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Como um náufrago indonésio sobreviveu 49 dias à deriva

"As Aventuras de Pi" da vida real durou menos tempo, mas não terminou em tragédia pelo mesmo motivo da ficção: a luta pela vida.

Por Ingrid Luisa
24 set 2018, 20h14

Você já deve ter assistido ao filme “As Aventuras de Pi”, que venceu quatro categorias do Oscar em 2013. Baseado no best-seller de Yann Martel, ele conta a história de um menino indiano que atravessa o Pacífico por mais de 200 dias, dividindo uma pequena embarcação com um tigre. Por diversos motivos (como o fato de dividir um barco com um tigre, por exemplo), a vivência de Pi e suas aventuras são pura ficção. Mas, mais uma vez, a vida imitou a arte para provar que a resiliência humana é bem maior do que se imagina.

O Pi de verdade existe e seu nome é Aldi Novel Adilang. O jovem, que vive na Indonésia e tem 18 anos, foi resgatado vivo após passar 49 dias à deriva em alto-mar.

E, acredite, o Pi indonésio tinha uma vida de aventuras até maior que o da ficção. Antes mesmo de virar náufrago, o jovem já trabalhava em algo peculiar: era um “guarda-lâmpada”, variação do ofício de pescador um tanto comum no sudeste da Ásia. O trabalho de Aldi e de outros guardiões de lâmpadas é passar a semana em pequenas cabanas de pesca chamadas rompongs. Um rompong tradicional é ancorado no fundo do mar para ficar fixo, por isso não tem motor, velas ou remos. E os “guardiões” ficam lá para garantir que as lâmpadas, principais iscas para os peixes, continuem acesas.

Uma vez por semana, a empresa que empregava Aldi recolhia os peixes e reabastecia os suprimentos de sua cabana. A estalagem improvisada ficava a 125 km da costa de Celebes, uma das grandes ilhas da Indonésia. Mas, no último 14 de julho, quando ventos fortes romperam as cordas que o prendiam, seu rompong inteiro foi lançado ao mar aberto.

O jovem foi parar a milhares de quilômetros de distância, perto das ilhas Guam, na Micronésia. Com apenas uma semana de suprimentos, nosso Pi foi rapidamente forçado a recorrer à caçada de peixes, que cozinhava com pedaços de madeira de sua própria cabana. Não podendo beber diretamente água do mar, ele “filtrava” o recurso com auxílio de suas próprias roupas, como forma de diminuir a concentração de sal.

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A cada momento em que Aldi avistava um navio, tinha esperança de ser resgatado. Foram mais de dez embarcações durante dois meses. Apesar disso, nenhuma delas o viu ou parou para resgatá-lo.

Em 31 de agosto, o Pi da vida real avistou o petroleiro panamenho Arpeggio, e conseguiu fazer uma transmissão em seu rádio de emergência. Ele acabou sendo resgatado e levado até o Japão.

Antes do final feliz, é importante destacar que os paralelos não param por aí: enquanto o Pi da ficção manteve sua fé e humanidade fazendo amizade com o tigre, Aldi utilizou uma abordagem, digamos, mais metafísica. Em entrevista ao jornal local Tribun Manado, o jovem afirmou ter pensado que “ia morrer lá fora”, e que chegou até a cogitar pular no oceano e para por fim à sua experiência como náufrago. Mas, nesses momentos, ele alegou lembrar do conselho de seus pais: “quando desesperado, ore”. Aproveitando a bíblia que levava à bordo, foi o que ele fez.

Aldi está com a família, em Manado, na Indonésia, desde o dia 8 de outubro – e em um bom estado de saúde, segundo reportaram autoridades locais. Se ele está pronto para uma próxima aventura? Bem, talvez seja meio cedo para cravar.

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