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Estudo aponta como evitar que a soja destrua o Cerrado

Cientistas do INPE afirmam que é possível salvar 5 milhões de campos de futebol de vegetação nativa - e, ao mesmo tempo, aumentar a produção agrícola

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 18 jul 2019, 09h21 - Publicado em 18 jul 2019, 09h19

Em comparação com a Amazônia, o Cerrado é uma verdadeira terra de ninguém. Enquanto cerca de metade da floresta tropical está protegida por áreas de conservação, apenas 13% da maior savana sul-americana conta com algum tipo de proteção legal. Não é à toa que menos de 20% da área original do bioma permanece intacta. Das atividades mais danosas ao Cerrado, a principal tem sido a agricultura, especialmente o cultivo de soja.

Isso fica claro na safra de 2015, em que 48% dos grãos produzidos no país vieram de lá. Quase um quarto das plantações ficam no Matopiba, maior fronteira agrícola do Brasil, que reúne porções dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ali, a área ocupada pela soja cresceu 253% entre 2000 e 2014. Neste período, no Cerrado como um todo, estima-se que 30% da expansão da soja tenha ocorrido em terras onde antes havia vegetação nativa.

Na Amazônia, só não aconteceu a mesma coisa graças à chamada Moratória da Soja, um pacto ambiental selado entre sociedade civil, indústria e governo para proibir a compra de grãos plantados em terrenos com desmatamento recente. Funcionou: apenas 13% da produção brasileira de soja veio da região amazônica em 2015. Especialistas apontam a necessidade de medidas urgentes para frear o avanço sem escrúpulos do agronegócio sobre o Cerrado.

Um estudo liderado por pesquisadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e publicado nesta quarta-feira (17), sugere que a solução é incluir o bioma na moratória que protege a floresta amazônica. “Segundo o nosso modelo, expandir a Moratória da Soja da Amazônia para o Cerrado pode evitar a perda de uma quantia significativa de vegetação nativa e, ao mesmo tempo, bater metas de produção de soja”, afirma em comunicado Aline Soterroni, do INPE, autora principal e pesquisadora do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados.

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Foi a primeira vez que cientistas analisaram os dados para entender qual seria o impacto dessa medida. Descobriram que seria ótimo: evitaria que 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa do Cerrado fossem convertidas em lavouras de soja entre 2020 e 2050. Isso equivale a mais de 5 milhões de campos de futebol. Para conciliar a preservação ambiental com o aumento da produtividade agrícola, é só usar melhor a terra.

De acordo com o estudo, já existem pelo menos 25,4 milhões de hectares de área desmatada na região, usada principalmente como pasto para pecuária extensiva de baixa eficiência. Há espaço de sobra para plantar soja, e mesmo incluindo o bioma na moratória, a redução da área cultivável no país seria de apenas 2%. Só assim para conter a destruição do Cerrado, lar de espécies emblemáticas de nossa fauna, como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira.

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