Gabriela Aguerre
Um ex-guitarrista brasileiro inventa o acesso à Internet via rádio e faz negócios com Bill Gates. Sérgio Cabral, que tocava com os Paralamas, tem todos os motivos para se sentir total.
Sabe aquele barulhinho chato que o modem faz toda vez que você entra na Internet? Tchau. Se depender do analista de sistemas e músico – não necessariamente nessa ordem – Sérgio Cabral, em breve você não vai mais precisar de modem, muito menos ocupar a linha telefônica da família para navegar. Seus e-mails voarão diretamente do seu micro até o provedor e de lá, via satélite, para o mundo, carregados por velozes ondas de rádio. Por que ninguém pensou nisso antes? É como o ovo de Colombo ou, no caso, o ovo de Cabral: é fácil depois que alguém descobre.
Cabral é um exemplo de homem certo, no lugar certo, na hora certa e, sobretudo, olhando para o lugar certo. Tudo começou em janeiro de 1991, durante a Guerra do Golfo Pérsico. Na época com 28 anos, ele administrava uma empresa de software. Enquanto todos assistiam televisão, estupefatos com o poderio militar americano, ele prestava atenção na tecnologia por trás de tudo. Filho de um tenente-coronel da Força Aérea Brasileira, tinha acesso a dicas privilegiadas. Soube, então, como os americanos faziam para receber informações sigilosas durante os combates. “Usavam rádios livres de interferência, com ondas de extrema precisão”, conta. Cinco anos depois, veio o estalo: por que não usar a mesma tecnologia para acessar a Internet? Pronto, Cabral tinha posto o ovo em pé.
Essa é pra tocar no rádio
Comparar a conexão por rádio com o modem é como confrontar um avião com um skate. Pelas ondas hertzianas, os dados trafegam a 3 000 quilobits por segundo, 107 vezes mais rápido do que permitem os modems de 28,8 quilobits. As vantagens dessa diferença são várias (veja infográfico). Mas o melhor é que tudo isso já saiu do papel e virou a Rede Omega, a empresa lançada pelo ex-guitarrista como provedora de acesso à Internet, em outubro, em Curitiba.
Cabral pode não ter descoberto o Brasil, mas pode fazer o Brasil ser descoberto pela rede mundial. No mês passado, ele mostrou seu sistema a Bill Gates, o presidente da Microsoft. Saiu de lá com um vasto sorriso e um contrato para a primeira venda eletrônica, ainda este mês, de um produto da Microsoft pela sua empresa.
Embora de um sujeito que tenha uma idéia dessas se espere que só pense em bits, Cabral prefere, mesmo, é ser chamado de roqueiro. Ex-estudante de Física, Matemática e Engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o inventor acabou se formando em Análise de Sistemas. No entanto, o grande orgulho desse Professor Pardal é ter passado as tardes de adolescente tocando com Herbert Vianna e Bi Ribeiro, antes de eles se tornarem os Paralamas do Sucesso. Com o tempo, acabou trocando a guitarra pela música eletrônica. Está provado que não é só com rock que se faz sucesso no rádio.
Pacote básico
Este é o kit especial distribuído pela Rede Omega
Seu micro recebe uma placa de rede especial para entrar em contato com o provedor. Ganha um rádio israelense Breezecom, do tamanho de um mouse, que substitui o telefone, para transmitir e receber informações. Acoplada ao micro, uma antena faz a ponte entre o rádio e a central de acesso.
Na crista da onda
Como os dados surfam pelo ar.
Tudo o que seu micro entende são bits. Com o modem, eles viram sinais de telefone. As linhas telefônicas congestionadas não dão conta do volume de dados que trafegam pela rede. Então, o aparelho que você acopla ao micro transforma os bits em ondas e foge do engarrafamento. A vantagem do novo sistema é que, naquela faixa de radiofreqüência, não existe interferência.
Um gigantesca diferença
Veja as vantagens de ter uma conexão 107 vezes mais veloz.
Diversão garantida
Surge uma luz no fim do túnel para a webtelefonia, os programas ligados a câmeras de vídeo que transmitem a voz e a imagem dos usuários. Hoje as imagens aparecem a três quadros por segundo e o sujeito que está falando com você parece um robô. Já a qualidade da imagem transmitida por ondas de rádio se equipara à da televisão, com trinta quadros por segundo. Essa rapidez também abre portas para a televisão pelo sistema pay-per-view – em que você paga pela transmissão de programas.
Passe de mágica
Uma das principais queixas da maioria dos internautas é a lentidão da Internet para copiar programas, que geralmente são arquivos grandes. A Enciclopédia Britannica ocupa os 640 megabytes de um CD-ROM. Copiá-la pela Rede Omega levaria cerca de meia hora.
Internet portátil
A conexão por rádio permite que você use um notebook e navegue em movimento. A diferença é que assim é muito mais rápido e mais barato do que da forma usada atualmente, por telefone celular. O sistema funciona sem problemas se você se mover a até 90 quilômetros por hora.
Velocidade máxima
Entenda como funciona a Internet por rádio.
1. Adeus ao modem
A configuração mínima do computador é um Pentium 100, com o sistema operacional Windows 95. O modem e a linha telefônica tornam-se desnecessários. Em vez deles, você precisa de um kit especial (veja abaixo) que permite receber e transmitir dados por rádio.
2. Céu de brigadeiro
Todos os dados que chegam e saem do seu computador navegam pelo ar na forma de ondas de rádio. O caminho das informações é a radiofreqüência entre 2,4 e 2,48 gigahertz, liberada pelo governo.
3. De casa para o mundo
Captadas e retransmitidas por antenas, as ondas atingem o backbone – espinha dorsal, em inglês –, a central de telecomunicações que liga o seu provedor ao resto do mundo via satélite.