Gilberto Stam
Se você ouviu falar do centenário da mecânica quântica, no final do ano passado, sem entender direito o que significava, não se preocupe: muito pouca gente sabe que se trata da teoria científica mais importante do século. Apesar de quase desconhecida, a teoria quântica está presente em tudo – ela abriu caminho não apenas para a criação do laser, do computador e de todos os equipamentos digitais em uso atualmente, como também foi decisiva para os avanços espetaculares da química e da biologia nas últimas cinco décadas. Acredita-se que a comercialização de todos os produtos viabilizados pela teoria quântica movimenta 25% do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos. Não admira que a elaboração da teoria tenha demorado 27 anos para ficar pronta e exigido o trabalho dos 15 ou 20 físicos mais brilhantes do século XX, inclusive Albert Einstein. O grande impacto da teoria deve-se, em grande parte, a duas descobertas desconcertantes. A primeira deu ao alemão Max Planck, seu autor, o título de fundador da mecânica quântica. Em dezembro de 1900, ele anunciou que um raio de luz é composto de pequenos “pacotes” de energia, desde então chamados de quanta (plural de quantum, “pacote”, em grego). Essa idéia violava o conceito consagrado nos dois séculos anteriores de que a luz é uma espécie de fluido e poucos deram atenção ao achado. Os quanta só emplacaram quando Einstein, em 1905, demonstrou cabalmente que eles existiam e, mais tarde, ensinou como usá-los para gerar os poderosos raios laser. A segunda descoberta fundamental postulava, pela primeira vez, que um corpo pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Esse conceito tem a ver com o cálculo das probabilidades e pode ser descrito da seguinte maneira: se um carro tem duas vagas em um estacionamento, se diz que ele ocupa as duas ao mesmo tempo, com 50% de probabilidade de estar em uma delas e 50% na outra. Parece uma idéia meio maluca, mas ela é essencial na construção dos chips dos computadores.
É verdade que a mecânica quântica só se aplica aos corpos menores que os átomos (o exemplo do carro serve apenas para ilustrar o conceito). Essa limitação, para alguns físicos, indica que a teoria quântica tem de ser reformulada ou substituída por outra melhor. Seja como for, ela chega aos 100 anos com uma folha de serviços inigualável. E, ao que tudo indica, com vigor para gerar tecnologias mais avançadas, como o teletransporte e a nanotecnologia.
Pais da matéria
A física quântica precisou de vários cérebros geniais para ser desenvolvida
1900 – O alemão Max Planck descobre que os raios luminosos contêm uma infinidade de minúsculos “pacotes” de energia, chamados quanta de luz
1905 – Albert Einstein demonstra definitivamente a existência dos quanta e, mais tarde, mostra que podem gerar raios poderosos, os laseres
1913 – O dinamarquês Niels Bohr revela que, se um elétron em um átomo emite um pacote de luz, passa a girar mais perto do núcleo atômico; e volta à posição inicial se receber um pacote luminoso de outro átomo
1926 – Erwin Schroedinger escreve a fórmula segundo a qual um objeto pode estar em dois lugares simultaneamente, com 50% de chance de estar em um deles e 50%, no outro. Isso vale apenas para partículas atômicas
1927 – Werner Heisenberg postula o princípio da incerteza, segundo o qual não se pode saber ao mesmo tempo onde está um objeto e a sua velocidade. Se a velocidade é exata, a posição é imprecisa, e vice-versa