A fronteira do infinito
Os avanços tecnológicos tornam as viagens espaciais mais baratas, rápidas e seguras. O próximo século marcará o início da colonização da Lua e dos planetas do Sistema Solar.
Igor Fuser
O futuro da Terra está no Cosmo. Você duvida? É só olhar para trás. Desde que, há mais de 100 000 anos, os nossos ancestrais pré-históricos deixaram a África para explorar novos territórios na Europa e na Ásia, a história da humanidade é a história de uma incessante expansão. Há 14 000 anos, povos nômades do Extremo Oriente atravessaram o Estreito de Bering, que liga a Sibéria ao Alasca, dando início ao povoamento do continente americano. Na Europa, o final da Idade Média inaugurou uma corrida para conhecer os “mares nunca dantes navegados”. Há dúvidas se Marco Polo esteve mesmo na China, mas seus relatos inspiraram outros aventureiros que chegaram lá. Da descoberta da América, em 1492, ao primeiro passo de Neil Armstrong na Lua, em 1969, a humanidade prosseguiu na conquista de novas fronteiras. O próximo passo é Marte. Um desafio caro, difícil e perigoso, mas que os cientistas e engenheiros estão dispostos a encarar. Já há até uma data apontada pelos cientistas como a mais provável para a chegada do homem ao solo marciano: 2009. Veja, nas próximas páginas, os planos para a colonização do espaço.
Eletrônica viabiliza expedições
E aí, você já esteve em Marte? Se você pudesse viajar quarenta anos para trás, numa máquina do tempo, a primeira pergunta que lhe fariam seria essa. Em 1957, quando foi lançado o Sputnik, o primeiro satélite artificial, poucos duvidavam de que, lá pelo ano 2000, a humanidade passearia pelo Sistema Solar com a mesma tranqüilidade com que, hoje, é possível levar as crianças para conhecer as savanas africanas. Mas as coisas tomaram um rumo diferente. O único lugar que já foi pisado pelo homem lá fora é a Lua e a aventura espacial, cara e perigosa, ganhou um ritmo mais lento. Nada disso diminuiu a obsessão com a conquista do Cosmo.
É como se uma força irresistível atraísse os terráqueos para longe de casa. Arthur C. Clarke, autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço, prevê que, daqui a alguns séculos, a maior parte da humanidade habitará uma grande estação espacial em forma de anel, estacionada na órbita da Terra. A ligação se dará por quatro imensas torres, erguidas sobre a linha do equador, com 36 000 quilômetros de altura.
Fantasia? O fato é que a revolução tecnológica está ampliando incrivelmente as possibilidades humanas. Um problema que atrasou as viagens interplanetárias foi o do peso dos equipamentos. Com a miniaturização dos componentes eletrônicos, esse obstáculo sumiu. A Voyager, sonda que esquadrinhou o Sistema Solar, pesava 200 quilos. As duas naves Pluto Express, que partirão em 2003 rumo a Plutão, pesam apenas 5 quilos cada uma.
Destacamento avançado
Robôs-formigas desbravarão planetas.
Os robôs terão um papel decisivo na colonização do Sistema Solar. A Nasa aposta nos robôs-formigas. Essas minúsculas criaturas estão sendo preparadas para resolver sozinhas uma quantidade enorme de problemas. Mais importante: poderão fabricar outros robôs, à sua imagem e semelhança, com base nas matérias-primas existentes no planeta ou asteróide de destino.
O sonho do homem em Marte
De todos os atuais projetos de exploração do espaço, o que mais mobiliza a imaginação humana é o da conquista de Marte – ainda mais agora que a Nasa deu a largada para a série de missões tripuladas por robôs que iniciarão a exploração do planeta vizinho. Desde o dia 4 de de julho deste ano, um carrinho (o Sojourner) transportado pela nave Pathfinder transmite imagens e análises do solo marciano. Outro passo foi dado em setembro, com a chegada à órbita de Marte da sonda Global Surveyor, que entre outras coisas elaborará o primeiro atlas detalhado do planeta.
Duas novas sondas americanas serão despachadas para Marte a cada dezoito meses, de acordo com o cronograma traçado até 2005. Resta a grande pergunta: quando, afinal, desembarcará no planeta um astronauta de carne e osso? A Nasa tem se esquivado de antecipar uma data. O palpite mais cotado entre os especialistas é 2009. Sabe-se apenas que as missões da Nasa programadas para os próximos anos têm como tarefa principal analisar os problemas que precisam ser resolvidos antes da decisão.
Os custos de um vôo tripulado serão muito maiores do que os do envio de robôs. Os astronautas precisam de oxigênio, calor, comida – e de uma condução para voltar para casa. A conta de uma missão de ida-e-volta a Marte sairia em torno dos 20 bilhões de dólares, no mínimo. As viagens da Pathfinder e da Global Surveyor custaram cerca de 150 milhões, cada uma. As despesas e os perigos são tantos que até existe, entre os cientistas e políticos envolvidos no programa espacial, quem defenda o arquivamento da idéia do homem em Marte. Robôs cumpririam perfeitamente as mesmas tarefas, argumentam. “Enviar seres humanos a Marte é um grande desafio, mas não é impossível”, rebate Lewis Peach, integrante do grupo de altos funcionários americanos encarregados do assunto.
Saudade da Terra
As condições na Lua e em Marte são pouco propícias à sobrevivência humana.
TERRA
Gravidade: 1
Umidade: 10% a 80%
Pressão: 1 063 milibares
Duração do dia: 24 horas
Oxigênio: 21%
Temperatura: -88º a 58ºC
LUA
Gravidade: 0,17
Umidade: inexistente
Pressão: inexistente
Duração do dia: dois meses
Oxigênio: inexistente
Temperatura: -153º s 134ºC
MARTE
Gravidade: 0,38
Umidade: menos de 1%
Pressão: 7,7 milibares
Duração do dia: quase 24 horas
Oxigênio: inexistente
Temperatura: -45º a 32ºC
Uma cabana entre as crateras
Faz 25 anos que não vamos à Lua. A última visita foi em dezembro de 1972, com a Apollo 17, a sexta missão tripulada a dar as caras por lá. O que provocou o cancelamento do programa Apollo foi o seu alto custo. Graças às tecnologias capazes de baratear as despesas com as viagens espaciais, renasceu o interesse pela Lua. Empresas privadas americanas, como a General Dynamics, já se ofereceram para colaborar com a Nasa em projetos de colonização do satélite terrestre.
Até agora, não existem planos para a exploração dos recursos minerais da Lua, já que o satélite não revelou a presença de nada tão valioso a ponto de compensar o investimento. A importância maior reside nas oportunidades de pesquisa científica. Universidades planejam instalar telescópios ultrapotentes (o céu lá é muito mais limpo do que na Terra) e avançados laboratórios de Exobiologia, a ciência que estuda o comportamento dos animais e das plantas no espaço exterior.
A estratégia da Nasa para a colonização da Lua se divide em três etapas. Na primeira fase, veículos com tecnologias de visão virtual enviarão dados sobre o ambiente, para que se possa avaliar o que é necessário para a sobrevivência. O passo seguinte será a instalação de laboratórios operados por robôs. Essas experiências serão úteis para desafios mais difíceis, como a ida a Marte. Só depois será inaugurada uma base para alojar astronautas.
Pelos planos da Nasa, a etapa do povoamento começará em 2020. A idéia é construir cidades lunares envolvidas por redomas de vidro, que terão a função de reter o oxigênio (importado da Terra) e proteger os moradores da radiação e da queda de asteróides. Lá irão morar os cientistas e suas famílias. Por volta de 2025, se tudo der certo, a humanidade estará comemorando o nascimento do primeiro bebê na Lua.
Ponte-aérea orbital
Vem aí uma espaçonave que voa como um avião.
Melhores a cada geração, os ônibus espaciais americanos, como o Atlantis, têm um inconveniente incorrigível: a cada vôo, a maior parte dos equipamentos – os dois foguetes propulsores e o imenso reservatório de hidrogênio e oxigênio líquidos – vira lixo. Só uma pequena parte efetivamente regressa à Terra. A Nasa pretende resolver o problema com o VentureStar, que decolará e aterrissará como um avião. As naves atuais são lançadas em posição vertical e vão deixando pedaços pelo caminho. Os testes começarão em 1999, com um protótipo chamado X-33. O VentureStar, da empresa Lockeed Martin, irá ao espaço pela primeira vez em 2003, em sua versão com piloto automático, e em 2005 com uma tripulação humana. Servirá para colocar satélites em órbita e fazer o leva-e-traz entre a Terra e a Estação Espacial Internacional, que entrará em pleno funcionamento em 2003.
Ensaio polar
Biosfera simula base em outro planeta.
Qual o lugar da Terra mais parecido com o ambiente que os astronautas vão encontrar em outros planetas? As vastidões geladas das calotas polares. Como parte dos preparativos para as aventuras espaciais do próximo século, a Nasa montou, na Antártida, uma biosfera onde os pesquisadores tentam reproduzir o ciclo completo da vida terrestre. Lá, tudo é reciclado. De fora, só mesmo a (pouca) luz do Sol. Todo o lixo é reaproveitado. No CELSS (sigla em inglês para Sistema Controlado de Apoio Ecológico à Vida), os cientistas mantêm um jardim onde cultivam a própria comida e renovam o oxigênio pela fotossíntese. Para quem faz questão de comer carne, a experiência não é muito recomendável. Os moradores da biosfera marciana têm de se converter à dieta vegetariana.
Privatização da Lua
Americano vende pela Internet lotes de solo selenita.
“Dê de presente à sua namorada um pedaço da Lua”. Com essa conversa, um americano esperto até demais já vendeu, pela Internet (https://www.moonshop.com), mais de 10 000 lotes do satélite natural da Terra. Cada lote tem 7 quilômetros quadrados e custa 16 dólares. O aventureiro, Dennis Hope, acha que está dentro da lei, mas a verdade é que ninguém ainda decidiu a quem pertence a Lua.
Mensagem aos ETs
No final da década de 80, a revista Omni pediu ao astrônomo americano Freeman Dyson para escrever uma breve mensagem, que depois foi transmitida, por rádio, a extraterrestres que estivessem eventualmente à escuta. Dyson escreveu o seguinte:
“Caros extraterrestres. O silêncio de vocês nos deixa envergonhados. Perdoem-nos, por favor, pelo barulho que estamos fazendo neste magnífico Universo que compartilhamos com vocês. Sejam pacientes quando nós somos impacientes, sejam gentis quando somos brutos, sejam sábios quando somos imbecis. Nós somos uma espécie jovem e ainda temos muito o que aprender”.