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Negócios brasileiros têm “risco alto” de usar trabalho escravo

De 198 países, estamos na 33ª pior posição, segundo ranking da Verisk Maplecroft, que aponta deficiência em serviços de suporte e redes de fornecimento

Por João Pedro Caleiro, de Exame.com
25 ago 2017, 19h05

O Brasil é o país da América Latina e Central onde os negócios correm mais risco de serem envolvidos em trabalho escravo.

De 198 países, estamos na 33ª pior posição, e uma ligeira piora em relação ao ano anterior aproxima o país da categoria de “risco extremo”.

Os números são da Verisk Maplecroft, uma consultoria britânica de estratégia e risco corporativo. 60% dos países pesquisados tem risco “alto” ou “extremo”.

O relatório não tem como objetivo calcular a prevalência de escravidão e sim apontar o risco de que um negócio use trabalhadores nessas condições em seus serviços de suporte e redes de fornecimento.

O problema é maior em alguns setores rurais, como silvicultura e produção de carvão vegetal, além de outros como mineração de pequena escala, construção civil e fabricação de têxteis.

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O cálculo de risco feito pela Verisk é composto de 33 indicadores em três estágios: estrutura (tratados e leis assinados), processo (inspeções e punições) e resultado (nível de escravidão verificado).

“Na comparação com outras economias da região, o Brasil vai melhor do que o Uruguai, por exemplo, na qualidade da legislação sobre o assunto, mas vai significativamente pior do que o México no resultado final, que é o que pesa mais”, diz Jimena Blanco, chefe da consultoria para pesquisa sobre as Américas.

Amenizar o problema, segundo ela, passa por aumentar recursos e pessoal para permitir que as inspeções sejam mais frequentes e efetivas, além de menos vulneráveis à corrupção.

“O que precisa mudar no Brasil é a alocação de recursos. As punições econômicas que o Brasil já faz, como o banimento de empresas, parecem não estar sendo suficientes”, diz ela.

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Uma das medidas que ela cita, a lista pública de empresas autuadas pelo governo por submeter seus empregados a condições análogas à escravidão, foi motivo de polêmica recentemente.

O governo só voltou a publicar a lista em março depois de quase três anos sem atualização e só após uma intensa disputa judicial com o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Siddharth Kara, um dos principais especialistas do mundo em tráfico de pessoas e escravidão, também destacou a importância de punições econômicas claras em entrevista recente para EXAME.com:

“Atualmente o negócio da escravidão tem baixo risco e altos lucros, então tornar esse um negócio mais arriscado e custoso é o que terá mais impacto no curto prazo”.

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Migração e escravidão

Os 10 primeiros países no ranking da Verisk são, na ordem, Coreia do Norte, Síria, Sudão do Sul, Iêmen, República Democrática do Congo, Sudão, Irã, Líbia, Eritreia e Turcomenistão.

A Romênia teve a maior piora anual, com uma queda de 56 lugares que a colocou perto da categoria de “extremo risco”. Também houve forte deterioração na Turquia, que caiu 52 posições.

A Itália também teve uma piora expressiva que a colocou no top 5 da escravidão moderna dentro da União Europeia junto com Grécia, Chipre, Bulgária e a já citada Romênia. O que une vários países citados é a crise migratória.

Síria e Iêmen estão entre os principais focos de origem e a Turquia é o principal destino por terra; já a Itália recebeu 85% dos 100 mil imigrantes que chegaram na Europa via oceano em 2017.

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“Quando você tem ondas de migração em massa, traficantes de pessoas entram em cena com uma atitude predatória (…) porque [os refugiados] são vulneráveis, não tem para onde ir, não tem direitos ou não podem trabalhar”, resume Siddhart.

Essa relação entre imigração e escravidão costumava ser mais fraca no Brasil, onde migração interna e questões indígenas dominavam, diz Jimena.

Mas isso está mudando: ela diz que no último ano viu um aumento de pessoas do Paraguai, Bolívia, Haiti e até China traficados para cá.

A Verisk monitora atualmente os efeitos da deterioração da situação política e econômica da Venezuela, com centenas de pessoas cruzando a fronteira com o Brasil diariamente.

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Os venezuelanos chegam em uma das regiões do país menos desenvolvidas e com menor presença do Estado, o que os torna altamente vulneráveis, ainda mais sem o status oficial de refugiados.

A Polícia Federal de Roraima registrou mais de 6,4 mil pedidos de refúgio de venezuelanos de janeiro a junho de 2017, alta de 188% sobre o ano anterior, segundo o G1.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Exame.com

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