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Por que o retorno da boneca Momo em vídeos infantis não passa de boato

Personagem criada no Japão, que viralizou em 2018, esteve envolvida em nova polêmica nos últimos dias. Entenda.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 23 mar 2019, 10h38 - Publicado em 20 mar 2019, 18h53

As feições bizarras da boneca Momo alcançaram fama mundial em 2018. Em julho daquele ano, o YouTube foi inundado por vídeos de adolescentes unidos em um mesmo desafio: entrar em contato com a tal personagem, representada pela escultura de uma cabeça humana em cima de pés de pássaro, e que supostamente respondia a quem a “invocasse”.

Quem fosse “corajoso” o suficiente deveria contatar Momo por um número de WhatsApp com DDD do Japão. O retorno, quando existia, envolvia frases sinistras e ameaças, além de imagens violentas que incitavam o suicídio. Especulou-se à época de que esta seria uma forma de roubar dados pessoais e que a brincadeira de fato acabou causando a morte de crianças ao redor do mundo. Nada nunca confirmado de fato pelas autoridades. O nome de quem estava por trás do suposto número, alimentando a história, jamais foi descoberto.

Mas a origem da personagem não tinha nada de obscuro. Trata-se da escultura Mother Bird (mãe-pássaro), feita pelo artista plástico japonês Keisuke Aiso, que foi exposta em uma galeria de Tóquio em 2016. Ela tem um metro de altura e mescla uma figura humana com um pássaro, inspirada em uma lenda japonesa de uma que mulher morre no parto e retorna para assombrar os vivos.

Aiso, que sempre negou qualquer envolvimento na propagação desse fenômeno pela internet, afirmou recentemente que havia jogado a Momo original no lixo poucos dias antes de a escultura viralizar pela primeira vez. 

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台風だから幽霊の絵見てきた 幽霊はいいぞ #幽霊画廊 #猫将軍

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Meses após a  primeira aparição, Momo voltou a dar as caras trazendo ainda mais polêmica. Segundo acusações feitas
por pais em rede sociais, vídeos infantis disponíveis no YouTube Kids estariam recheados com mensagens da personagem. Ao navegarem inocentemente pelo conteúdo da plataforma, que reúne conteúdo para menores de 13 anos, crianças teriam se deparado com trechos que continham mensagens que não deveriam estar ali – estreladas, é claro, pela boneca fictícia.

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Entre os recados principais de Momo estariam falas instruindo os pequenos a se automutilarem ou usarem objetos cortantes para ferir os pais e familiares, por exemplo. O problema foi atribuído à ação de trolls de internet, que estariam usando a figura para inserir conteúdo no site e impressionar crianças.

Mas há provas de que a coisa não foi bem assim. Especificamente no Youtube Kids, todas as evidências indicam que os trechos com a boneca, mesmo supostamente “disfarçados” em vídeo infantis, nunca existiram.

Mais do que fazer os pequenos terem pesadelos, a história acabou colando especialmente com os pais – após circular em grupos de redes sociais nos últimos dias. Como a maioria dos mistérios envolvendo a tal Momo, porém, a história envolvendo o YouTube Kids nasceu mal contada. E alguns motivos ajudam a explicar isso.

A prova de que é boato

O Google, que responde pelo YouTube, afirmou que não existem vídeos circulando no YouTube Kids que façam qualquer menção à Momo.

Ok, mas e os pais e crianças que teriam visto o vídeo?

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O mais provável é que tenham encontrado a boneca em outra plataforma – no WhatsApp, no Facebook, ou, no máximo, em um vídeo do ambiente geral do Youtube, e não no Youtube Kids.

A informação foi confirmada também por outras fontes. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, declarou ter passado dois dias analisando o conteúdo disponibilizado no YouTube Kids à procura de algum indício da Momo sem encontrar nada. Outro sites,  como o UOL e o português MAGG, também conduziram investigações e não acharam registros do tipo.

A afirmação que circula em correntes do WhatsApp, de que os vídeos originais foram “hackeados” também não procede. Para que alguém mal intencionado alterasse o conteúdo já existente, precisaria tirar o vídeo do ar e subir novamente para o YouTube Kids – o que comprovadamente não aconteceu.

Como se tem tanta certeza disso? É que o YouTube é muito bom em encontrar coisas que não deveriam estar nos vídeos, como imagens que ferem direitos autorais. Eles têm algoritmos precisos. No YouTube Kids – um ambiente criado especificamente para que crianças pudessem navegar por horas sem esbarrar em conteúdo mais adulto do Youtube geral – esse controle é assumidamente maior, com filtros rígidos.

Cauã Taborda, gerente de comunicação do YouTube na América Latina, disse em entrevista à revista Crescer que “além da análise automática, que existe também no YouTube convencional, no YouTube Kids, contamos com a curadoria humana feita por mais de 10 mil pessoas. Elas, basicamente, pegam o conteúdo que está disponível no YouTube e filtram os conteúdos infantis, certificando-se que, de fato, são adequados para esse público. Só então aquele conteúdo fica disponível para o Kids”. Sendo assim, qualquer coisa contendo violência explícita dificilmente passaria batido.

Desde o dia 1º de março o YouTube decidiu desmonetizar qualquer vídeo relacionado a Momo – o que se aplica, em geral, a um número enorme de vídeos sendo produzidos por youtubers e canais de imprensa, explicando a história da boneca. A ideia tem como objetivo diminuir o apelo do assunto e o número de postagens do tipo na plataforma, mas sem “censurar” as notícias sobre o tema.

Com tudo isso, os pais assustados com a Momo podem se sentir mais tranquilos. O Youtube Kids segue como um ambiente seguro para crianças. Outros ambientes digitais, como o Whatsapp, de fato, não filtram o conteúdo de seus usuários, porque não têm acesso direto a ele. As mensagens, afinal, são confidenciais. Nesse caso, é importante que o uso infantil dessas redes seja supervisionado de perto. Mas não (só) por causa de uma boneca assustadora.

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