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No dia 21 de abril vai acabar toda a água da Cidade do Cabo

A cidade de 4 milhões de habitantes encara a pior seca de sua história. Será a primeira vez que uma metrópole deste porte ficará completamente sem água.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 jan 2018, 15h21

A Cidade do Cabo, uma das três capitais da África do Sul, ficará completamente sem água em três meses. A metrópole de quatro milhões de habitantes encara a maior seca de sua história: ao longo de todo o ano de 2016, registrou apenas 200 milímetros de precipitação (para fins de comparação, São Paulo, só no mês de janeiro, registra em média 237 milímetros). Um site criado especialmente para acompanhar a situação das represas indica que hoje (16), o nível está em 28,7%. Apenas 39% dos cidadãos estão seguindo a recomendação das autoridades e usando menos de 87 litros por dia.

Segundo a revista Time, quando os reservatórios atingirem 13,5% da capacidade, em 21 de abril, o fornecimento de água será limitado a hospitais e outros serviços essenciais. As torneiras vão secar, e a prefeitura, com ajuda das forças armadas, passará a fornecer 25 litros diários a cada cidadão – que poderão ser retirados em 200 pontos espalhados pela cidade. Com as represas abaixo dos 10%, se torna tecnicamente impossível retirar qualquer quantidade de água das represas.

A Universidade da Cidade do Cabo afirma que a responsabilidade de coletar o líquido, após o início do racionamento, será toda dos cidadãos, e ainda não há um meio de garantir que idosos, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis tenham acesso a suas cotas diárias de água – ONGs e o governo federal foram chamados para colaborar com esses esforços. Considerando os 2,4 mil quilômetros quadrados de extensão da capital, é provável que pessoas de menor renda, que não têm automóveis particulares e vivem em regiões distantes, também não consigam levar os galões até suas casas.

É a primeira vez na história recente que uma cidade deste porte, em qualquer país do mundo, chega a 0%. “Ficar sem água em lugares com estrutura de abastecimento tão desenvolvida não é comum”, afirmou Bob Scholes, professor de ecologia da Universidade de Witwatersrand, à Bloomberg. “Eu não conheço nenhum exemplo de concentração populacional do tamanho da Cidade do Cabo que já tenha ficado sem água. Seria catastrófico.”

Várias usinas de dessalinização de água do mar estão em construção, mas as duas mais adiantadas estão com pouco mais de 50% das obras concluídas – e só devem entrar em operação, segundo a previsão mais otimista, em março. Todas as piscinas públicas foram esvaziadas, a lavagem de carros foi proibida e a pressão da água está tão baixa que bairros mais altos já estão sem fornecimento, assim como os últimos andares de prédios residenciais. Placas coladas nos banheiros públicos pedem aos usuários que só deem descarga em casos… sólidos.

Embora o clima dessa região da África do Sul seja famoso por ser imprevisível – períodos de seca são seguidos por anos chuvosos com frequência, de acordo com os gráficos – a tendência, ao longo do século 20, foi de queda. “Nós precisamos mudar nossa relação com a água”, afirmou a prefeita Patricia de Lille. “Precisamos nos planejar para ser uma região permanentemente ameaçada por secas.”

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