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EUA vão exigir dados de redes sociais para liberar visto — mas o que muda?

Conseguir entrar nos EUA já não era fácil; a partir de agora, você terá que se preocupar também com o que postou no seu Facebook.

Por Ingrid Luisa
3 jun 2019, 16h36

Quem já tirou visto para os Estados Unidos sabe que a burocracia é longa — e o formulário a ser preenchido também. Detalhes sobre membros da família, histórico de viagens e trabalho, comprovação de segurança financeira, anos de endereços e muito mais é exigido. Agora, mais uma pergunta vai precisar ser respondida: informações de longa data sobre as redes sociais.

A regra já está em vigor. Na solicitação, você precisa informar seu nome de usuário em todas as redes sociais que usou nos últimos 5 anos. Isso inclui apelidos e outros usernames que o solicitante possui em redes sociais como Twitter – onde muitas pessoas não usam seu nome comum.

Além disso, o processo também pede que se descreva a presença online em outros sites/plataformas/aplicativos em que a pessoa tenha interagido de alguma forma com outros usuários. Endereços de e-mail e números de telefone dos últimos 5 anos também são pedidos. Confira a imagem de como aparece no formulário:

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(USCIS/Reprodução)

A intenção de pedir esses dados surgiu pela primeira vez no ano passado como parte da “avaliação extrema” do governo Trump. Estes requisitos anteriormente apenas se aplicavam aos candidatos sinalizados para “habilitação adicional” — como os que vinham de determinados países ou haviam estado em partes do mundo controladas por grupos considerados radicais.

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Agora que a obrigatoriedade vale para todos que vão fazer turismo, trabalhar ou estudar, a medida afetará aproximadamente 15 milhões de solicitantes de visto anualmente, de acordo com comunicado do governo dos EUA. Ainda segundo o governo, solicitantes de vistos diplomáticos ou oficiais estarão livres desse critério.

“A mídia social pode ser um grande fórum para sentimentos e atividades terroristas”, disse um funcionário do Departamento de Estado ao The Hill. “Esta será uma ferramenta vital para excluir terroristas, ameaças à segurança pública e outras pessoas perigosas de obter benefícios de imigração e pôr os pés em solo americano.”

Mas o que eles farão com esse dados? 

O Departamento de Segurança Interna (DHS) dos EUA há muito tempo monitora mídias sociais, mas começou a expandir seu uso e a vigiar comportamentos na rede em programas piloto de 2015.

Acredita-se que isso tenha sido, em parte, uma resposta ao ataque terrorista em San Bernardino, na Califórnia, no qual 14 pessoas morreram — e os criminosos supostamente discutiram seus planos on-line antes do ataque.

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As novas exigências foram consideradas “ineficazes e profundamente problemáticas” pela ong American Civil Liberties Union. Segundo a organização, isso pode gerar autocensura nos usuários e análises injustas dos perfis.

E esses problemas já vêm aparecendo: em uma recente análise do Brennan Center for Justice, especialistas alegaram que os programas piloto que usaram redes sociais como fonte mostraram que a principal dificuldade é interpretar não só as postagens em si, mas principalmente o contexto no qual elas foram feitas.

Isso está relacionado com uma das possíveis razões pela qual os EUA estão exigindo informações sobre essas mídias: análises prévias das pessoas, feitas por robôs. Com os usernames das pessoas ficaria mais simples procurar palavras- chave, tipos específicos de postagens e outros dados que possam significar alguma “ameaça” para os EUA.

“Todas essas dificuldades são agravadas quando o processo de revisão das postagens é automatizado”, escreveram os autores do relatório do Brennan. “Os algoritmos geralmente são incapazes de fazer os tipos de avaliações subjetivas necessárias em muitos programas de imigração do DHS, como se alguém representa uma ameaça à segurança pública ou segurança nacional ou se certas informações são ‘depreciativas’ ou não”.

Para quem está atrás de um visto, é bom dar aquela boa olhada nas suas redes — assim evita que, na entrevista, lhe questionem sobre postagens que você nem lembra que fez.

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