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Estrategista de Novas Tecnologias da IBM, Daniel Jue

O caçador de novas tecnologias da IBM diz que as empresas que mantiverem seus projetos em sigilo não terão sucesso no futuro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 31 jan 2002, 22h00

Rafael Kenski

Daniel Jue tem apenas 29 anos e um dos empregos mais divertidos do mundo. Estrategista de Novas Tecnologias da IBM, esse americano viaja por países como Itália, China, Índia e Estados Unidos em busca das invenções mais promissoras que puder encontrar. Quando se depara com algo interessante, ele põe a nova tecnologia em seu site, o Alphaworks (www.alphaworks.ibm.com) e mostra para qualquer empresa que queira vê-la – inclusive as concorrentes da IBM. “Não adianta manter esses projetos em sigilo. É preciso que eles tenham padrões abertos para se integrarem com outras tecnologias”, diz Jue, um cientista político formado pela Universidade da CalifórniaDavis, que testa e brinca com essas tecnologias com outros “desenvolvedores” até achar alguma utilidade para elas. “Cerca de 40% do material que entra no site termina sendo aproveitado em algum produto”, diz Jue, que conversou com a Super em dezembro, em meio a um seminário em São Paulo.

Super – Qual é a tecnologia mais legal que você já encontrou?

Trabalhamos com diversos produtos divertidos, mas um dos melhores é o techmobile. É um carro que equipamos com as nossas melhores tecnologias, para mostrar do que elas são capazes. Os faróis, os vidros e até a ignição podem ser comandados pela internet. Muitos sistemas – como travas e som – respondem a comandos de voz. O automóvel também checa se o motorista está dormindo e dispara um alarme para acordá-lo. Dá até para dirigi-lo utilizando um relógio de pulso equipado com o sistema operacional Linux – algo semelhante ao que o agente secreto James Bond faz quando precisa fugir em seus filmes.

Por que vocês divulgam essas tecnologias num site acessível para qualquer um?

Para levar os produtos mais rapidamente ao mercado. A IBM gasta, somente em pesquisa, cerca de 6 bilhões de dólares por ano. Apenas 10% desse montante se transforma em algum produto que dá dinheiro. Muitos dos laboratórios não sabem o que fazer com as tecnologias que desenvolvem. Um exemplo é uma tecnologia, que acabamos de ver na Califórnia, chamada personal area network (rede pessoal). É um equipamento do tamanho de um cartão de crédito que utiliza o fluxo de sangue do corpo humano para criar um campo magnético ao redor da pessoa que o usa. Se duas pessoas estiverem usando esse aparelho, uma pode transferir informação para a outra apenas encostando no corpo dela. Essa tecnologia está na IBM há três anos e agora precisamos descobrir para que ela serve. Nós a colocamos na página do site, apresentamos para outros desenvolvedores e eles nos ajudam a adiantar as pesquisas e a divulgar o produto.

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Não é arriscado mostrar os segredos tecnológicos para os concorrentes?

No futuro, todas as pesquisas precisarão ser mais abertas. A tendência é que os diferentes sistemas usados em cada empresa, loja ou banco possam se integrar, trocar informações e ser controlados por um único aplicativo. As pessoas também não carregarão grandes computadores, mas aparelhos pequenos capazes de se comunicar com qualquer outro dispositivo. A maioria dos supercomputadores não serão máquinas gigantescas e caras e sim um sistema que interligue diversos computadores e os faça funcionar em conjunto. Para que ocorram essas integrações, os equipamentos precisarão utilizar uma linguagem que todos entendam – e isso só será possível se os desenvolvedores conhecerem os códigos das outras empresas. É por isso que defendemos padrões abertos. Companhias que man- tiverem os seus produtos em sigilo poderão até atingir sucesso, mas terão um alcance limitado daqui a alguns anos, quando os computadores estiverem presentes em todos os lugares, até mesmo na roupa.

O que faz uma tecnologia ser aceita no mercado?

Na verdade, não sabemos. Às vezes, tecnologias muito boas não são aceitas. Um bom exemplo é o T-spaces, um produto que está no site há três anos. Ele permite que um aparelho se comunique com qualquer outro. Nós o usamos no nosso carro, o techmobile, para que o volante converse com o relógio. Eu também o instalei em casa. A minha geladeira possui um laser no lugar onde fica o leite. Quando o nível de bebida dentro da garrafa fica abaixo do feixe de luz, a geladeira manda um sinal para o T-spaces que se conecta à internet e pede que uma distribuidora me mande mais leite. O sistema era muito interessante, mas deixou de funcionar porque o leiteiro foi à falência. O mercado ainda não estava preparado para ele. Existem diferenças entre as tecnologias que são muito legais e as que causam rupturas. Os produtos revolucionários são mais simples e resolvem apenas um problema, mas são os que dão dinheiro. O que fazemos no Alphaworks é entrar em contato com o mercado para saber que tecnologias trazem soluções ou mudam a forma como as pessoas vivem. A única maneira de saber isso é descobrir como elas funcionam no mundo real.

Como a tecnologia pode mudar o relacionamento entre as pessoas?

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Ela já modificou muita coisa. É quase impossível imaginar a vida moderna sem o e-mail ou o telefone celular. As pessoas querem, hoje, mais informação, rápida e acessível. E também querem que ela seja inteligente e forneça apenas os dados que elas desejam. Estamos caminhando nessa direção com novos sistemas que organizam as informações de uma forma mais inteligente.

Você poderia dar um exemplo…

É o caso da linguagem de programação XML. É uma tecnologia que existe há algum tempo na IBM, se desenvolveu com o Alphaworks e, em breve, se tornará dominante na internet. Há três anos eu estava em Tóquio e um cliente me pediu um programa que entendesse XML. Eu nunca tinha ouvido falar daquilo e quase todos na IBM também não. Pesquisei, achei legal e coloquei o software na internet. Da noite para o dia, mais de 10 000 pessoas pegaram o programa e 3 000 pediram para licenciá-lo. Em breve, ele se tornará obrigatório para as empresas que lidam com uma grande quantidade de dados. É uma linguagem que organiza as informações e as qualifica, tornando-as mais acessíveis. Se a aplicar em um texto, você pode descrever as frases e indicar se são sarcásticas ou irônicas. Funciona muito bem com tradutores eletrônicos, que, hoje em dia, têm apenas 60% de precisão. Com o XML conseguimos traduzir textos com 70% ou 80% de acerto e se as frases forem descritas em detalhe, até mesmo 90%. Ele pode também ser usado em pequenos processadores embutidos em telefones: quando uma pessoa fala em português, ele traduz automaticamente para o inglês ou qualquer outra língua, com a mesma voz de quem está falando. É como se ela soubesse falar o outro idioma.

O jeito de desenvolver tecnologias muda de lugar para lugar?

Todos os pesquisadores são muito criativos, o que muda são os problemas que eles tentam resolver. Na China, por exemplo, é muito difícil digitar com tantas letras no alfabeto; então, os pesquisadores buscam novos meios de escrever em chinês no computador. Gostei muito do Brasil. Vocês possuem muitas áreas diferentes e interessantes que podem colocá-los à frente das novas tecnologias. Por exemplo: muitas pessoas aqui têm telefone celular. Quando as tecnologias sem fio se desenvolverem a ponto de ocupar todos os espaços, vocês estarão prontos para utilizá-las. O Brasil pode não ter ainda uma infra-estrutura desse porte – e, na verdade, poucos países no mundo a têm – mas ele possui a atitude. Às vezes, um país conta com todos os sistemas, mas eles não funcionam porque as pessoas não estão prontas para usá-los. O Brasil está pronto.

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Frase

“Os supercomputadores não serão máquinas gigantescas e caras, mas pequenos aparelhos capazes de se comunicar com qualquer outra máquina”

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