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Estudo sugere que pobreza não está ligada a más decisões financeiras

Pessoas de baixa renda só não poupam quando necessidades vitais como teto e comida estão em jogo: não há uma tendência crônica a gastos imediatistas, como afirmam visões preconceituosas.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 15 set 2023, 16h14 - Publicado em 15 set 2023, 16h13

Um pensamento comum é o de que a escassez de dinheiro ou a falta de algum outro recurso essencial para a sobrevivência leva as pessoas a tomarem piores decisões financeiras de maneira crônica preferindo sempre aquisições que dão benefícios rapidamente em vez de usar o dinheiro de maneiras benéficas em longo prazo. 

Esse é o raciocínio por trás de lugares-comuns como “não dê o peixe, ensine a pescar”. Mas calhou que não é bem assim que a mente humana funciona na prática. 

Segundo uma pesquisa publicada no Journal of Personality and Social Psychology, as pessoas que enfrentam algum tipo de escassez tomam, sim, decisões razoáveis ​​dependendo das circunstâncias ao qual elas estão inseridas. Elas só vão dar prioridade aos benefícios de curto prazo quando a escassez de algum recurso ameaçar necessidades vitais, como um teto ou alimentação.

Para a pesquisadora da Universidade Estadual de San Diego e coautora do estudo Eesha Sharma, a pesquisa fornece uma alternativa para entender a forma como pessoas em escassez tomam decisões. “Esta pesquisa desafia a visão predominante de que quando as pessoas se sentem pobres ou vivem na pobreza, elas se tornam impacientes e míopes e não conseguem pensar no futuro.”

Os estudos sobre necessidades, tradicionalmente, levam em conta somente as necessidades mais imediatas: comida ou abrigo. E nesses casos, claro, não há porque não gastar dinheiro assim que possível. Sharma e os demais pesquisadores, entretanto, consideram que “necessidades importantes” na verdade formam uma gama ampla de coisas, que vão de consertar o carro a ter que pagar a faculdade.

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Para abarcar essa pluralidade de necessidades da vida contemporânea, eles realizaram uma série de cinco experimentos para determinar se a preferência natural das pessoas por ganhos de curto prazo resulta sempre em impaciência e impulsividade.

Em um dos experimentos, os pesquisadores informaram a pessoas que estavam planejando casamentos que elas haviam ganhado um prêmio na loteria. Mas eles teriam de escolher entre duas opções: pegar US$ 200 na hora ou US$ 300 alguns meses depois. 

Os participantes cuja data do casamento era antes do pagamento do prêmio maior tendiam a escolher o prêmio menor (US$ 200), já que realmente precisavam do dinheiro de imediato. Mas eles escolhiam o prêmio maior quando a data de casamento era depois do prazo para pegar a grana.

Em outro experimento, os pesquisadores utilizaram uma pesquisa feita pelo Fed, o Banco Central americano, durante o período de quarentena da covid-19, com pessoas que estavam recebendo benefícios do governo.

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Os cientistas pediram para o Fed perguntar, a título de hipótese, o quão interessadas essas pessoas estariam em adiar seus pagamentos pelos próximos três meses para, em compensação, receberem um pagamento acumulado maior no final. 

Em seguida, eles perguntaram até que ponto os participantes conseguiriam arcar com gastos mensais básicas se parassem de receber benefícios. E descobriram que os participantes que não enfrentavam escassez imediata em áreas vitais (como comida ou moradia)  estavam mais interessados ​​em adiar a gratificação para receber mais no futuro, mesmo que isso resultasse em certos sacrifícios no presente.

De maneira geral, os resultados mostram que a sensação de não ter recursos suficientes é quase universal, e que não necessariamente está ligada à pobreza. Afinal de contas, todo mundo (ou quase todo mundo), em algum momento da vida, já sentiu que a grana disponível não era o suficiente. 

Tudo isso contraria a ideia de que só pessoas pobres fazem gastos supérfluos de maneira crônica, mesmo quando suas necessidades básicas estão preenchidas.

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Mesmo pessoas com dinheiro suficiente para organizar uma festa de casamento (ou seja, que têm alguma renda extra, por menor que seja) podem preferir gratificações instantâneas, enquanto pessoas de renda consideravelmente baixa (como as que receberam auxílios governamentais na pandemia) sabem esperar para obter recompensas maiores caso comida e habitação estejam garantidos.

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