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O que é a ‘peste suína africana’ – e como ela está encarecendo a carne

O vírus é endêmico da Africa Subsaariana, mas se espalhou pela China, maior produtora de carne suína do mundo. E isso está afetando o Brasil.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 10 jun 2020, 13h02 - Publicado em 11 dez 2019, 18h58

Em outubro de 2019, noticiou-se que algumas fazendas da China estão criando porcos de 500 kilogramas – do tamanho de um urso polar. Para você que não faz ideia de quanto pesa um suíno, saiba que, normalmente, as maiores espécies de porcos podem atingir até 300 kgs. A ideia de que “quanto maior, melhor” está se espalhando por todo o país porque qualquer porco saudável na China está sendo tratado como ouro. Motivo: uma crise sanitária sem precedentes.

Até agora, a chamada “peste suína africana” matou 1/4 da população mundial de porcos – e metade dos porcos da China, maior produtor mundial dessa carne. O vírus chegou ao país em agosto de 2018, e hoje está alastrado por todas as províncias chinesas. Além de África e Ásia, ele também está na Europa e na Austrália. Até agora, não há notícia dele pelas Américas. Mas, se você não é vegetariano, já deve estar sentindo as consequências dessa crise, que tem feito aumentar o preço da carne. Para entender melhor tudo isso, vamos ao início dessa história.

Afinal, o que é essa peste?

A peste suína africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus pertencente à família Asfarviridae. Seus sintomas são febre alta, perda de apetite e hemorragia na pele e órgãos internos, além de diarréia, vômito, tosse e dificuldades respiratórias. O vírus é altamente letal, levando a morte, em média, entre 2 a 10 dias após a contaminação. Ele não atinge o homem, mas mata suínos domesticados e selvagens – como javalis.

Esse vírus é endêmico da África subsaariana e foi descrito pela primeira vez por cientistas ocidentais na década de 1950, quando colonizadores europeus trouxeram porcos de áreas onde o vírus estava presente. Inicialmente a doença era caracterizada pelos aspectos semelhantes à chamada “peste suína clássica” (PSC). No entanto, depois foi constatado que as duas enfermidades são distintas – causadas por vírus diferentes, sendo que a PSA é mais letal.

A doença se espalha via contato direto com animais infectados, ou ingestão de lixo contendo carne de porco ou subprodutos não processados. O vírus é encontrado em todos os fluidos e tecidos corporais de um animal infectado, e pode sobreviver nas fezes por vários dias, e por semanas na urina.

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Além disso, carrapatos, moscas sugadoras de sangue e outros insetos também espalham o vírus, assim como veículos, equipamentos ou roupas contaminadas. Um dos grandes perigos de contaminação apontados atualmente é a sola dos sapatos de pessoas que estão em contato direto com os animais doentes. Segundo os especialistas, os porcos que se recuperam da doença ainda podem transmitir o vírus por vários meses. Por isso, a forma mais segura de se combatê-la é através do sacrifício desses animais.

Disseminação fora da África

Em 1957, a peste suína africana chegou à Europa através de navios que viam do Quênia a Portugal. A doença permaneceu endêmica na Espanha e em Portugal desde aquela época até os anos 1990, espalhando-se também para outros países europeus como Itália, França e Holanda, e para a América do Sul e Caribe. No Brasil, o vírus foi identificado pela primeira vez em suínos no Rio de Janeiro, em 1978, que haviam sido alimentados com restos de comida de um voo vindo de Portugal.

Com uma política de sacrifício dos animais contaminados, a peste suína africana foi erradicada em todos esses países, inclusive o Brasil, que é considerado livre da doença desde a década de 1980.

Em 2007, a PSA voltou à Europa e se espalhou na Geórgia, sudeste do continente. De 2014 a 2017, alcançou países como Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, Moldávia e República Tcheca, mas em focos pequenos e controlados. Só em 2018 o vírus da peste suína africana foi detectado em porcos na China, que produz 54 milhões de toneladas de carne suína por ano. Um esforço global para desenvolver uma vacina está em andamento desde os anos 50, mas até agora nada foi alcançado.

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Crise na China – e como isso afeta o Brasil

Diante da situação, a solução encontrada pela China foi sacrificar os animais contaminados. Dos 400 milhões de porcos que o país possuía, cerca de metade foram mortos pelo vírus ou eliminados pelo controle da doença – um número que representa mais do que toda a produção anual dos EUA e do Brasil juntos. A China também proibiu o transporte de suínos vivos e fechou mercados.

Por conta da crise, nos últimos 3 meses, a China se tornou a maior importadora do mundo de carne de aves e suínos. E é aí que o Brasil, 4º maior produtor de carne de porco, entra. Uma parte maior da nossa produção está sendo exportada para a China (também porque o dólar alto aumenta a margem de lucro dos criadores). Com isso, sobra menos produto no mercado nacional, e os preços sobem.

O aumento do preço da carne é um assunto complexo, que envolve diversos fatores, mas a doença que tem afetado os porcos é um dos elementos centrais. Calcula-se que, em outubro, as vendas de carne bovina para os asiáticos tenham subido 62% em relação ao mês anterior, em um total de mais de 65 mil toneladas a mais. E esse número só vem crescendo. A China está tentando resolver a crise por lá, mas o processo tende a ser demorado. O problema também já afeta o preço da carne bovina, que subiu 50% no atacado. Talvez, para o bem do seu bolso, seja melhor pedir uma parmegiana de berinjela da próxima vez.

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