A revolução dos livros virtuais
Stephen King tirou sua usina de best-sellers das livrarias e a transferiu para a rede mundial de computadores
Condenado à morte por muitos apressadinhos, o prazer da leitura renasce na rede mundial de computadores. São os e-books, ou livros eletrônicos – oferecidos diretamente ao leitor, sem intermediários.
Sabe aquele cara que disse que jamais trocaria a máquina de escrever pelo computador? E o cara que falou que o CD nunca teria a “naturalidade sonora” do vinil? E que o DVD era moda passageira e que o videocassete reinaria para sempre? Pois é! Esse cara está agora jurando que o e-book jamais substituirá o livro de papel. As explicações são as mesmas: o homem nunca abandonará o “prazer tátil” do livro de papel, livros eletrônicos são difíceis de ler etc.
Enquanto isso, a indústria dos e-books cresce sem parar: novos modelos estão aparecendo e uma revolução editorial foi lançada no interiorano Estado do Maine, nos Estados Unidos – onde mora o rei do suspense e do terror na literatura americana: Stephen King. A revolução pode estar apenas no início, mas quando Gutenberg imprimiu sua primeira Bíblia, em torno de 1455, pouca gente deve ter percebido tudo o que estava para mudar.
Desde o século XV até agora, a indústria de livros tem funcionado mais ou menos da mesma forma: o autor escreve, o editor edita, o distribuidor distribui, a livraria vende. As quatro partes dividem o dinheiro.
Até que, no ano 2000, um dos escritores mais populares do planeta decidiu subverter as regras que o deixaram rico. Stephen King primeiro lançou um livro gratuito chamado Ride the Bullet e mostrou ao mundo a concreta realidade do e-book. Em seguida, provocou a maior revolução na história recente da indústria editorial. Em vez de vender um produto chamado “livro”, ele resolveu negociar diretamente com seus leitores as bases de um novo contrato.
King lançou, então, seu The Plant para distribuição mundial pela Internet. O leitor foi convidado a fazer um download do primeiro capítulo. Se quisesse pagar por ele um dólar, King agradecia. Sua proposta: se 75% dos leitores pagassem pelo primeiro trecho do livro, ele soltaria o segundo. Se a mesma proporção dos que baixaram o segundo capítulo pagassem por ele, o autor soltaria a terceira parte. E assim por diante.
O que está implícito nesse acordo: nada de editores, nada de papel, nada de distribuidores, nada de livrarias, nada de transporte. King escreve seu livro, editado eletronicamente em sua própria casa, e entrega a obra ao leitor. Mais direto, impossível. Mais rápido, impossível. O autor ganha mais, o leitor paga menos. Eis aí uma nova revolução.
dmarquezi@abril.com.br
E-book para principiantes
Um livro eletrônico é basicamente igual a um arquivo HTML ou um e-mail. É texto – com ou sem ilustrações – em formato digital. Também não faltam na Internet livros inteiros em TXT, o formato mais simples.
Mas o verdadeiro e-book usa outro tipo de arquivo, mais sofisticado e visualmente próximo ao papel de verdade. Esse formato só pode ser lido pelo chamado reader, seja ele um software ou um aparelhinho especial, parecido com um computador portátil sem teclado. Criptografar esses documentos permite um controle maior por parte do autor e da editora: é pela liberação desses arquivos que os e-books são cobrados.
Existem hoje quatro readers no mercado internacional. Todos são distribuídos gratuitamente pela Internet nos endereços à direita.
Adobe Acrobat https://www.adobe.com/producta/acrobat/readermain.html
O reader básico e obrigatório. A maioria dos e-books são escritos neste formato, já na versão 4.0. Apesar de pobre em recursos, cumpre sua função – como um equivalente ao Winamp no mundo do MP3.
Rockets https://www.rocketboock.com/enter.html
O grande trunfo desta empresa é seu reader portátil, do tamanho de um livro real, com tela iluminada e botões que comandam as viradas de página. A versão Pro, a 270 dólares, tem memória para o equivalente a 40 livros “normais”. Os arquivos são baixados no PC e descarregados no aparelho por meio de um cabo. Para quem não quiser torrar grana com mais uma traquitana eletrônica, tem também um programa que simula o aparelho na tela do computador.
Glassbook https://www.glassbook.com/
O mais sofisticado reader para computador elevou o conceito a obra de arte. Baixar a versão 2.0 sai de graça, mas não se iluda com a foto do site. O Glassbook não existe como aparelho à parte: a imagem é só uma amostra de como fica num laptop, seu hábitat natural. Os títulos, gratuitos ou bem baratos, vão de Sherlock Holmes a quadrinhos japoneses.
Microsoft Reader ebook.barnesandnoble.com/ms_reader/
Depois de comprar a Glassbook (veja nota acima), a Microsoft lançou seu próprio reader. Junto, vêm 100 títulos gratuitos: uma fartura de ficção científica, mais clássicos da literatura, filosofia, história e um dicionário.
Sites brasileiros
Já existe um monte de sites nacionais que vendem e-books ou os distribuem de graça. Aqui vai uma lista resumida dessas livrarias virtuais. Passeando por elas, dá para criar uma biblioteca básica com alguns downloads e muita paciência.
Virtual Book https://www.terra.com.br/virtualbooks/
Seleção mais variada, inclui Paulo Coelho, Joyce, Maquiavel, Muamar Kadafi e Ruy Barbosa. Boa coleção infantil, mais livros em espanhol, francês e italiano.
iEditora https://www.ieditora.com.br/
Grande variedade de autores desconhecidos e iniciantes. Quem sabe não vai ser aqui que você vai lançar, ou ler, seu primeiro e-book?
oohoo.com https://www.oohoo.com.po/
Este endereço oferece material mais erudito, editado em Paris, mas voltado para o público de Portugal. Tem Os Lusíadas, mais ensaios sobre música brasileira, literatura portuguesa e moçambicana.
Biblioteca Nacional https://www.br.br/bibvirtual/acervo/acervodigital.html
Outro site reunindo grandes clássicos da literatura brasileira e documentos de importância histórica, como a Carta de Pero Vaz de Caminha. Aliás, se ele tivesse, na época, um laptop, teria sido tudo muito mais fácil.
Sibi Net https://www.usp.br/sibi/
Clique em “Biblioteca Virtual” e você terá acesso a vários sites científicos e educacionais. Obras clássicas da literatura brasileira – tipo Os Sertões de Euclides da Cunha e Os Semões de Padre Vieira – também são encontradas aqui.
Escreva https://www.escreva.com.br
Editoras especializada em temas esotéricos e místicos, mas que se propõe a publicar de tudo. É onde novos autores podem encontrar sua chance.