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A ausência de dados sociais sobre Covid-19 no Brasil

Não registramos cor, renda, sexo ou o local de moradia da maioria das vítimas da covid-19. E isso é um problema na hora de organizar a fila da vacinação.

Por SUPER
Atualizado em 12 mar 2021, 14h29 - Publicado em 10 fev 2021, 19h37

Na cidade de são Paulo, homens negros têm quase três vezes mais chances de morrer de Covid-19 que mulheres brancas. No Rio, para cada morte em Botafogo há 13 em Bangu, na periferia. Dados sociais e étnicos sobre a doença, porém, nem sempre são disponibilizados pelos Estados e pela União.

Fernanda Campagnucci, diretora executiva da Open Knowledge Brasil, falou à Super sobre o tema. A ONG criou o Índice de Transparência da Covid-19, que avalia a qualidade de dados públicos sobre a pandemia. Capitais como São Luís e Rio Branco, por exemplo, têm a menor transparência.

Quais dados devem ser coletados?

Gênero, idade, cor e localização – que também é indicador de condição socioeconômica. Nosso sistema público de saúde tem uma tradição de coleta de dados. O que a gente observou na pandemia, porém, é que esse regramento não foi seguido. Então, tínhamos um buraco muito grande nessa base de informações. Com a pressão de várias organizações, como ONGs ligadas à causa racial e indígena, houve melhoria. Dados bem detalhados, para análise epidemiológica e estatística, no entanto, ainda faltam.

Por exemplo: nas periferias, a taxa de contaminação pode ser mais alta por causa da precariedade dos imóveis, da quantidade de pessoas que têm que compartilhar um espaço, da dependência do transporte publico e e do acesso à saúde. É o que se vê na Região Norte: com o colapso no sistema de saude, muita gente da elite local viajou para outros estados pra conseguir acesso a oxigênio. A população de renda mais baixa não tinha alternativa. 

Por que fazer esse levantamento é importante?

É preciso entender quem está sendo vacinado, por exemplo, para saber se os grupos prioritários vêm sendo efetivamente atendidos e se diferentes segmentos da população estão recebendo a vacina, independente de residência ou situação econômica. Até agora, foi apresentado um plano nacional [de vacinação] genérico. Ao que parece, essa coleta não foi feita ou, se foi, não foi utilizada para a versão final do documento. A transparência tem uma função tripla: contribui para a pesquisa científica, ajuda a monitorar as políticas públicas e também a prevenir a corrupção, coibindo eventuais desvios de finalidade dessas vacinas.

Quando nós fizemos o primeiro relatorio estatistico sobre a questão indigena na covid, em setembro, constatamos que cerca de um quarto dos casos de sindrome respiratoria aguda grave não contêm a cor do paciente no questionário. Além disso, a disponibilidade de informação varia conforme o lugar. No estado de Santa Catarina, a taxa de preenchimento desse dado era de 6%, mas no Distrito Federal, era de 58%. Há lugares que ficam bem prejudicados nesse questionario. 

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