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Emprego que não acaba mais

A tecnologia não vai acabar com o emprego. Mas os profissionais devem estar atentos às oportunidades de um mundo sem fronteiras

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

Juliana de Moraes

Em meados dos anos 90, o economista americano Jeremy Rifkin causou polêmica com seu livro O Fim do Emprego (Makron Books), no qual previa que a era do emprego estava com os dias contados. Segundo Rifkin, o aumento da produtividade resultante da adoção de novas tecnologias – como a informática, a robótica e as telecomunicações – iria provocar efeitos devastadores no nível de emprego mundial. Milhões de pessoas perderiam seu ganha-pão no campo, na indústria e no setor de serviços. Somente uma pequena elite de trabalhadores especializados conseguiria prosperar numa economia global dominada pela tecnologia.

Rifkin estava certo? As estatísticas sobre o mercado de trabalho mundial parecem lhe dar razão. As taxas de desemprego, aqui no Brasil e lá fora, não param de bater recordes. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há pelo menos 550 milhões de pessoas no planeta – 20% do total de trabalhadores – que sobrevivem com remuneração inferior a 1 dólar por dia. Além de ganhar mal, muitos enfrentam longas jornadas e péssimas condições de trabalho. E mais: das 186 milhões de pessoas consideradas oficialmente desempregadas no mundo no final de 2003, quase a metade (47%) tinha entre 15 e 24 anos, desenhando um futuro especialmente nebuloso para os mais jovens.

Mas nem todos concordam com os prognósticos pessimistas de Rifkin. “Embora a tecnologia possa tanto criar trabalhos como extingui-los, o efeito líquido é geralmente o aumento do emprego”, diz um relatório do Future of Work, um programa do governo neozelandês que discute as grandes tendências no mercado de trabalho. “Ao aumentar a produtividade, a tecnologia aumenta a renda e, portanto, a demanda na economia como um todo”, afirma o estudo. Que, no entanto, reconhece que o problema não é tão simples: “Motivo de maior preocupação é que trabalhadores que perderam seus empregos devido a mudanças na tecnologia podem não ter as habilidades ou os meios para adquirir as habilidades que serão exigidas no mercado de trabalho do futuro”.

Se a tecnologia pode decretar o fim do emprego para alguns, ela pode, paradoxalmente, representar um aumento do trabalho para muitos. Nos últimos anos, o advento de inovações como a internet e o telefone celular acabou com as limitações de tempo e espaço. Qualquer pessoa pode hoje ser encontrada a qualquer momento, em qualquer lugar, ampliando seu ambiente virtual de trabalho. “Se não houver uma mudança no perfil cultural da sociedade como um todo, as tecnologias só trarão mais e mais trabalho para a vida das pessoas”, diz o consultor Simon Franco.

FLEXIBILIZAÇÃO

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Franco é um dos que não acreditam na extinção pura e simples do emprego, mas está convencido de que mudanças importantes deverão ocorrer nos próximos anos. Segundo ele, há no mundo uma tendência de flexibilização das leis trabalhistas, o que vai permitir a geração de novas vagas no mercado de trabalho formal. “Na França só é permitido dispensar um colaborador após seis meses da sua contratação. No Brasil, as leis trabalhistas foram criadas por Getúlio Vargas, um ditador populista que precisava do apoio das massas para se manter no poder. Normas criadas para superproteger o cidadão trabalhador tornam a geração de novos postos insustentável”, diz Franco.

Outra tendência apontada pelo consultor – e que deverá propiciar novas oportunidades de trabalho – é o aumento da mobilidade internacional de mão-de-obra graças ao relaxamento das leis de migração em alguns países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de vistos concedidos a profissionais de outras nações dobrou na última década. Outros países desenvolvidos deverão enfrentar uma escassez na oferta de mão-de-obra, em conseqüência da contínua queda nas taxas de natalidade. Nos 30 países ricos que formam a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a previsão é que, nos próximos 25 anos, cerca de 70 milhões de pessoas deverão se aposentar, enquanto apenas 5 milhões de jovens ingressarão no mercado de trabalho – gerando um déficit de 65 milhões de trabalhadores somente nesse bloco de países. “O que se observa é o esforço de governos para tornar possível a entrada de profissionais estrangeiros competentes”, diz Franco. O profissional do futuro, segundo ele, não terá fronteiras: vai encontrar trabalho aqui, na Europa ou no Japão com o mesmo esforço.

SALÁRIOS VARIÁVEIS

Uma mudança significativa deverá ocorrer também na forma de remuneração dos trabalhadores. Cada vez mais, eles serão pagos de acordo com seu desempenho, indica uma pesquisa realizada pela consultoria Hewitt Associates em 36 países. “Vinte e nove por cento das 55 empresas de grande porte entrevistadas disseram que estão substituindo a política de aumentos do salário-base por programas de remuneração variável, como ganhos com participação sobre os lucros e bônus para funcionários de alto desempenho”, diz Patrícia Hanai, consultora de remuneração da Hewitt.

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Em função dessa mudança no sistema de remuneração, os funcionários deverão participar mais ativamente dos planos estratégicos das corporações no futuro, acredita o consultor Simon Franco. “A administração participativa, ou seja, aquela em que todos os funcionários se reúnem para tomar decisões no ambiente de trabalho, ganhará força”, prevê Franco. “Isso porque a globalização vai aumentar a competitividade entre as empresas e seus colaboradores terão de encarar esse desafio como se fosse deles, o que de fato é, já que seus empregos irão depender do sucesso das corporações em que trabalham.”

DUAS CARREIRAS

Em muitos países, o declínio das taxas de natalidade deve fazer com que os mais velhos adiem sua aposentadoria. “Vantagens especiais serão oferecidas aos profissionais acima de 45 anos para que permaneçam em seus cargos”, prevê o programa Future of Work.

Esse fenômeno, aliado ao aumento da expectativa de vida, deve fazer com que muitas pessoas repensem suas carreiras profissionais. Gilberto Guimarães, diretor da consultoria francesa BPI no Brasil, aponta a tendência de se planejar duas carreiras: uma antes da aposentadoria, outra depois dela. Isso porque, após 30 ou 35 anos de trabalho, ainda restam ao menos 25 de vida pela frente. Se não pela necessidade financeira, essa segunda carreira poderá cumprir o papel de manter ocupadas pessoas ainda saudáveis. “A busca de um novo meio de trabalho após a aposentadoria já é uma realidade e vai ganhar impulso no futuro”, afirma Guimarães.

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Tendências

• LEGISLAÇÃO

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Para poder gerar mais empregos, os governos terão de flexibilizar as leis trabalhistas. Alguns países vão mudar as leis de migração para atrair profissionais estrangeiros qualificados.

• REMUNERAÇÃO

Os salários tendem a tornar-se variáveis, baseados na produtividade. E os funcionários terão maior participação nas decisões das empresas.

• APOSENTADORIA

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Muitas pessoas vão estender sua permanência no mercado de trabalho. E terão duas carreiras: uma antes da aposentadoria, outra depois dela.

Profissões do futuro

As áreas mais promissoras mudam,mas a capacidade de pensar estará sempre em alta no mercado de trabalho

O físico britânico Stephen Hawking afirma que a única atividade que as máquinas não podem executar é o pensamento, a criação – para todo o resto, existem os computadores. Não à toa, o consultor Simon Franco diz que a capacidade de pensar é o aspecto mais procurado em um profissional e tende a ser cada vez mais valorizada. “Os indivíduos mais requisitados pelas empresas são aqueles capazes de se comunicar em várias línguas e questionar as informações que recebem”, diz.

No livro As Profissões do Futuro (Publifolha, 2001), o economista e sociólogo Gilson Schwartz diz que, após a explosão de crescimento da internet, permaneceram as profissões criadas para atuar em redes de conhecimento. Coordenadores de projetos na rede mundial de computadores, gerentes de terceirização, administradores de comunidades virtuais são algumas oportunidades que estão em alta em diversas partes do mundo.

A biotecnologia é outra área promissora. Deverá demandar profissionais qualificados em atividades como agricultura e pecuária, engenharia de alimentos, saúde e meio ambiente. Parasitologia, bioquímica e genética são algumas especializações que vão despertar o interesse de grandes indústrias e institutos de pesquisa, graças, em especial, ao avanço do uso de células-tronco no tratamento de doenças.

A crescente preocupação com a qualidade de vida deve abrir um leque de oportunidades para profissionais com formação na área de humanas. “Com o aumento da longevidade do homem, haverá oportunidades crescentes para arquitetos, engenheiros e profissionais de turismo, entre outros, capazes de criar produtos e serviços para atender esse público dos mais idosos”, diz Simon Franco.

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