Enlarge your PIB: banda larga faz a economia crescer
A Internet de alta velocidade é tão importante para o desenvolvimento econômico quanto foram as estradas de ferro e de asfalto no século passado
Alexandre Versignassi e Salvador Nogueira
No começo era só uma fazenda entre o nada e o lugar nenhum: a fronteira do Tennessee com a Virgínia, no interior dos EUA. Mas Joseph Anderson quis montar uma cidade ali. Era 1852 e ele soube que duas linhas de trem iriam se cruzar na fazenda. O lugar teria uma estação de trem. “Construa que os moradores virão”, Anderson deve ter pensado.
E começou a construir. Comprou uma parte da fazenda equivalente a 100 campos de futebol, metade num estado, metade no outro, e levantou sua casa. Depois conseguiu que o governo colocasse uma agência de correio lá. Em 1853 levou o mercadinho que ele tinha em Bountsville, a cidade mais próxima. Veio a primeira agência bancária. A ferrovia trouxe empresas: mineradoras de carvão e madeireiras se instalaram. Pessoas começaram a se mudar para lá. Pronto. Eles tinham vindo. A cidade de Anderson, que ele batizou como Bristol, começava a andar com as próprias pernas.
Hoje o lugar tem até um autódromo que recebe corridas da Nascar. Mas a cidadezinha, de 25 mil habitantes, não ia tão bem. O carvão e a madeira rarearam. Ela estava perdendo sua razão de existir. Mas acabou salva por uma nova ferrovia. Agora feita de fibra ótica.
Foi um acaso. Bristol, Tennessee, e Bristol, Virgínia, começam cada uma de um lado da avenida principal da cidade. Com o município divido entre dois estados, os moradores tinham que pagar DDD para fazer ligações locais. Para driblar esse problema, a companhia de energia elétrica da cidade montou uma rede de fibra ótica entre seus escritórios, em 1999, para que as ligações telefônicas acontecessem por elas. No começo era para uso interno, mas os moradores logo quiseram ter a mesma comodidade. Até porque as linhas de fibra ótica tinham um efeito colateral desejável: podiam levar internet de altíssima velocidade, 10 vezes mais rápida que a banda larga comum, para todas as casas.
Nisso, e com uma ajuda de US$ 9 milhões do governo, Bristol e as cidades em volta viraram uma das poucas regiões do mundo com internet de fibra ótica para todos. E dessa vez foi ela quem trouxe empresas. Em 2007 a Northrop Gruman, a maior empresa de equipamentos militares do mundo, e a CGI, uma multinacional de tecnologia, se instalaram na região de Bristol para aproveitar as conexões de 50 Mbps do lugar. Construíram a rede de fibra ótica e eles vieram.
A semelhança com o que tinha acontecido na época da ferrovia diz muito. Se as estradas de ferro criaram riqueza onde antes não havia nada, as de fibra ótica estão fazendo a mesma coisa agora.
Não faltam exemplos. Na Índia, a instalação de quiosques de internet em vilas rurais que concentram pequenos agricultores de soja fez com que o lucro deles subisse 33% e a produção 19%. O segredo? Os produtores agora podiam checar todo dia quais eram os preços da soja praticados no resto do país. E aí quem estava levando desvantagem por não saber o valor real de sua produção se ajustou. Resultado: mais dinheiro pela soja. E mais soja para o PIB indiano.
Outra consequência econômica é mais óbvia: para aumentar a banda da internet, o país precisa melhorar toda a sua estrutura de telecomunicações. Isso cria demanda por serviços, equipamentos… Em última análise, cria empregos. Azeita as engrenagens da economia. Por essas, o Banco Mundial estima que, para cada 10% de crescimento no número de pessoas com acesso à banda larga, há um aumento de 1,4% no PIB. Para o Brasil, isso significa R$ 40 bilhões por ano. Dá quase 4 vezes o orçamento do Bolsa Família. Skavurska!
Só tem uma coisa: a iniciativa privada só amplia a banda larga se houver perspectiva de lucro. Quando não há, cabe ao Estado dar o pontapé inicial, igual aconteceu com as ferrovias e estradas.
O governo brasileiro começou a se mexer nessa direção, mas naquele ritmo de governo. Em 2009, concebeu o Plano Nacional de Banda Larga, que prevê um investimento de R$ 15 bilhões para financiar uma infraestrutura de internet rápida – coisa que o governo americano também estuda fazer e que outros países, como a Coreia do Sul, já fizeram, com resultados ótimos. A ideia aqui é ter 90 milhões de pontos de acesso por banda larga até 2014, cobrindo o país inteiro. O problema: era para começar em 2010, mas já falam em empurrar para 2011.
Se nada for feito, seja pela iniciativa privada, seja pelo Estado, todos perdem. O progresso de qualquer país agora passa pela estrada digital. E não podemos ficar pela margem, só pedindo carona.
Porcentagem da população com Internet de alta velocidade
1º Coreia do Sul – 97%
2º Suíça – 90%
3º Noruega – 84%
4º Holanda – 83%
15º EUA – 75%
53º Brasil – 19%