Chegou a hora da indústria de games no Brasil?
Ao que parece, sim. De crowdfunding a leis de incentivo, as produções nacionais estão aparecendo por aqui e na gringa.
Não é exagero dizer que, poucas décadas atrás, os games brasileiros passavam despercebidos por aí. A cena de jogos era (e ainda é, ok) dominada pelas grandes produções americanas e japonesas, e raramente um título em português escapava. Com origens que remontam a 1980, essa indústria começou ainda na ditadura, quando o governo determinava a reserva do mercado de informática para empresas brasileiras. Para saber mais sobre os desafios e avanços dos games no Brasil, a SUPER conversou com experts no assunto.
Mercado em expansão
Os desenvolvedores de jogos no Brasil driblaram todo tipo de dificuldade. Mesmo com a proibição de importações na área, durante o período militar, os brasileiros davam um jeitinho. “Muitos falsificavam aparelhos e criavam programas do zero”, explica o jornalista especialista em games Pedro Zambarda de Araújo, que criou o site Drops de Jogos e também mantém o Geração Gamer, endereço dedidado aos jogos vindos de terras brasileiras. A trancos e barrancos, o crescimento desse campo por aqui alcança de 9% a 15% anuais, desde 2009, segundo a ABRAGAMES, a maior associação de desenvolvedores do país.
Nesse ritmo, a tendência é que o Brasil chegue aos pesos-médio desse ramo em breve — só que, por enquanto, sem esbarrar nos gigantes como Estados Unidos e Japão. Um dos pontos que servem para alavancar o Brasil, além das novidades nos projetos autorais, é o formato em que vêm os jogos e a quais plataformas são acessíveis. Agora, se você quiser comprar uma produção nacional, não vai ficar refém do PC, já que aumentaram as chances de que ela esteja disponível para Xbox, por exemplo.
Incentivos
Para garantir um estímulo para essas produções com selo brasileiro, alguns mecanismos foram aprovados há pouco tempo. Uma delas foi a Portaria aceita em em 2011, que inclui a produção de videogames nos incentivos oferecidos pela Lei de Incentivo à Cultura, ou Lei Rouanet. Mas ela não foi suficiente para convencer todo mundo de que, sim, videogames têm tudo a ver com cultura. Tanto é que, em 2013, a então ministra da cultura, Marta Suplicy, fez uma declaração que gerou bastante repercussão: “Eu não acho que jogos digitais sejam cultura”. Mesmo assim, graças a esse meio legal, foi lançado em março deste ano o primeiro jogo totalmente produzido com a ajuda da Lei Rouanet, o Toren.
Nele, a protagonista é uma garotinha aprisionada em uma torre que sobe até o céu. Ela tem uma maldição que a faz nascer e viver toda a sua vida a cada dia, repetidamente, e descobre que o único jeito de acabar com isso é chegar às alturas de vez.
Mesmo com a deixa oferecida pela Lei Rouanet e com um bom enredo, alcançar a verba suficiente para um projeto autoral foi difícil. “Após conseguirmos o apoio, demoramos quase um ano tentando captar recursos. A lei pode ser uma boa alternativa para financiar jogos, mas é necessária uma ampla rede de contatos e muito trabalho para conseguir o apoio das empresas”, diz o designer Vitor Severo Leães, produtor da Swordtales, empresa que desenvolveu o Toren. “A lei só dá isenções fiscais para empresas que financiem projetos selecionados. Ou seja, tudo depende de investimentos do setor privado.”
Como fica tudo na mão de quem tem a grana para investir nos games, o caminho para os desenvolvedores é vender o peixe e assegurar que os empresários saibam que esse também é um bom negócio. Nos editais que oferecem oportunidades na área de cultura, também falta um espaço destinado especificamente aos games. “O ideal seria uma lei própria para apoio aos produtos digitais, assim como temos com a Lei do Audiovisual para cinema e TV, porque esse é um mercado com características únicas e pouco conhecidas pelas empresas que fomentam a cultura”, opina Leães.