Nos EUA, motoristas do Uber ganham pouco mais que o salário mínimo
Documentos confidenciais revelam que a remuneração do serviço é bem pior do que se imaginava
O Uber tem transformado o transporte no mundo todo, conectando diretamente os motoristas e os passageiros a preços bem mais baixos que as frotas de táxi. Uma das partes mais atraentes do aplicativo é o quanto de autonomia os motoristas tem – mas jornalistas descobriram que o quadro pintado pela empresa era bem mais otimista do que o resultado do trabalho.
O chefe executivo do Uber já havia dito ao Wall Street Journal que o motorista típico consegue ganhar até US$ 100 mil (R$ 339 mil) por ano. Isso fez com que repórteres do Buzzfeed News ficassem curiosos para entender como o aplicativo estima os ganhos dos motoristas.
Os jornalistas tiveram acesso a documentos vazados por ex-funcionários e perceberam que os cálculos usados para estimar o salário eram simplistas demais. Pressionada, a empresa refez os cálculos com um método mais criterioso. Resultado: anunciou as estimativas mais baixas da história do aplicativo em três grandes áreas urbanas dos EUA.
Em Detroit, onde o salário mínimo é de US$ 8,50 por hora trabalhada, o motorista de Uber ganha, em média, US$ 8,77. O valor já desconta os custos com gasolina e com a depreciação do carro, considerando que um veículo desvaloriza 4 centavos a cada quilômetro percorrido. A renda do motorista é tão baixa porque 31% do que ele ganha nas corridas vai para manutenção e combustível, sem falar na comissão devida ao Uber.
A situação é um pouco melhor em Houston, no Texas. Lá, o salário mínimo estadual é de US$ 7,25/hora, e os pilotos do Uber tiram US$ 10,75. Seus custos também são percentualmente menores, ficando com 24% da renda bruta dos motoristas.
Das áreas estudadas, quem está se dando melhor no Uber trabalha no Colorado, na área urbana de Denver. Lá o salário mínimo é de US$ 8,31 por hora, com o motorista de Uber médio recebendo US$13,17 líquidos, depois de investir 22% do que tira nas corridas no carro.
Antes dessa revisão, a previsão de ganhos líquidos dos motoristas de Uber era uma média de US$ 17 por hora, baseados em dados de 2014. Comparado com a renda bruta em Detroit, de US$ 12,70, a queda é de 25%. Na época, as taxas do aplicativo nos EUA eram mais altas e não levavam em consideração os custos de dia a dia do motorista.
Uma redução nos preços do serviço foi colocada em prática no país em janeiro de 2016 e gerou protestos em Nova York. A empresa se defendeu dizendo que a diminuição da taxa é compensada na renda dos motoristas por um aumento no número de passageiros.
Enquanto isso, o Uber procura novos caminhos para continuar a abaixar preços. O CEO da empresa anunciou no ano passado que quer tornar o serviço tão barato que vai valer mais a pena andar só de Uber do que ter um carro próprio – e esse cenário tem tudo a ver com o investimento da empresa e de seus concorrentes em carros autônomos, que dispensam completamente o custo com motoristas.