetts General Hospital, nos EUA, realizaram o primeiro transplante de rim de um porco geneticamente modificado para uma pessoa viva. Pouco menos de um mês depois, uma equipe de cirurgiões do NYU Langone Health, em Nova York, repetiram o feito em uma mulher americana. Com um bônus: essa é a primeira vez que alguém recebe um órgão (humano ou não) e, ao mesmo tempo, uma bomba cardíaca mecânica para ajudar o coração a funcionar.

Lisa Pisano, uma avó de 54 anos com uma doença renal em estágio terminal e insuficiência cardíaca, foi a paciente voluntária a receber o xenotransplante (o nome desse tipo de cirurgia envolvendo órgãos de animais). O caso dela, porém, é um tanto diferente de Richard Slayman, o paciente que recebeu o rim de porco no mês passado. 

Isso porque pessoas que tem problemas de insuficiência cardíaca e renal ao mesmo tempo podem não ser elegíveis para receber um órgão humano transplantando, já que não podem receber os dois órgãos simultaneamente. Geralmente, esse tipo de procedimento apresenta muitas contraindicações que poderiam colocar a vida do paciente em risco durante o procedimento. Foi esse o caso de Pisano.

Leonardo Riella, médico brasileiro do hospital de Massachusetts responsável por liderar o transplante de rim de porco em Slayman no mês passado, conta que existem duas maneiras em potencial para como o xenotransplante pode ajudar os pacientes.

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“De um lado, temos os candidatos a transplante de rim que estão na lista de espera, que infelizmente não têm um doador, mas foram aprovados para receber um transplante de rim humano”, disse em entrevista a Scientific American. “A outra é com um paciente que não é um candidato para um transplante de órgão humano, mas [que recebe] o xenotransplante como último recurso potencial.”

Slayman, por exemplo, se enquadra no primeiro caso, mas Pisano apresentava um quadro um pouco mais grave. Por necessitar de dois órgãos, ela não era uma candidata elegível para receber o transplante, já que sua cirurgia tem um risco bem maior.

Assim, os pesquisadores decidiram realizar uma dupla cirurgia, utilizando o transplante de um rim de porco juntamente com uma bomba cardíaca mecânica. O primeiro passo da equipe coordenada por Nader Moazami, chefe da divisão de transplante de coração e suporte circulatório da NYU, foi implementar um LVAD.

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O LVAD (left ventricular assist device, ou dispositivo de assistência ventricular esquerda), é um aparelho utilizado para auxiliar ou assumir por completo a função de bombeamento e circulação de um dos átrios do coração (no caso de Pisano, o esquerdo).

O dispositivo é uma bomba mecânica utilizada em pacientes com insuficiência cardíaca já quase completa, de forma que praticamente todas as funções do coração são realizadas pelo aparelho. Operado por uma bateria, ele ajuda a principal câmara de bombeamento do coração, o ventrículo esquerdo, a levar o sangue para o resto do corpo. 

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Porém, por conta da alta taxa de mortalidade, pessoas que precisam de diálise (como no caso de Pisano) também não são elegíeis para receber um transplante de LVAD. Assim, os médicos decidiram por realizar em seguida o xenotransplante do rim de porco para eliminar esse problema. Essa foi a primeira vez, aliás, que alguém com um aparelho LVAD recebeu algum tipo de transplante.

Os cirurgiões depois transplantaram um rim de porco geneticamente modificado, mas com algumas diferenças. No caso de Slayman, o rim do porco possuia 69 alterações genéticas para impedir a rejeição. No caso de Pisano, no entanto, um único gene foi removido. 

O rim, porém, foi transplantado com glândula timo incorporada. Os médicos acreditam que a glândula possa treinar o sistema imunológico a não atacar o rim estranho (a chamada rejeição) ao reduzir a quantidade de medicamentos para a imunossupressão.

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A cirurgia experimental foi realizada sob o programa de Acesso Expandido da Food and Drug Administration dos EUA (FDA), e pode ser uma alternativa viável para pessoas com doenças terminais e com opções limitadas de tratamento.

“Nosso sucesso neste único paciente vai abrir muitas possibilidades para os milhares de pacientes por aí que têm alguma combinação de problemas com o coração e o rim”, diz Nader para a Scientific American.

Tanto Pisano quanto Slayman, agora, continuam sendo monitorados, mas não apresentaram nenhum sinal de rejeição. Slayman, inclusive, já recebeu alta.

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Apesar do sucesso de ambos os transplantes, as equipes de ambas as cirurgias, no entanto, são cautelosas. Segundo eles, serão necessários ensaios clínicos em um grupo maior de pessoas antes que os xenotransplantes possam se tornar um tratamento aprovado  e usado com mais frequência.

As façanhas, no entanto, são um marco e podem, no futuro, ajudar a amenizar o problema das grandes listas de espera de transplantes de órgãos em todo o mundo.

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