As excentricidades de Plutão
Plutão: o nono planeta do sistema solar e suas excentricidades.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Qual é o planeta mais afastado do Sol? A maior parte dos leitores talvez responda que é Plutão. No entanto, desde 21 de janeiro de 1979, o planeta mais distante do Sol é Netuno. Enquanto os oito principais planetas do sistema solar gravitam em órbitas quase circulares, afastando-se muito pouco do plano da eclíptica (plano que contém a órbita terrestre), Plutão descreve uma elipse muito alongada – de grande excentricidade, como diriam os astrônomos -, que faz um ângulo de 17 graus com esse plano. Além disso, sua trajetória é de tal modo excêntrica que, durante, alguns anos, ele fica mais próximo do Sol que Netuno. É o que está acontecendo atualmente. Há dez anos, Plutão cruzou a órbita de Netuno e a partir daí deixou de ser o último para tomar-se o oitavo planeta em afastamento do Sol, permanecendo assim até 14 de março de 1999.
Então, Netuno voltará à sua posição, conservando-a por 226 anos. Na realidade, as órbitas de ambos se cruzam, mas não se cortam jamais. Inclinadas uma em relação à outra, elas se tangenciam sem se tocar – Plutão pode cruzar por Netuno sem perigo de colisão. De qualquer modo, eles estarão distantes pelo menos 2,5 milhões de quilômetros um do outro. Assim, quando Plutão se en¬contrar no periélio – ponto no qual a distância do Sol é mínima – estará a 4,45 bilhões de distância do Sol, ou 29,67 U.A. (unidades astronômicas). Netuno, que está, praticamente, a 60 graus de Plutão, ao ultrapassá-lo estará se aproximando do afélio – ponto de sua órbita mais afastado do Sol. Plutão passou pelo afélio em 12 de julho de 1866, 7,39 bilhões de quilômetros distante do Sol.
Esses movimentos são sincroniza¬dos por um fenômeno dinâmico denominado ressonância estável, essencial na harmonização do movimento dos corpos do sistema solar. Por isso os corpos não caem e estão dispostos de forma que cada planeta descreva sabiamente suas órbitas. É provável que tenha sido Netuno que obrigou seu vizinho Plutão a descrever essa órbita excêntrica. Na época da formação dos planetas no sistema solar, quando ainda não existiam órbitas bem determinadas, Plutão deve ter passado nas proximidades do grande Netuno e, em conseqüência, foi tão intensamente perturbado que teve sua trajetória alterada. Nessa órbita, Plutão realiza uma volta em redor do Sol em pouco menos de 248 anos. Em 5 de setembro próxi¬mo, esse planeta passará no periélio.
Enquanto os amadores aprovei¬tam a oposição do planeta, que ocorreu em 4 de maio deste ano, para tentar observá-lo com telescópios de abertura superior a 20 centímetros de diâmetro, os astrônomos profissionais pesquisam Plutão e seu satélite Caronte, pois eles só podem ser estudados da superfície terrestre. Em fotografias normais, como aquelas que temos tirado no Observatório Europeu Austral, para determinar posições mais precisas e conhecer melhor a órbita, Plutão brilha pouco no meio de outras estrelas. Isso explica por que ele só foi descoberto neste século. Quando os astrônomos descobriram Netuno, em 1846, logo perceberam que sua massa não era suficiente para explicar as perturbações ocorridas no vizinho Urano. E logo atribuíram-nas à presença de um planeta invisível. Mas só em 1905 começou a busca fotográfica do nono planeta.Em 1930, após examinar centenas de fotos, o astrônomo Clyde William Tombaugh o encontrou. Fotos de Plutão, obtidas em 1978, mostravam um planeta alongado. Submetidas a tratamentos especiais, descobriu-se o satélite Caronte. Recentes medições revelam que Plutão tem 2 330 quilômetros de diâmetro contra os 1225 de Caronte, que está a uma distância média de 19 800 quilômetros do planeta em tomo do qual gira. Diante disso, podemos considerar Plutão-Caronte como um planeta duplo. Plutão não receberá a visita de nenhuma sonda antes do século XXI – a Voyager 2, após sobrevoar Júpiter, Saturno, Urano e Netuno (por onde passará em 24 de agosto deste ano), deixará o sistema solar, sem observar o mais misterioso dos planetas.
Eclipse lunar
Na noite de 16 e madrugada de 17 de agosto, os brasileiros te¬rão o privilégio de observar o eclipse total da Lua. Já em ou¬tras partes do mundo ele será parcial. O inicio da fase da entra¬da da Lua no cone de sombra se¬rá visível na Europa, Oriente Médio, África, Antártida e ocea¬no Atlântico, América Sul e Central, parte do leste da Amé¬rica do Norte e metade leste do oceano Pacifico. O final será visível na África Ocidental, oeste da Europa, Antártida, oceano Atlântico, América do Sul, Cen¬tral e do Norte.
O primeiro contato do cone de sombra com o limbo da Lua irá ocorrer a 57 graus a leste do ponto do disco lunar, quando a Lua esti¬ver no zênite para o ponto da Terra de longitude menos 20 graus e 1 minuto e latitude menos 14 graus e 2 minutos (o que corres de a um ponto no Atlântico Sul próxi¬mo à ilha de Trindade), último contato do cone de sombra com o limbo da Lua irá ocorrer a 107 graus a oeste do ponto norte do disco lunar, quando a Lua estiver no zênite para o ponto da Terra de longitude menos 71 graus e 53 mi¬nutos e latitude menos 13 graus e 8 minutos ( ponto nos Andes peruanos).