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Apertem os cintos, a cabine sumiu

Engenheiro cria avião com cabine ejetável, capaz de salvar os passageiros de um avião em queda, e faz sucesso no Facebook. Agora saiba por que a ideia é absolutamente inútil.

Por Ana Luísa Fernandes
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 21 jan 2016, 17h00

A chance de alguém morrer num acidente aéreo é de mais ou menos uma em cada 45 milhões de voos (a de ganhar na Mega Sena é de uma em 25 milhões, e você não vai ganhar nem que passe oito encarnações jogando toda semana). Mesmo assim, avião mete mais medo que carro.  Claro: se o seu carro bate, talvez você saia andando do meio das ferragens; se o seu avião cai, sua perna esquerda provavelmente estará a cem quilômetros do seu braço direito quando os seus restos mortais forem encontrados por uma tribo de aborígenes. Isso basta para que a probabilidade de um em 45 milhões já seja assustadora o bastante. Então vem a pergunta: você se sentiria mais seguro se soubesse que o seu avião está equipado com uma cápsula capaz de pousar com paraquedas? Imaginamos que sim, se não esta notícia não estaria aqui. 

A ideia veio do engenheiro ucraniano Vladimir Tatarenko, e o vídeo de demonstração tem sido compartilhado vorazmente por aí. É lindo: a cabine dos passageiros seria separável do resto da aeronave: cabine dos pilotos, asas e motores. Se algum problema ocorrer, a cápsula (que tem lugar para acomodar as bagagens) é destacada, e uma espécie de paraquedas gigante é acionado automaticamente. Ela pode pousar no chão ou na água, e conta com amortecedores para diminuir o impacto.

“Sobreviver a um acidente de avião é possível. Enquanto engenheiros do mundo todo estão tentando deixar os aviões mais seguros, eles não podem fazer nada quanto ao fator humano”, diz Tatarenko. Fator humano, no caso, corresponde aos erros dos pilotos e copilotos. Dos acidentes aéreos, 60% são causados por falha humana.

Boa intenções à parte, a novidade não foi bem recebida. Primeiro porque isso enfraquece a fuselagem. Um avião-lego, como esse, seria bem mais turbulento que um comum, inteiriço. E talvez caísse justamente por ter esse esquema de segurança. Gol contra. 

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Outra questão: dependendo de como for a queda da cabine ejetável, o paraquedas pode simplesmente se enrolar todo na fuselagem, tornando-se inútil. E mesmo que o para-quedas funcione bem, a queda sobre uma área urbana poderia ser desatrosa – imagine uma cabine inteira de avião caindo no meio dos prédios da Paulista. Você não gostaria de estar num desses prédios, nem na cabine.

Pior. Desenvolver um avião assim do zero custaria uns bons bilhões de dólares (ninguém imagina quantos). É muito risco financeiro até para a Boeing e a Airbus, as virtuais monopolistas no mercado de aviões bojudos. Além disso,  um avião assim teria necessariamente menos assentos e consumiria mais combustível por passageiro (as companhias aéreas chiariam até perder a voz). Resumindo: que seria bom termos alguma esperança de sobrevivência quando o avião começa a chacoalhar demais, seria. Pena que ainda não será desta vez. E o jeito agora é continuar aventando a hipótese de uma morte dantesca toda vez que você dá bom dia para a aeromoça e vira para a esquerda rumo ao seu acento com uma boia embaixo, difícil de achar. 

Bom voo.  

 

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