O tango livre português
Cais do Sodré, Lisboa, Portugal. Bairro é divulgador de um tipo de dança que deixa a mulher em pé de igualdade com o homem.
Mais uma noite de tango começa no Castro Beer. Os casais se formam na pista. Homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher. É o tango queer, ou tango livre. Ele surgiu na Alemanha há 15 anos e, diferentemente do tradicional, não é uma dança de condução 100% masculina. Nele, mulheres também conduzem e homens também são conduzidos (os movimentos são os mesmos do original).
O engenheiro químico Ricardo Lopes é professor de tango no bar. ”É uma ferramenta de intervenção social. Aqui não tem discriminação”, diz. A recepcionista Sophia Braz frequenta as aulas há um ano, e adora:”Nós estamos tão presos a preconceitos e regras, do que temos que fazer ou não, que aqui é um dos poucos momentos da minha semana em que posso ser eu mesma”, diz.
As luzes amarelas do térreo dão um clima intimista aos casais e aos espectadores, que tomam uma imperial (”chope”, no português de Portugal) enquanto assistem à dança. No lado de fora do bar, o som do tango se mescla ao de tantos outros ritmos tocados nos bares e casas noturnas do Cais do Sodré, boêmia região lisboeta. De dia, o bairro também é cheio de atrativos, como uma das mais belas vistas da capital portuguesa. É comum passear à beira do Tejo ou simplesmente se jogar em uma cadeira estrategicamente posicionada de frente para a ponte 25 de Abril, que liga a cidade à margem sul do rio, para ver o pôr do sol – e aguardar mais uma noite de ”tango queer”, modalidade que já se espalha por outras metrópoles, de Istambul a São Francisco. Chegou até mesmo a Buenos Aires.
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