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Agricultura polui mais o ar que a indústria

Cientistas descobrem que a agricultura é a atividade humana que mais interfere na qualidade do ar

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 10h35 - Publicado em 18 Maio 2016, 23h00

Se, quando você ouve falar de poluição atmosférica, a primeira coisa que imagina são chaminés de fábricas e escapamentos de carros, atualize sua concepção de poluição. Um estudo recente da Universidade Columbia afirma que a agricultura é a principal culpada por sujar o ar nos Estados Unidos, Europa, Rússia e China.

Os vapores de esterco de animais e de fertilizantes ricos em nitrogênio se combinam com as emissões das indústrias e formam finas partículas sólidas – a mistura ideal para espalhar doenças. A esperança dos pesquisadores é que existem várias projeções que acreditam na diminuição das emissões de poluentes industriais. E, se elas se confirmarem, mesmo que o uso de fertilizantes dobre, a poluição atmosférica vai cair.

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A maior parte da poluição gerada pela agricultura vem da amônia. A substância é usada para fabricar fertilizantes, mas pode ser produzida naturalmente através decomposição de materiais orgânicos, como esterco e restos de comida. Ela emana de campos muito adubados ou fertilizados e, em contato com o ar, se junta aos poluentes de combustão, como óxidos de nitrogênio e sulfatos de veículos, para criar minúsculas partículas – do diâmetro de fios de cabelo – que se dissipam com o vento e chegam às grandes cidades. Ou seja, mesmo que você more longe de lavouras e fazendas de criação de gado, está exposto à poluição agrícola.

Apesar de outras pesquisas já terem alertado para o perigo da poluição agrícola, este é o primeiro estudo a olhar o fenômeno em escala global e a projetar tendências futuras. Os cientistas de Columbia descobriram que mais da metade das partículas poluentes no leste e no centro dos Estados Unidos são provenientes da agricultura. Na China e na Europa a proporção é ainda mais preocupante. O grande perigo dessas pequenas poeirinhas é que elas podem penetrar muito fundo nos pulmões e causar doenças cardíacas e pulmonares. Um estudo publicado na revista Nature em 2015 estima que elas causem 3,3 milhões de mortes por ano em todo o mundo.

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“Não somos contra o uso fertilizantes, muitos lugares precisam. A expectativa é que a população mundial aumente e, para produzir mais comida, vamos precisar deles” afirma a autora da pesquisa, Susanne Bauer, em entrevista ao Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da NASA. Para ela, o fato de as emissões agrícolas precisarem se combinar com outros poluentes para formar essa pequenas partículas-bomba, pode até ser uma boa notícia.

Parece difícil de entender o porquê, mas é mais fácil que plantar feijão em um potinho de algodão. Com fontes de energia limpa e legislações pró-meio ambiente mais rígidas, a expectativa é que as emissões industriais diminuam até o final do século. Sem esses poluentes pairando, as partículas agrícolas não terão com quem se agregar para formar partículas sólidas e contaminar o ar.

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Como Bauer defende, a produção de fertilizantes vai continuar aumentando para acompanhar o ritmo de crescimento da população, mas a quantidade de poluição atmosférica que eles geram depende de muitos outros fatores – tanto industriais quanto naturais, como chuvas, vento e temperatura, por exemplo.

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Sem tanta poluição das indústrias, a amônia produzida pela agricultura vai subir para a troposfera, a mais de 2 km da superfície terrestres. E lá, ao entrar em contato com relâmpagos e outros processos naturais, vai se partir em partículas menores ainda.

Isso não quer dizer que está liberado encher as lavouras e pastos de adubos químicos. O ar não é a única vítima da amônia e outros componentes dos fertilizantes. Quando utilizados em excesso, eles lavam os campos, contaminam rios e matam a fauna que, até então, existia. Tudo indica que o problema seja ainda maior no Brasil, país que notoriamente abusa dos fertilizantes químicos.

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