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5, 4, 3, 2, 1… Bug!

A contagem regressiva para o bug que vai bagunçar o cérebro dos computadores no réveillon do ano 2000 já começou. No seu rastro, o estopim vai detonando panes menores. A primeira foi em janeiro, a próxima será em abril e ainda haverá mais uma, prevista para setembro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 28 fev 1999, 22h00

Ricardo Balbachevsky Setti

Você precisa se prevenir para quando o calendário chegar a 9 de abril – o 99º dia do 99º ano do século. Não se trata de superstição. Nem de numerologia. É a tecnologia que prevê acontecimentos desagradáveis nessa data. A profusão de noves por trás dela indica que muitos sistemas controlados eletronicamente podem entrar em parafuso, numa amostra antecipada do chamado bug do milênio – a pane que deve enlouquecer, na virada do ano 2000, computadores do mundo todo.

Mas, se o bug – termo que, em inglês, significa inseto, bicho que incomoda – é do milênio, por que resolveu dar as caras agora? Na verdade, ele já está aprontando desde o réveillon deste ano, embora só tenha provocado pequenos transtornos. Em Cingapura, por exemplo, 300 taxímetros pararam de funcionar. Agora os especialistas esperam novos ataques no mês que vem e em setembro. E eles podem ter efeitos bem mais perceptíveis do que o anterior.

Quando o calendário dá um tilt

– Que dia é hoje? Que horas são?

Essas perguntas são feitas o tempo todo por uma infinidade de computadores no mundo inteiro. Eles precisam saber se sua conta de telefone venceu ou se as luzes da rua devem ser ligadas. Quando se ouvirem as doze badaladas da meia-noite do último dia deste ano, a resposta que terão será: 01/01/00. É aí que começa o bug do milênio. Essas máquinas foram programadas para entender a data como 1º de janeiro de 1900 e a volta no tempo vai dar tilt.

No caso da conta de telefone, o computador pode entender que você tem 100 anos a serem pagos. Se estiver atrasada, vão mandar cortar a linha, além de cobrar uma baita multa. Já a cidade é capaz de ficar às escuras, pois o programa corre o risco de interpretar que o dia seguinte ainda não chegou. O pior é que nunca vai chegar, a menos que alguém explique para ele que 00 é maior que 99.

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Economia desastrosa

Será que ninguém previu essa encrenca antes? Certamente. Só que em meados do século a capacidade de estocar dados dos computadores era muito pequena, cabia num disquete. Escrever o ano em dois dígitos em vez de quatro representava uma economia colossal. Além do mais, acreditava-se que até o ano 2000 esses programas já teriam sido aposentados. O que pouca gente pensou foi que muitos deles, mesmo novos, continuariam a usar dois dígitos para continuar compatíveis com os antigos.

Outro problema é que nem todos os softwares, mesmo daquela época, são exatamente iguais. Dependendo da necessidade, alguns programadores usaram outro critério para marcar datas. Isso gerou três bugs anteriores ao do milênio, o de janeiro (01/01/99), o de abril (99º dia de 99) e o de setembro (9/9/99). Além do pequeno prejuízo para os taxistas de Cingapura, o do réveillon deste ano travou por algumas horas computadores de três aeroportos. Por sorte, eram usados apenas para a emissão de vistos e passaportes temporários. Cerca de 40 000 desfibriladores (aparelhos usados em hospitais para dar choques no coração de modo a controlar contrações fora de compasso) também não reconheceram o ano de 1999. Não pararam de funcionar, mas deixaram de mostrar data e hora corretas.

São transtornos que não justificam pânico. Mas também não recomendam o relaxamento total. Sabe-se pouco sobre o que realmente vai acontecer. O bug do mês que vem deve afetar usinas termoelétricas que usam sistemas de informática muito antigos. “No 99º dia do 99º ano (9 de abril), esses computadores acharão que estão sendo reinicializados, ou seja, desligados e ligados de novo” (veja o infográfico ao lado), explicou à SUPER Nigel Martin-Jones, da empresa americana Data Dimensions, uma das maiores companhias de correção de softwares do mundo.

Em 9 de setembro de 1999, já se sabe, o mesmo drama vai atacar os computadores do GPS, sigla em inglês para Sistema de Posicionamento Global, a rede de computadores e satélites que orienta aviões, cargueiros e até ônibus espaciais (veja o infográfico abaixo). O órgão americano que controla o sistema já está gastando tempo e dinheiro no conserto da mancada, mas não é certo que chegará a um bom resultado. “Não temos mais tempo para acertar nossos computadores um por um”, admitiu à SUPER Bob Hall, chefe de operações. “Precisamos de uma solução que resolva tudo de uma vez.” Mas essa ele ainda não sabe qual é.

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Milhões de linhas para conferir

A expectativa do que vai acontecer com os computadores no final do ano gera todo tipo de reação. A maior parte do mundo está pouco ligando. Mas nos Estados Unidos, o país mais informatizado do planeta, tem gente que se descabela, com medo de falta de luz, água e comida. Os paranóicos já começaram a estocar alimentos, geradores de energia e até armas. Loucura, claro. Os mais lúcidos tomaram providências de verdade. Empresas em que o bug poderia causar verdadeiras catástrofes, como bancos e companhias telefônicas, têm feito o que podem para se livrar do problema. A tarefa consiste em conferir, uma a uma, as milhões de linhas de instrução que compõem cada programa. Somente nos Estados Unidos, estima-se em até 500 bilhões de dólares o custo para passar tudo isso a limpo.

Melhor manter a calma

Só não pense que isso afeta apenas o Primeiro Mundo. “O Brasil está entre os países mais defasados em relação ao bug”, disse à SUPER Norman Jin, analista do instituto americano Year 2000. Se serve de consolo, há lugares em que a questão é mais grave. A Rússia permanece na estaca zero. No mês passado, o governo americano ofereceu ajuda aos russos, temendo que possa ocorrer alguma pane no seu sistema de controle de armas nucleares.

Mas o melhor ainda é manter a calma – e, como recomendam os especialistas, guardar os extratos de banco e de cartão de crédito, recibos de pagamentos, além de comprar algumas velas. É bem possível que o seu prejuízo seja até menor do que o dos taxistas de Cingapura.

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A origem da faísca

Data é a causa do bug.

1. Programas antigos marcam o ano com os dois últimos dígitos. No ano 2000, o 00 será lido como 1900.

2. Esta linha do programa manda que ele continue trabalhando se a data do dia for maior, ou seja, posterior à que aparece antes.

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3. Em 01/01/00, ele entenderá que a data é anterior a 31/12/99. Por isso vai parar de funcionar.

Perdidos na Terra

O problema dos GPS portáteis.

Cada vez mais comuns e baratos (cerca de 150 dólares), GPS portáteis são usados por quase todas as embarcações particulares, como lanchas e veleiros. No dia 9 de setembro, cerca de 10% deles vão parar por pelo menos 24 horas. Alguns nunca mais funcionarão.

Energia cortada

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Por que o bug de abril pode fazer estragos em usinas elétricas movidas a carvão.

1. Pequenos computadores recebem ordem de uma máquina central para abrir e fechar as válvulas de resfriamento das caldeiras em que o carvão é queimado para produzir energia.

2. Os computadores são reinicializados (desligados e ligados) todos os dias, usando uma data fictícia (dia 99 do ano 99) para indicar que precisam da data correta.

3. Em 9 de abril, eles vão ser reinicializados como sempre, perguntarão a data, mas a resposta será a mesma. Sem a informação correta, as válvulas não vão funcionar.

4. Se as caldeiras não puderem ser operadas manualmente, o superaquecimento pode provocar explosão ou interromper a produção de eletricidade.

Naus sem rumo

Em setembro, instrumentos de satélites é que devem enlouquecer.

1. Os satélites do GPS são controlados por uma central que fica nos Estados Unidos. Para a sincronia dar certo, eles reinicializam (desligam e ligam) diariamente usando uma data aleatória: 9/9/99.

2. Os satélites perguntam a hora à central, que responde aos que estão na linha de alcance. Estes repassam a informação aos demais.

3. Em 9 de setembro, os aparelhos pedirão a data, mas vão confundi-la com o código de reinicialização. Com isso, todo o sistema pode ficar fora do ar por um ou mais dias.

4. Sem orientação, grandes navios podem ter de parar, atrasando a entrega de produtos estratégicos, como petróleo.

Defenda seu reveillon

Prepare-se para os problemas que o bug poderá trazer para sua festa de Ano-Novo.

Bolso vazio

Mesmo que não falte luz, grandes sistemas, como os de cartão de crédito e de bancos, correm perigo. Os cartões podem não ser lidos pelas máquinas. Isso já aconteceu na Suécia, com o bug de janeiro.

À luz de velas

A falta de energia elétrica é um dos principais riscos. Metrô e iluminação pública podem parar por tempo indeterminado, de um dia a semanas.

Segurança em casa

A maioria dos micros não será prejudicada, pois o bug tem sido corrigido pelos fabricantes nos últimos anos.

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