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Escuridão em pleno dia

O Hemisfério Sul prepara-se para ver um dos mais longos eclipses totais do Sol - no dia 11 de julho de 1991, ele começa no Havaí, ao nascer do Sol, e estende-se até o Brasil, no final da tarde.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 30 abr 1991, 22h00

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Banhads pela luz do Sol, planetas e satélites projetam grandes cones de sombra que se perdem na escuridão do vácuo. Vez por outra, no entanto, um astro penetra na zona sombreada por outro e ocasiona um eclipse do Sol, fenômeno que no passado assustava tanto quanto encantava as pessoas. Um fenômeno como esse, de duração particularmente longa, acontecerá no dia 11 de julho deste ano. Nessa data, logo pela manhã, a sombra da Lua tocará a Terra num ponto precioso, situado no meio do Oceano Pacífico, a 480 quilômetros a sudoeste da Ilha do Havaí. Então à medida que a Terra desloca-se no espaço, a sombra avançará sobre a água por quatro minutos e 30 segundos, até alcançar a terra firma, fazendo anoitecer, em primeiro lugar, nas praias havaianas. Em mais um minuto, a ilha inteira estará coberta pela gigantesca oval de escuridão, que terá uma largura de 222 quilômetros e um comprimento de 621 quilômetros.

No total, o fenômeno vai durar um pouco menos de quatro horas, ou cerca de 110 minutos. Mas, em cada local, devido ao avanço da sombra e à diferença de fusos horários, ele será visto numa hora diferente do dia. Em Brasília, por exemplo, o eclipse não ocorrerá pela manhã, mas sim à tarde: começa às 16h53 e termina às 18h41. Além disso, em locais como São Paulo, seu final não poderá ser visto, pois o eclipse tem início às 16h57 e acaba, em princípio, às 18h39, quando já será noite. Portanto, essa cidade terá o curioso privilégio de ver o ocaso de um meio Sol, pois quando o astro-rei se puder, às 17h35, ainda estará em boa parte coberto pela Lua.

Naturalmente, o eclipse total só será visto nos países localizados exatamente na linha de movimento da sombra lunar – Havaí, México, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Paraná, Colômbia e Região Norte do Brasil. Nesses lugares, o tempo de encobrimento do disco solar será de seis minutos, em média. Já nos países situados à margem do trajeto da sombra, as pessoas poderão ver uma parcela maior ou menos do disco solar – como se pudessem olhar por cima, por baixo, ou pelos lados La Lua. Assim, em Brasília, o Sol será coberto quase por inteiro, em até 92% do seu disco. Isso vai acontecer quando o Sol estiver bem próximo da linha do horizonte. Mas em Belém, que ficará um pouco ao largo da faixa de sombra, a Lua, em nenhum momento, cobrirá mais que 71% do disco. Em São Paulo, a ocultação máxima será de 69%.

Numa corrida sensacional, inúmeros cientistas tentarão acompanhar a marcha da sombra por avião, procurando ficar o maior tempo possível do dela. Não será fácil abscoitar o grande prêmio, porém, já que a sombra é um azougue supersônico – terá velocidade média de 25600 quilômetros horários. Nenhum avião e capaz de tamanha proeza, difícil de superar mesmo quando o movimento cai bem abaixo da média, para cerca de 3000 quilômetros horários. Mas, se o aparelho for bastante veloz, poderá ampliar consideravelmente o período em que o eclipse é total.

Em 1973, por exemplo, o Concorde 001 francês registrou 73 minutos de eclipse total. Para isso, voou a 2019 quilômetros a hora, mais de uma vez e meia a velocidade do som. Este ano, a Força Aérea dos Estados Unidos pretende quebrar esse recorde com uma aeronave de reconhecimento capaz de chegar a 2570 quilômetros por hora, isto é, quase duas vezes a velocidade do som. Em terra firme, o ponto privilegiado para observações será a cidade de Tepic, a 240 quilômetros da capital mexicana. Isso porque aí se encontra o centro do eclipse, localizado na metade do trajeto da sombra sobre a superfície da Terra. A Cidade do México, com seus 25 milhões de habitantes, será a maior metrópole a ver o eclipse total, inclusive com uma das maiores durações, seis minutos e 39 segundos. A cidade de São Domingos, em Goiás, será o último centro habitado, dentro da faixa de totalidade, a ver o eclipse.

Os eclipses são raros momentos em que se podem avistar as estrelas e planetas durante o dia: o céu fica cintilante como se fosse o crepúsculo. A ocasião não poderia ser melhor, já que, nessa época, o planeta Vênus estará se aproximando de seu brilho máximo, que ocorrerá no dia 17 de julho, seis dias após o eclipse. Mas já no dia 11, visível a leste do Sol, ele será o objeto celeste mais brilhante do céu, com magnitude – 4,6. Isso quer dizer que o planeta estará, então, quinze vezes mais brilhante que Sírius, a estrela mais reluzente do céu. Júpiter também aparecerá bem grande, com brilho igual ao de Sírus, e será visto na Constelação de Câncer, perto de Mercúrio. Cerca de cinco vezes mais brilhante que Sírius, Mercúrio estará, então, a quatro dias de sua conjunção com Júpiter; isto é, os dois planetas estarão praticamente colado um no outro. Nessa mesma região do céu, ainda que menos fulgurante, também estará Marte.

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Quem tiver chance de fazer essas observações numa região de eclipse total deverá tomar cuidados especiais – as radiações solares, em situações extremas podem levar à perda completa da visão. Basta, no entanto, interpor diante dos olhos um vidro esfumaçado por fuligem de vela, um negativo de filme fotográfico velado, ou um pedaço escuro de radiografia. Os binóculos, lunetas ou telescópios propiciam um espetáculo muito mias atraente, mas as lentes concentram os raios do Sol, com maiores riscos à retina. É mais simples e seguro fazer observações indiretas.

Deve-se apontar o instrumento para o Sol, mas, no lugar do olho, colocar um anteparo, como uma cartolina branca, sobre a qual forma-se a imagem do eclipse. Muitos preferem cobrir as lentes com filtros especiais, o que certamente produz melhores imagens, mas é mais seguro, pois há registro de acidentes mesmo com essa proteção. Outra saída é usar um helicóptero de Herschel, um prisma em forma de lâmina que se adapta à ocular das lunetas e telescópios. Ele obscurece a luz e espalha outros tipos de radiação solar, papel semelhante, portanto, ao dos filtros. Mas, embora mais caro, o helicóptero não se quebra tão facilmente como esses últimos.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo e membro da União Astronômica internacional.

Eventos do mês

Constelações

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O mapa do céu mostra inúmeras constelações, mesmo aquelas que não estão visíveis (veja abaixo). As constelações que podem ser vistas até as 20h do dia 15 são as seguintes: Virgem, Cães de Caça, Ursa Maior, Lince, Câncer, Corvo, Hidra Fêmea, Pomba, Cão Maior, Vela, Carina, Popa, Pintor, Retículo, Peixe Voador, Hidra Macho, Oitante, Ave do Paraíso, Pavão, Altar, Triângulo Austral, Compasso, Telescópio, Sagitário, Escorpião, Lobo, Libra, Ofiúco, Serpente, Bolero.

Meteoros

Este mês é extremamente propício para a observação de meteoros. No dia 6, os Eta Aquarídeos irradiam-se em máxima atividade a partir da Constelação de Aquário. Caem em grande número, a uma taxa que alcança até 40 meteoros por hora, muito acima da média das outras chuvas de meteoros. Amarelados e rápidos, os Eta Aquarídeos deixam bonitos rastros luminosos em sua passagem que ocorrerá de madrugada, por volta das 4h. no dia 18, à mesma hora, será a vez dos Beta Coroa Aquarídeos, cuja taxa horária, menor qe a dos anteriores, chega a 12 meteoros. Têm brilho fraco. Dia 23, no entanto, os Alfa Escorpionídeos, com radiante em Antares, caem à taxa de 20 meteoros, por volta da 3h da manhã. E, no dia seguinte, os Sagitários caíram com taxa de 10 meteoros, às 4h30.

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Fases da Lua

A Lua entra em quarto minguante dia 6, às 21h46; a fase de Lua nova tem início dia 14, à 1h36; quando crescente, dia 20, às 16h46; e a Lua cheia, dia 28, às 8h37. A luz cinzenta da Lua será visível dias 14 e 16.

Planetas

Mercúrio: visível ao amanhecer, durante todo o mês, com magnitude +0,6 (quando menor a magnitude, maior o brilho; Sírius, a estrela mais brilhante, tem magnitude -1,6). No dia 2, estará ao norte da Lua.

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Vênus: aparece ao anoitecer, como uma magnífica jóia, com magnitude -3,7. No dia 17, estará ao sul da Lua.

Marte: procurá-lo entre Gêmeos e Câncer, dia 22, logo após o pôr-do-sol (magnitude +1,7). Dia 18, estará ao sul da Lua.

Júpiter: visível em Câncer durante quase toda a noite (magnitude -1,5). Dia 19, estará ao sul da Lua.

Saturno: aparece logo antes de o Sol nascer, em Capricórnio (magnitude +0,8). Dia 6, estará ao norte da Lua.

Urano: visível com luneta, em Sargítário, logo antes de o Sol nascer (magnitude +6,0). Dias 4 e 31 estará ao sul da Lua.

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Netuno: visível com luneta, em Sagitário, no momento em que o Sol despontar (magnitude +7,7). Dias 4 e 31, estará ao sul da Lua.

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