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Entenda em 9 passos a pontuação da ginástica artística

Era muito fácil saber o que significava o 10 da ginasta Nadia Comaneci em 1976. Hoje em dia, tirar 10 é sinal de derrota no esporte.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 29 jul 2021, 11h35 - Publicado em 8 ago 2016, 16h00

Nesta quinta (29), os Jogos de Tóquio foram palco para a primeira medalha olímpica da ginástica artística feminina do Brasil. Na modalidade individual geral, que soma a nota dos quatro aparelhos (saltos, trave, paralelas assimétricas e solo), Rebeca Andrade terminou em segundo lugar – e garantiu a prata.

As equipes de ginástica artística fazem sucesso no Brasil a cada Olimpíada. O problema é quando chega a nota, parecendo o preço da gasolina no posto, e ninguém sabe se deveria comemorar.

Nem sempre foi assim: até uma década atrás, assistir à ginástica artística era como ir para a escola. Todo mundo sabia que quem tirava 10 era o melhor da sala e ponto. A pontuação já era rígida e levou 48 anos para uma ginasta conseguir nota 10 nas Olimpíadas. Foi esse feito que transformou a romena Nadia Comaneci em celebridade internacional em Montreal, nos Jogos de 1976. Mas daí para frente os 10 começaram a ficar comuns – até demais.

Depois das Olimpíadas de Atenas, em 2004, a Federação Internacional de Ginástica criou um novo Código de Pontos, em que a pontuação perfeita se tornou praticamente impossível de alcançar (e de entender). Mas estamos aqui para te ajudar.

1. O básico

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A nota da ginástica é dividida em duas partes: a pontuação de dificuldade (vamos chamá-la de PD) e a de execução (PE). A primeira avalia o quão desafiadoras são as acrobacias que o atleta vai apresentar. Uma série difícil tem uma PD entre acima de 6, chegando perto de 7. Já a PE tem nota máxima de 10 e o ginasta perde pontos por erros técnicos e artísticos durante os exercícios.

O total final é a soma da PD e da PE. O total hipotético (que nunca aconteceu) seria de 20 pontos – atualmente, os atletas mais incríveis chegam até 17.1 nas suas melhores competições.

2. Requisitos técnicos

A ginasta começa a apresentação. Enquanto isso, dois juízes ficam anotando cada movimento feito. Eles são os avaliadores da PD. A primeira tarefa deles é garantir que as ginastas realizem movimentos obrigatórios para cada aparelho. Nas barras paralelas, por exemplo, a atleta precisa fazer pelo menos uma transferência da barra superior para a inferior e voltar. No solo, precisa realizar movimentos de dança. Se fizer tudo isso direitinho, sua nota de dificuldade mínima é de 2.5 pontos.

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3. Top 10

Além das obrigações, cada ginasta vai incluindo os movimentos que quiser na sua série. Durante o exercício, os mesmos juízes classificam as sequências segundo o Código de Pontos, que divide as acrobacias em categorias de A a I. Um movimento tipo A vale 0,1 ponto, um tipo B 0,2 e assim por diante. O duplo twist carpado, especialidade da ex-ginasta Daiane dos Santos, é categoria G e vale 0,7.

No final da série, os juízes contam só os movimentos mais difíceis da série – o top 8 para as meninas e o top 10 no masculino. Cada um chega a uma nota final sozinho, mas depois a dupla de juízes chega a um consenso e anuncia a PD.

4. Bônus

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Não adianta um atleta aprender uma única acrobacia de categoria G e continuar repetindo o salto: cada movimento só conta uma vez para a nota. Mas um jeito de conseguir dar um up na pontuação é conectar movimentos. Se o ginasta realiza duas sequências sem parar entre elas, consegue até 0.2 a mais por sequência. É por isso que Shang Chunsong, ginasta chinesa, completa suas acrobacias de solo sempre com um mortal para frente – os pequenos bônus contam muito no final.

5. Os 5 cavaleiros da execução

Ao lado dos juízes da PD, fica um grupo bem maior de avaliadores da execução dos atletas. São cinco juízes, que ficam atentos a qualquer joelho dobrado ou pernas separadas. Ao contrário da PD, que começa de zero e vai somando pontos ao longo da apresentação, a PE parte de 10 e vai diminuindo conforme os ginastas cometem erros.

Os juízes também seguem uma tabelinha do Código, que indica o que é uma falha leve (dar um passo para trás na aterrissagem, desconto de 0.1)  e uma falha grave (cair de bunda, apoiar a mão no tablado, desconto de 1.00). Só que aí a avaliação pode ser mais subjetiva. Por isso, ao contrário da PD, na PE não tem consenso. A nota mais alta e a mais baixa são descartadas e a pontuação divulgada é uma média das três notas do meio.

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6. Não gostei, e aí?

Na pontuação da ginástica, o treinador tem espaço para contestar apenas a nota de Dificuldade – e precisa fazer isso antes que o próximo atleta termine de se apresentar.  Os juízes reavaliam a situação por vídeo. Já no caso da PE, antes da nota sair, o Painel de Referência (outros dois juízes) revisa cada avaliação e ninguém mais pode reclamar.

7. E como ganha?

A primeira parte da competição é classificatória. Para uma única apresentação, existem 3 rankings diferentes: por time, por atleta e por aparelho. Um país leva equipes de 4 pessoas para cada aparelho, mas só 3 notas contam (a pior é descartada). No final, a nota nacional é a soma do desempenho dos atletas e os 8 países com notas mais altas vão à final por equipes.

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Os mesmos exercícios já valem para avaliar quem vai para as finais individuais. Os 24 atletas com a melhor soma de notas em todos os aparelhos vão ao individual geral – ou seja, competem em todas as categorias. Já nas finais por aparelhos, vão as 8 melhores pontuações de cada prova específica. No total, 14 medalhas de ouro são disputadas na ginástica.

8. Perfeição x Evolução

Todo o sistema de pontuação mudou depois que a Federação percebeu que o esporte precisava evoluir. Com tanta gente tirando 10 era difícil diferenciar os atletas “certinhos” dos verdadeiramente habilidosos. Quem fazia movimentos perfeitos, mas fáceis, tinha quase tanta vantagem quanto os que se arriscavam. Com o sistema atual, as notas deixam mais clara a separação entre os ginastas.

Aí existe espaço também para estratégia dentro do esporte: nos Jogos do Rio 2016, por exemplo, o Brasil preferiu priorizar notas altas de Execução em séries menos desafiadoras na classificatória. Na final, os atletas ainda têm seus movimentos mais difíceis e com notas mais altas na manga. No tudo ou nada, vale correr o risco da execução não sair tão perfeita.

9. O problema do desafio

Nem tudo são flores. Com o novo sistema, todo mundo ficou mais disposto a se desafiar – até os atletas sem preparo suficiente. É o caso da indiana que fez o Salto da Morte para chegar às finais desse aparelho (e foi bem mal nos outros). PDs mais altas são mais garantidas do que PEs quase perfeitas.

Para tentar equilibrar isso, os juízes de execução foram ficando cada vez mais carrascos: antes, o código só tirava 0,5 por uma queda. Com o novo sistema, o desconto subiu para 0,8 e, hoje em dia, é um ponto inteiro. O objetivo é que os atletas pensem duas vezes antes de tentar movimentos perigosos.

Na opinião de alguns atletas e treinadores, porém, não tem dado certo o suficiente. No Rio, dois ginastas se machucaram feio. O alemão Andreas Toba rompeu ligamentos em uma queda no solo. O vídeo da perna quebrada do francês Samir Ait Said também horrorizou as redes sociais depois que ele aterrissou mal de um salto sobre a mesa.

Para Fabian Hambuechen, um dos poucos ginastas atuais que já competia em 2004, com a pontuação antiga, isso é sinal de que está na hora de rever o sistema mais uma vez. A Federação Internacional tem um baita desafio pela frente: encontrar uma forma de avaliar os atletas que não coloque um limite para o que possam alcançar (ou seja, sem nota 10), mas que não influencie os ginastas a arriscar ferimentos graves por medalhas. Melhor ainda se, nessa trajetória, eles conseguirem inventar uma pontuação mais compreensível para a legião de fãs casuais da ginástica que surgem a cada quatro anos.

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