Aeromodelismo no furacão
Com menos de 3 metros de envergadura, 13 quilos e nenhum piloto, aviõezinhos como este já atravessaram o Atlântico e passaram no meio de um ciclone.
Wanda Nestlehner
Quando um avião atravessou o Atlântico pela primeira vez, em 1927, quem ficou famoso foi o piloto, o americano Charles Lindbergh (1902-1974). Agora, as coisas mudaram. O Laima (ao lado) cruzou o mesmo oceano em agosto e ganhou a fama sozinho. É que ele não precisa de piloto.
Guiada por um computador de bordo devidamente programado e monitorado por satélites, a viagem engrossa o currículo de bravuras das aerosondas, como são chamados esses aviõezinhos. Em janeiro, outra delas já havia feito um passeio pelo interior de um ciclone (veja no detalhe). Saiu ilesa e trouxe dados nunca antes coletados sobre os ferozes redemoinhos.
Por essas e outras – como a capacidade de colher informações meteorológicas acima dos oceanos, em baixa altitude, onde balões e aviões grandes não circulam –, o intrumento deverá ser usado para melhorar a previsão do tempo. A travessia do Atlântico, portanto, foi apenas o começo. A fama das aerosondas só tende a crescer.
Antes do sucesso, dois fracassos
Sem trem de pouso, aviões como o Laima decolam do teto de carros em movimento. No fim da viagem, técnicos, em terra, tomam seu controle por meio de ondas de rádio e o conduzem ao pouso com a ajuda de um joystick, como se fosse um desses aeromodelos de brinquedo. Durante o vôo, o computador de bordo recebe dos satélites informações contínuas sobre possíveis saídas da rota e corrige o rumo.
Mesmo com todos os cuidados, duas aerosondas falharam na tentativa de cruzar o oceano. Talvez o seu nome – de uma deusa báltica – tenha ajudado o Laima. “O sucesso é animador, mas temos que tornar o veículo mais confiável”, disse à SUPER Yuris Vagners, da Universidade de Washington, que é responsável, junto com a empresa americana Insitu, pelo projeto. Para isso, ele calcula, são necessários mais dois anos de trabalho.
Feito de fibra de grafite, material leve e resistente, o pequeno avião passou tranqüilo pelo interior do ciclone Tiffany, em janeiro, na costa australiana
Cruzada econômica
O Laima gastou menos de 8 litros de gasolina e 26 horas para fazer o trajeto de 3 200 quilômetros voando a 1 800 metros de altura.
Pesquisadora polivalente
Pequena e leve, a aerosonda pode ter várias utilidades.
Resultado de pesquisa paga por institutos meteorológicos dos Estados Unidos, Austrália, Taiwan e Canadá, as aerosondas colhem dados sobre pressão atmosférica, temperatura, composição e umidade do ar. Mas também podem levar câmeras para monitorar o tráfego em estradas e incêndios em florestas.
Ficha técnica
Peso: 12,8 quilos
Motor: 700 W (o suficiente para acender 7 lâmpadas comuns)
velocidade máxima: 150 quilômetros por hora
Altura máxima de vôo: 5 quilômetros