Há quanto tempo o Cosmo explodiu?
Para a ciência, descobrir a idade exata do Universo é fundamental para entender como ele funciona
João Steiner
Quando eu comecei a estudar Astrofísica, no início da década de 70, nós, estudantes, costumávamos brincar com a idade do Universo. Os valores oscilavam entre 10 bilhões e 20 bilhões de anos e dizíamos que entre um número e outro cada um podia escolher o valor que mais lhe agradasse.
Essa história começou em 1929, com a descoberta do americano Edwin Hubble de que o Universo estava se expandindo. Com isso surgiu a idéia de sua origem – o momento em que teve início a expansão. As primeiras medições revelaram um Universo espantosamente jovem: 2 bilhões de anos. Como a Terra e o Sol têm idade superior a isso, ficou uma contradição que só foi resolvida na década de 50. É que havia um erro na distância estimada das galáxias, e isso, é claro, afeta nossos cálculos sobre o tempo durante o qual elas vêm se afastando. Ou seja, durante o qual elas vêm se expandindo.
Feita a correção, adotou-se o valor de 20 bilhões de anos, que era uma idade confortável, uma vez que as estrelas mais velhas da Galáxia teriam entre 14 e 16 bilhões de anos. Há pouco mais de dois anos, o Telescópio Espacial Hubble passou a determinar a distância de galáxias com maior precisão. As primeiras medições provocaram certo alarme, pois davam uns 8 bilhões de anos para o Cosmo. Alguns chegaram a pensar que a própria teoria do Big Bang, que explica a origem do Universo, pudesse estar errada.
De lá para cá, porém, novas medições indicaram que o número tende a convergir para 12 bilhões de anos, muito mais razoável. Ao mesmo tempo, o satélite europeu Hipparcos mediu as distâncias de milhares de estrelas com precisão cem vezes maior do que a que se conseguia até então. Como resultado, a idade estimada das estrelas mais velhas da galáxia baixou de até 16 bilhões para 13 bilhões de anos.
A contradição persiste e a chave do problema pode estar nas incertezas que afetam as nossas medições, que atualmente são da ordem de uns 2 bilhões de anos. Parece muito, mas é o suficiente para acomodar as teorias do Bing Bang e da formação das galáxias.
Como astrofísico, eu me sinto entre impaciente e constrangido com o fato de não termos chegado a medições mais precisas e coerentes. Depois de tanto tempo e esforço, era de se esperar resultado mais conclusivo, embora seja preciso ver, também, que medir a distância de galáxias que estão a bilhões de anos-luz não é mesmo tarefa fácil (um ano-luz mede 9,5 trilhões de quilômetros). E, como a idade do Universo é um número fundamental para todos nós, não tenho dúvida de que a ciência vai determiná-lo nos próximos anos, com alto grau de confiança. Enquanto isso, os estudantes de Astrofísica certamente continuarão se divertindo.
João Steiner é professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP e vice-presidente do Projeto Gemini