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Salto da morte: ela vai arriscar a vida pelo ouro

Até acrobacias fatais tem a ver com grana. Nas Olimpíadas, o salto que quebra pescoços é a única chance para ginastas de países pobres conseguirem sucesso - e financiamento.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 28 jul 2016, 19h45

“Dar o sangue pelo esporte” é uma frase a ser usada com cuidado perto das ginastas nesses Jogos Olímpicos. A primeira atleta a competir na Ginástica Artística pela Índia acabou de embarcar para o Rio – e a missão dela por aqui é um desafio de dar calafrios.

Dipa Karmakar, de 22 anos, é uma das únicas cinco ginastas da história a conseguir realizar o Salto da Morte. Com o nome oficial de Produnova, ele é o movimento mais perigoso da Ginástica e o salto mais difícil da modalidade. Qualquer erro mínimo pode levar a uma lesão no pescoço ou na coluna vertebral e uma queda errada pode ser fatal.

Para fazer o Produnova, a ginasta salta, faz uma reversão e dois mortais grupados para a frente. Em termos leigos: ela pula de frente, apoia as duas mãos na mesa (a reversão) e completa duas cambalhotas no ar com as pernas flexionadas.

O problema é que tudo isso exige uma força imensa. A atleta precisa chegar no trampolim com muita velocidade, ganhar bastante impulso quando encosta na mesa e estar em uma altura suficiente para realizar as duas. Se não conseguir altura suficiente, vai fazer um mortal e meio… E aterrissar de cabeça, não de pé.

A primeira ginasta a conseguir realizar essa proeza foi a russa Yelena Produnova, em 1999.  Desde então, poucas ginastas aceitaram o desafio de realizá-lo e um número ainda menor teve sucesso. Além de Produnova, as únicas que conseguiram completar o salto em competições oficiais foram a dominicana Yamilet Peña Abreu, a egípcia Fadwa Mahmoud, a uzbeque Oksana Chusovitina (que, com 41 anos, também vêm ao Rio para sua 7ª Olimpíada) e, é claro, a própria Dipa Karmakar.

 

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A parte mais difícil do salto é a aterrissagem. Para o salto ser válido, a ginasta precisa chegar no chão com os pés – e, segundo Dipa , suas pernas precisam aguentar o dobro do seu peso para suportar esse impacto. No melhor dos casos (sem pescoços nem colunas fraturadas), a ginasta simplesmente cai de bunda, zerando a pontuação. Mesmo quando o salto dá certo, a aterrissagem ainda pode ser absolutamente apavorante:

 

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Reparou como, depois da ginasta russa original, nenhuma atleta de países com tradição na Ginástica Artística realizou o Salto da Morte? Elas não precisam disso. Por que até uma acrobacia fatal tem a ver com grana.

Ginastas como Dipa Karmakar vêm de países que não estão dispostos a investir nas suas carreiras esportivas. Sem aparelhos de qualidade (na Índia, não existe um único centro de treinamento que tenha nível competitivo) e com escassez de treinadores, essas meninas não têm chance alguma se comparadas às americanas e às romenas. Então elas abrem mão de fazer saltos perfeitos e vão direto para os saltos difíceis (e perigosos).

Entra aí o funcionamento da pontuação na Ginástica Artística. Existem dois tipos de pontos no esporte: os pontos de dificuldade e os pontos de execução. A pontuação de dificuldade é anunciada mesmo antes da ginasta se apresentar – quanto mais difícil é a acrobacia que ela pretende fazer, maior é essa “pontuação de partida”.

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Já durante a prova, os juízes descontam os erros cometidos da pontuação de execução, que vai de 10 a 0. Quanto menos erros, mais perto a P. E. fica de 10. Erros graves, como cair de bunda, zeram automaticamente o resultado da atleta.

Aí voltamos ao Salto da Morte: ele tem a pontuação de dificuldade mais alta que existe, valendo 7 pontos. Uma atleta pode fazer um salto horrível e ainda ter uma boa nota. É exatamente o que faz a dominicana Yamilet Peña. Ela sabe que não consegue aterrissar do Produnova direito. Por isso, se aproveita de um detalhe nas regras do esporte. Se cair de bunda, ela zera o salto. Mas se tocar os pés primeiro no chão, mesmo caindo depois, só perde pontos de execução.

 

 

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O que Yamilet faz, dando cambalhotas no chão depois do salto, é uma queda calculada, que vale muito a pena. Uma ginasta que faça um salto perfeito, nota 9.8888 de execução, mas sem uma dificuldade tão grande, vai ter uma baita dificuldade para alcançar um Produnova, mesmo que medíocre. Com esse salto tecnicamente “feio” e uma nota 7.9 de execução, Yamilet conseguiu um 14.900, notão no mundo da Ginástica.

O Produnova acabou se tornando uma roleta-russa para ginastas que precisam desesperadamente de medalhas e exposição midiática para aumentar seu apoio financeiro. E o pior é que não tem como negar que a estratégia que funciona. Afinal, estamos aqui falando sobre o Salto da Morte estar para ser realizado no Rio nos próximos dias – e o fato dele ser tão assustador só traz mais fascinação para quem assiste.

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