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Estrela bailarina e seu possível planeta

Ela fica na Constelação do Pégaso e está se movendo para frente e para trás. Sinal de que há um mundo desconhecido à sua volta. Mas será que ele existe mesmo?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 31 dez 1995, 22h00

Augusto Damineli Neto

Em uma notícia sensacional no mês de agosto passado os astrônomos suíços Michel Mayor e Dideri Queloz, do Observatório de Genebra, anunciaram a descoberta de um novo planeta fora do sistema solar. Quer dizer, um candidato a planeta: ainda estamos longe, muito longe de uma prova definitiva. Mas aí é que está a graça da investigação científica. Você vai ver aqui que as pistas encontradas por Mayor e Queloz são muito fortes. E também vai entender porque elas são só pistas e não provas. Antes de mais nada vamos ver como seria esse novo planeta. Os cálculos indicam que ele está girando em torno da estrela 51 do Pégaso, que fica a cerca de 42 anos-luz da Terra (1 ano-luz mede 9,5 trilhões de quilômetros). É parecidíssima com o Sol. Ela tem um diâmetro de 600 000 quilômetros, e ele, de 700 000. Ela e ele têm cor amarela e uma temperatura, na superfície, na casa dos 5 000 graus Celsius.

O candidato a planeta por sua vez é um inferno. Mayor e Queloz avaliam que sua massa é 150 vezes maior que a da Terra. Quase a metade da massa de Júpiter, o gigante do sistema solar. O mais importante, porém é que o novo mundo circula a apenas 7 milhões de quilômetros da 51 do Pégaso, distância dez vezes menor que a do Sol a Mercúrio, o mais próximo dos planetas daqui. Então, se existir mesmo, o novo planeta deve receber 100 vezes mais energia luminosa do que Mercúrio. Um vendaval de luz capaz de varrer até o último resíduo de gás que escape do planeta. Há muito o que varrer. Porque a força gravitacional da estrela, muito próxima, tende a “rasgar” o planeta. No mínimo causa violento atrito entre as rochas profundas, com conseqüências monumentais: imensos terremotos, fendas na superfície e erupções vulcânicas.

A luz, então, empurra para longe o gás e a poeira ejetados pelos vulcões e fendas, formando duas longas caudas. Exatamente como as dos cometas. O quadro, enfim, é surreal. O mundo de 51 do Pégaso seria um cometa quente, enquanto os verdadeiros cometas são gelados. E ao contrário de Júpiter, que é gasoso, deve ser rocha pura. Um lugar muito mais escaldante que Mercúrio. Durante o dia, ou seja do lado voltado para a luz, o calor chega a 1 000 graus Celsius, e derreteria qualquer metal, formando lagos incandescentes. À noite, do lado do espaço escuro e gelado, os lagos endurecem. Viram placas sólidas de estanho, ferro, ouro. Já dá para apostar que nenhum organismo se adaptaria por lá. Tudo isso é possível deduzir com certa segurança a partir da técnica usada pelos astrônomos. Ela é baseada num efeito que você conhece muito bem, de assistir uma corrida de fórmula 1. Lembra do ruído estridente que os carros fazem quando estão se aproximando das cabines de televisão? É sempre assim: quando o carro está se aproximando o barulho fica bem agudo. Depois que ele passa o barulho fica mais grave. Nem precisa olhar para a tela. Até de olho fechado dá para saber se o carro está indo ou vindo. Isso vale para o som e vale também para a luz, apesar de ser mais sutil. Se uma estrela está se aproximando da Terra fica mais azulada, se está se afastando fica mais avermelhada.

Foi isso que os suíços viram na 51 do Pégaso. A cada quatro dias e cinco horas mais ou menos, a estrela mudava um pouquinho de cor, ora puxando para o azul, ora para o vermelho. Os astrônomos concluíram que ela estava andando num círculo, indo e vindo como numa pista de fórmula 1, a 250 quilômetros por hora. Mas as estrelas não são carros de corrida. A lógica, então, obriga a pensar que existe um planeta por perto puxando a estrela com sua força gravitacional. Daí para frente as contas foram relativamente simples pois se baseiam nas leis do inglês Isaac Newton, usadas para calcular as órbitas dos planetas do sistema solar. Por meio delas se achou o tamanho e a distância do hipotético planeta.

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A técnica da mudança de cor das estrelas é fantástica. Ela revela a existência de corpos celestes totalmente invisíveis que influenciam gravitacionalmente outros corpos, visíveis. A técnica funciona mesmo quando os astros observados estão em outras galáxias. O problema é que nunca dá resultados definitivos. Em astronomia, certeza mesmo só se tem por meio de uma imagem. As pistas da mudança de cor, portanto, têm que ser checadas. A 51 do Pégaso, por exemplo, poderia estar se expandindo e se contraindo periodicamente. Isso faria sua cor mudar. Não é o que está acontecendo, ao que tudo indica. Mas sem a prova definitiva – uma imagem do planeta – não podemos bater o martelo e dizer que ele existe. Ou seja, vem aí uma emocionante rodada de investigações adicionais.

Augusto Damineli Neto é doutor em Astrofísica pelo Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo

Muito perto do inferno

A força da estrela provoca atrito nas rochas internas do planeta, criando terremotos e erupções vulcânicas freqüentes. Gás e poeira escapam e são empurrados pelo vendaval de luz, dando ao planeta duas caudas. Tudo isso porque ele estaria muito perto, a 7 milhões de quilômetros. Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, fica dez vezes mais longe.

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