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17 medalhistas olímpicos do Rio usaram algum tipo de doping, indicam documentos obtidos por hackers

Entenda a guerra entre os ‘Anonymous do doping’ e superatletas como Simone Biles, melhor ginasta da história, as irmãs Williams e todo um time de nadadores asmáticos.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 15 set 2016, 17h15

Simone Biles, com seu 1,45 m de altura, foi uma das maiores sensações da Olimpíada do Rio de Janeiro, e deixou a competição com 5 medalhas. O que Biles, as irmãs Williams do tênis, um cavaleiro inglês do ciclismo e o time de natação da Alemanha têm em comum?

Todos eles fazem parte do grupo de 25 atletas que teve laudos médicos confidenciais vazados nessa semana por hackers chamados de Fancy Bears. Os “Anonymous do doping” invadiram o site da WADA (Agência Mundial Antidoping) e distribuíram documentos chamados de TUE – Exceções de Uso Terapêutico.

Um TUE é emitido quando um atleta está usando uma substância proibida pelas regras do seu esporte – mas por motivos médicos. Um profissional da WADA analisa os laudos que provam que aquele atleta precisa do remédio proibido e aí aprova ou nega essa autorização especial.

Só que a acusação dos Fancy Bears é que os TUEs estão sendo usados para justificar o doping de alguns atletas e esconder que eles estariam melhorando sua performance de um jeito injusto – não seria coincidência, então, que 17 dos 25 atletas citados tenham acabado de ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio.

Na maioria dos casos, os atletas estavam usando algum tipo de esteroide. O nome parece alarmante, certo? Mas e se a gente estiver falando de uma bombinha de asma? As bombinhas, afinal, contêm esteroides para aliviar os sintomas da asma.

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O ciclista Sir Bradley Wiggins, que ganhou sua oitava medalha olímpica no Rio (e virou cavaleiro inglês em 2013) não ligou a mínima de ver seu nome no mais recente vazamento dos Fancy Bears. Isso porque, segundo disse ao jornal The Telegraph, o mundo inteiro sabe que ele tem asma. Não estava usando estimulantes para se destacar – estava tomando remédio para não ter que escolher entre competir e respirar.

Dos 5 atletas alemães na lista, 3 eram nadadores – e todos estavam tomando remédios indicados para a asma. Um time de natação de elite cheio de asmáticos medicados é um tanto bizarro.

O problema é o seguinte: se, por um lado, esses são remédios totalmente justificáveis para um quadro alérgico, por outro eles aumentam a capacidade do pulmão e oferecem vantagens injustas, especialmente na natação. Se for esse o caso, porém, não deu muito certo: os alemães da lista saíram do Rio sem medalha.

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Outro tipo de remédio comum nos documentos vazados eram antiinflamatórios como a prednisona. A maioria dos extensos documentos vazados das irmãs Serena e Venus Williams falavam justamente dessa droga, que é conhecida de qualquer um que tem infecções respiratórias frequentes. Só que nem todo remédio ali é “light” assim: Serena tinha uma autorização de uma semana para tomar Oxicodona, um analgésico opioide parente da heroína.

Todo mundo já precisou de um corticoide na vida para se recuperar de alguma doença – e os TUEs realmente só “perdoam” os atletas por prazos curtos, de 5 a 15 dias. Só que a história fica ainda mais polêmica entre os atletas norteamericanos.

5 dos 11 esportistas americanos denunciados pelo Fancy Bears não estava tomando antiinflamatórios e sim anfetaminas, indicadas para quadros de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Entre eles estava a própria Simone Biles, que se manifestou sobre seu TDAH pelo Twitter e disse tomar Ritalina desde que era criança.

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Só que a ideia de medicar pacientes com TDAH já causa discórdia no dia a dia – no esporte, mais ainda. O remédio deixa a pessoa mais alerta, aumenta a atenção e a concentração, o que pode ser a diferença entre a vitória e a derrota em competições de alto nível. A MBL, a liga de basebol nos EUA, ofereceu autorizações excepcionais para esse tipo de medicação a mais de 100 atletas em 2011 – o que foi o equivalente a um “dopping legalizado”, na opinão de alguns médicos, porque o transtorno só se manifesta em cerca de 5% da população e nem sempre precisa ser medicado.

A história fica ainda mais complicada, porque os hackers que fazem acusações, os Fancy Bears, se declaram um grupo internacional, mas foram ligados à Rússia pela própria WADA. O Kremlin negou a conexão, dizendo que todo mundo põe a culpa na Rússia por tudo. Mas, caso a ligação seja comprovada, o grupo de ataque teria motivos nada nobres para denunciar outros atletas, já que o país foi punido pela WADA por um amplo esquema de doping apoiado pelo governo nas Olimpíadas de Inverno de 2014. E eles prometem: vem mais por aí.

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